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filocriatividade | filosofia e criatividade

oficinas de filosofia e de criatividade, para crianças, jovens e adultos / formação para professores e educadores (CCPFC) / mediação da leitura e do diálogo / cafés filosóficos / #filocri

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01 de Fevereiro, 2017

Walter Kohan: "que nunca subestimemos ou pensemos que compreendemos absolutamente uma pergunta de uma criança"

joana rita sousa

Conheci o trabalho do Walter Kohan através da Rita Pedro - que conheci no II Encontro Sentir Pensamentos | Pensar Sentidos, que eu e a Celeste Machado organizámos em 2013. Tive a oportunidade de estar com o Walter num encontro promovido pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Não houve muito tempo para conversarmos mas, mais uma vez, a tecnologia superou a distância e bastou uma mensagem no facebook para o Walter se disponibilizar a participar neste desafio de perguntas & respostas à volta da filosofia para crianças. Tal como o Tomás Magalhães Carneiro, o Walter utiliza a expressão filosofia com crianças. E explica-nos sumariamente o porquê. 

 

*

 

Walter Kohan conheceu a filosofia para crianças em 1992,  na Universidade de Buenos Aires, onde trabalhava, em 1992. Foi um cartaz que convocava uma reunião aos interessados em “filosofia para crianças”que chamou a sua atenção. "Depois dessa reunião fizemos um curso de formação em Buenos Aires e logo organizamos um grupo… já em 1993 Lipman e Sharp visitaram Buenos Aires, estavamos traduzindo o programa, encontrando-nos para fazer experiências, iniciamos um projeto de pesquisa… eramos um grupo entusiasta!", confessa Walter.

Sobre a necessidade da filosofia para crianças nas escolas, Walter alerta para a força da palavra "necessidade", dizendo que “Necessário é uma palavra um pouco forte… se a filosofia funciona bem, acho que pode ser um espaço muito importante na educação das crianças… mas necessário talvez seja exagerado… eu preferiria que esteja a que não esteja, claro…"

 

Por que havemos de levar a filosofia para as escolas? "Por que ela quando praticada com sentido é um espaço que ajuda na experiência de um tempo propriamente infantil, não sujeito tanto ao relógio mas a uma experiência de pensamento que pode ajudar a ter uma relação mais interessante com o que se faz na escola, com os outros colegas e consigo mesmo…"

 

Walter, o que faz com que uma pergunta seja uma questão filosófica – do ponto de vista da fpc? "Eu não sei se há um “ponto de vista de fpc”… até preferia que não houvesse… a filosofia é algo plural e há sempre pontos de vista nela… a partir do meu, penso que a filosofia não está nas perguntas mas na relação que estabelecemos com elas… uma pergunta aparentemente muito filosófica como “o que é o tempo?” pode ser tratada de maneira pouco filosófica e outras aparentemente menos filosóficas podem desencadear um torrente de pensamentos… de modo que a filosofia é algo vivo que se desperta numa relação com as perguntas, com as palavras…" 

 

Filosofia para ou com crianças?

 

"Eu prefiro pensar em filosofar com crianças do que em filosofia para crianças… há muito escrito sobre isto, mas para dize-lo rapidamente: prefiro o verbo e o infinitivo ao substantivo e uma preposição que indica horizontalidade e interioridade ao contrário… um dos principais desafios do filosofar é de fato ser um espaço problematizador dos modos de vidas contemporaneous e abrir possibilidades para novos modos de vida, alternativos… oferecer um tempo para poder problematizar o que estamos sendo…"

Podes dar alguns conselhos aos professores e aos pais para os ajudar a lidar com as perguntas das crianças? "Não sei se são conselhos mas eu diria que a coisa mais interessante que se pode fazer com uma pergunta de uma criança poucas vezes é responde-la… e que nunca subestimemos ou pensemos que compreendemos absolutamente uma pergunta de uma criança… e que nos demos sempre tempo de pensar essa pergunta, a nós e a elas… e que vejamos nelas oportunidades de nos pensar a nos mesmos… e a nossa relação com a infância…"

 Walter confessa que já se surpreendeu muitas vezes com as perguntas dos mais novos: "Tenho escrito sobre várias delas… quando não esperas alguma perguntas em particular toda pergunta te surpreende… acho isso bonito: ser surpreendido… gosto disso e trabalho para isso: a surpresa, como a filosofia, não está nas perguntas mas no que fazemos com elas… então depende muito de nós esperar as perguntas e nos surpreender com elas… acho bonito deixar-se surpreender, eis algo mais que eu diria para “lidar” com as perguntas das crianças…"

 

 

walter kohan.jpg

 

notas:

as expressões a bold são da minha responsabilidade  

fpc = filosofia para crianças

fcc = filosofia com crianças