Dizer que não concordamos com aquela pessoa que não é nossa amiga é