A Rita (Kit Literário - Books for Kids) tem estado a partilhar um desafio no instagram, a #cromoterapialiteraria. Aos domingos a Rita apresenta uma cor e desafia-nos a desarrumar prateleiras para agrupar livros com essa cor.
As minhas escolhas em tons de AZUL são:
🔷 Vou ali e já venho - sobre migrações e comichões
(um livro para o qual tive o gosto de colaborar)
🔷 Why must I go to school?
(aí por casa alguém conhece os vídeos A Grande Descoberta?)
🔷 O pai da mamãe
(um livro que me chegou através do Kit Literário)
🔷 A máquina dos Ses
(um livro que me inspira muito nas oficinas de filosofia)
🔷Pimpa
(um clássico lipmaniano da filosofia para crianças)
🔷 Fim? isto não acaba assim
(um livro sobre começos... ou fins?)
🔷 Cá dentro
(um livro para miúdos e graúdos!)
🔷 Museu do Pensamento
(um livro que me acompanhou numa das últimas oficinas de filosofia, online)
🟦 Há mais livros de capa azul, cá em casa. Há outros que só têm lombada azul. Há azuis que não parecem azuis. E começam as perguntas na minha cabeça!
- a propósito de uma conversa com a Rita, do Kit Literário
no dia 19 de outubro estive no instagram a conversar com a Rita, do Kit Literário. o tópico da conversa era a palavra NÃO e sentei-me para pensar um pouco sobre o papel que o NÃO tem nas nossas vidas.
A propósito de um convite da Rita para um live no instagram dei por mim a reflectir sobre a palavra NÃO. Esse era o tema do mês de Outubro do Kit Literário.
Sentei-me para pensar na importância do NÃO no âmbito do meu trabalho, nas oficinas de filosofia que dinamizo, para crianças, jovens e adultos. Dei por mim a pensar nos NÃO da minha vida, confesso.
Criei um mind map em torno do NÃO e desenhei algumas ideias que nortearam a minha conversa com a Rita, que poderá rever aqui e que resolvi resumir neste texto.
O NÃO, só porque sim
Para apreciar a importância do NÃO e o seu papel num diálogo ou numa conversa, há que atender ao contexto. Portanto, quando me perguntam “O NÃO é importante?” é natural que eu vá responder “depende” e daí comece a derivar situações em que é importante e outras em que não é assim tão importante.
Um NÃO repetido automaticamente, sem reflexão e sem uma razão para existir é um NÃO que não acrescenta valor ao que está a ser dito. Isto vale também para uma das minhas palavras preferidas, o PORQUÊ, que de nada vale se for repetido sem uma justificação. Que sentido tem o meu NÃO ou o NÃO do outro? Estou a dizer NÃO ao quê? E que razões apresento para o meu NÃO?
Com o NÃO também se aprende
O NÃO tem um papel importante na aprendizagem. Por vezes é mais didáctico começar por explicar a alguém o que X não é, do que começar com aquilo que X é.
Do ponto de vista da criança, o adulto tem mais experiência e consegue ver claramente algumas coisas que pode transmitir à criança.
Sou muito fã de que a criança experimente coisas e possa depois avaliar por si se gosta ou se NÃO gosta, se quer ou se NÃO gosta. Mas não se aplica a tudo: perante um forno quente eu vou dizer à Rafaela, de 3 anos, que não pode colocar lá a mão. Perante uma oficina de filosofia ou um livro recomendo que a criança experimente para depois decidir se quer lá voltar ou NÃO.
O NÃO sei
Dizer NÃO SEI é um momento fundamental para podermos construir conhecimento. No contexto de uma oficina de filosofia é um momento que inaugura o “Queres saber? Pergunta.” Ou “Não sabes. Olha eu também não sei. E se fossemos investigar em conjunto?”
A escola não oferece muito espaço para uma resposta “não sei”, pois é encarado como uma falta de inteligência ou de aplicação por parte do aluno. Por outro lado, não se espera que o professor diga “não sei”, pois é suposto que saiba tudo para poder transmitir aos alunos.
Há uns anos conversei com um pai sobre o seu sentimento ambíguo perante o facto do filho se ter revelado uma criança mais perguntadeira. O filho estava a frequentar as oficinas de filosofia há 3 meses e tinha começado a praticar o perguntar em casa: “Sabe, Joana, eu gosto que ele faça perguntas. É importante ter curiosidade. Mas por outro lado tenho receio que o meu filho me faça perguntas às quais não sei responder. E eu sou o pai, eu deveria saber.”
NÃO, o pai (ou a mãe) NÃO sabe tudo. Não tem sequer esse dever. Pode é aproveitar esse NÃO SEI partilhado para partir para uma investigação em conjunto. Pegar num livro, pesquisar na internet, fazer perguntas, ir a um museu – há muitas formas de perseguir esse NÃO SEI e ver se podemos transformar para um “AGORA JÁ SEI”.
O ainda NÃO
Este NÃO que é o AINDA NÃO é uma boa forma de treinar a espera. “Posso fazer X?” – AINDA NÃO. Esperar é algo que se pode treinar e este NÃO ajuda a experimentar a paciência.
Recomendo olhar para os AINDA NÃO quando estamos a traçar objectivos na nossa vida. A criança quer muito aprender a andar a cavalo. Pode não ser possível para a família levá-la às aulas, organizar-se logisticamente ou até ter fundos para suportar as aulas. Neste último caso o AINDA NÃO pode acontecer fisicamente, sob a forma de um mealheiro onde se vai colocando dinheiro para poder depois marcar a aula.
Sou praticante desde AINDA NÃO no âmbito da literacia financeira e faço mealheiros para fins específicos, como comprar livros. E o “NÃO tenho aquele livro” passa a um “AINDA NÃO tenho aquele livro. Faltam-me X euros para o comprar.”
O NÃO enquanto compromisso
A par do SIM, o NÃO é um compromisso. É uma afirmação que rejeita X ou Y. É importante dizer NÃO. Há alguns livros que falam até do poder do NÃO e sublinho a sua importância quando temos de estabelecer limites ou fazer escolhas. Isto é válido para miúdos e para graúdos.
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E por aí? O que pensa sobre o NÃO?
Qual foi o NÃO mais importante que teve de dizer a alguém?
as regras do jogo pandémico mudaram para se ajustar à realidade que vivemos e voltámos a confinar. assim, as oficinas presenciais que tinha agendadas para o final de janeiro foram canceladas.
continuo com actividades online, sabendo que andamos todos um pouco cansados do écran. espero conseguir encontrar quem desse lado está disponível para praticar o filosofar, ainda que de forma online, com todas as saudades que já temos das acções presenciais, de não ter de medir os metros que nos separam.
em tempos de confinamento, o écran permite-nos trabalhar, aprender, ensinar, celebrar aniversários e até jantar com amigos. e filosofar!
nos próximos tempos há actividades para todas as idades, em formato online:
- as oficinas de filosofia para crianças dos 7 aos 12 anos (oficina do Platão) - 23 de Janeiro, 6 e 20 de Fevereiro,
- as oficinas para jovens dos 13 aos 17 anos (philoTEEN) - 23 de Janeiro e 13 de Fevereiro,
- os cafés filosóficos, em parceria com a Bertrand Livreiros (o próximo é já no dia 25 de janeiro),
- a #FilosofiaAoVivo (no instagram) - Leibniz é o convidado do dia 29 de Janeiro,
- o #ClubeDePerguntas, que aceita novos membros no início de cada mês,
nunca é demais agradecer aos parceiros, aos amigos, aos seguidores, aos subscritores e a todos vós que partilham os contéudos #filocri, que subscrevem a newsletter e assim dão um apoio essencial ao projecto filocriatividade. muito obrigada!
Convido os leitores deste espaço a reflectir comigo: o que nos chama a atenção num livro? O que nos faz abrir o livro e não o querer abandonar?
Faça a mesma reflexão imaginando que é uma criança: o que é que leva uma criança a reparar num livro? A querer agarrá-lo? A querer viajar pelo livro fora?
Que livro escolher?
Na minha prática de oficinas de filosofia, para crianças e jovens, o livro é um recurso que faz parte do meu leque de escolhas para provocar o pensamento. É comum ter professores e educadores a pedir-me recomendações de livros, pois pretendem escolher um “bom livro”.
O que acabo por fazer é indicar o livro X ou Y, por já conhecer e ter alguma experiência de trabalho com ele. Dei por mim a pensar e a perguntar: que características têm os livros (ou álbuns) permitem a prática da leitura [activa], do olhar [percepcionar] e do pensar [sentir]?
Assim surgiu a reflexão que hoje partilho convosco, aqui no espaço do PNL2027.
A curiosidade
Seja pela palavra ou pela ilustração, há livros que nos aguçam a curiosidade e que nos motivam a querer virar as páginas por querermos saber o que vem a seguir, o que aconteceu depois ou que desafio enfrentou o personagem (ou personagens).
A ampliação (do pensamento)
Por ampliação do pensamento entendo aquilo que nos permite ver além do nosso ponto de vista inicial.
Por vezes esta ampliação exige um olhar de cima (como se fossemos um helicóptero ou um drone), ou o movimento de recuar no pensamento, para ver a big picture. Pensar é movimento!
A tensão (ou conflito)
As histórias com textura são aquelas que apresentam uma tensão ou um conflito.
Cumprem com os passos básicos do storytelling (que agora está tão na moda):
- era uma vez...
- todos os dias...
- até que um dia...
- então...
- e viveram felizes (será?) para sempre (hummm...).
O que nos atrai na história é a tensão, o conflito, o problema. E isso pode motivar-nos a pensar o "como resolveria essa situação no lugar de..." e a colocar hipóteses "e se...?".
Seja nos livros, seja na nossa vida, os obstáculos e os problemas são algo que dão que pensar.
Os filósofos são os fãs #1 de problemas, tal como os cientistas.
A incerteza
Quando começamos a ler o livro há uma incerteza primeira que é a de não sabermos como acaba a história.
E quando o livro não nos diz como é que a história acaba?
E se não estivermos sequer a falar de um livro, mas de uma proposta como a Wonder Ponder?
A actividade (do leitor)
Um livro filosoficamente provocador convoca um leitor activo, que coloca hipóteses, que quer saber mais, que tem interesse e algo a dizer sobre o que está a ver, a ler ou a sentir.
Entendo por possibilidades o facto do livro não se fechar numa única forma de ver o mundo ou até mesmo por apresentar diversidade de abordagens, de pontos de vista.
Outro ponto interessante é o facto do livro se prestar a diferentes leituras em momentos diferentes. Praticar a leitura do mesmo, de forma diferente: eis uma riqueza.
A provocação
“Carefully selected picturebooks are particulary suited as provocations for philosophical work with abstract concepts (…)” (Karin Murris, The posthuman child, pp. 204-206)
A investigadora Karin Murris sublinha a desorientação, a incerteza, a dissonância e o desacordo acerca do significado, elementos que permitem e incentivam professores e alunos a construir significados e conhecimento, em colaboração.
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Espero que esta reflexão tenha ajudado os leitores a pensar sobre os livros que os rodeiam: serão filosoficamente provocadores?
A proposta deste ciclo de leituras passa por fazer uma leitura partilhada e acompanhada de um texto de um filósofo ou de uma filósofa, tendo como premissa não saber quem é o autor. A filósofa de serviço, Joana Rita Sousa, irá selecionar alguns excertos de textos de filósofos ou de filósofas para que possamos ler, sem o contexto e sem o “ismo” associado ao filósofo.
No primeiro encontro será partilhado o texto com os participantes, para leitura. Serão eliminadas as referências ao autor ou ao título da obra. Iremos começar a abordagem ao texto, a partir de uma proposta da formadora.
No segundo encontro iremos partilhar as leituras de cada um dos participantes e seleccionar uma pergunta.
No terceiro encontro faremos um diálogo filosófico a partir da pergunta seleccionada pelo grupo no segundo encontro.
Este ciclo está pensado para pessoas que pretendam aprender e praticar metodologias de leitura, compreensão e problematização do texto filosófico. Não serão exigidos conhecimentos prévios de filosofia.
Os encontros acontecem através de sessões online, através da plataforma Zoom, e síncronas. Haverá acompanhamento assíncrono para o qual utilizaremos a plataforma Google Classroom.
Não está prevista avaliação durante o curso.
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Formadora: Joana Rita Sousa é formadora na área da criatividade; consultora na área da estratégia digital. É filósofa e colecionadora de perguntas.
Dizer que não concordamos com aquela pessoa que não é nossa amiga é típico nos grupos de crianças. O Pedro diz que concorda com a Margarida pelo facto de serem amigos. E que não concorda com o Rafael, pois não são amigos.
Ora, quando aprofundamos as ideias do Pedro e do Rafael verificamos que a ideia é muito parecida, senão mesmo igual, mas dita por outras palavras. Não é estranho que o Pedro diga o mesmo que o Rafael mas diga que não concorda com ele?
Oficina online sobre filosofia e criatividade, para arrumar as ideias – e os dias.
Neste workshop, o primeiro desafio passa por parar para pensar. Segue-se a partilha de algumas técnicas que se podem transformar em hábitos e mudar o teu dia-a-dia. A filosofia e a criatividade seguem a teu lado para te munir de ferramentas simples e provocadoras ajudando na gestão do teu tempo.
- oficina: a arte de fazer perguntas - parceria com a Bertrand Livreiros
A pergunta é a porta de entrada para tantas coisas na nossa vida. Quando conhecemos alguém pela primeira vez perguntamos: “Como se chama?”. Depois segue-se o “Como está?” e a conversa de circunstância que começa com perguntas.
No quotidiano precisamos de perguntas para trabalhar, para estudar, para nos relacionarmos com os outros à nossa volta. Como fazer perguntas simples? O que fazer para tornar as perguntas mais claras?
Nesta oficina vamos praticar a pergunta, exercitando o pensamento crítico e o pensamento criativo, bem como o pensamento colaborativo.
A quem se destina? A entrada é permitida a quem quer perguntar.
Tópicos:
O que é uma pergunta?
Como perguntar de forma simples?
O que torna uma pergunta clara e distinta?
O que pergunta uma pergunta?
Autores de referência: René Descartes, Platão, Edward de Bono, Robert Fisher
Duração: 10h (6h síncronas + 4h assíncronas)
Funcionamento da oficina: Haverá sessões online, via zoom e síncronas, para a parte mais teórica da formação e para permitir o pensamento colaborativo e trabalho em grupo.
Também vamos trabalhar colaborativamente através da Google drive, havendo acompanhamento de trabalho através da Google classroom.
Sobre a formadora:
Joana Rita Sousa é filósofa, formadora e mestre em filosofia para crianças. Trabalha na área da filosofia aplicada desde 2008.
Calendário:
1.ª sessão síncrona 2h – 19 de Outubro, segunda, 18h30/20h30
2.ª sessão assíncrona 2h
3.ª sessão síncrona 2h – 2 de Novembro, segunda, 18h30/20h30
4.ª sessão assíncrona 2h
5.ª sessão síncrona 2h – 16 de Novembro, segunda, 18h30/20h30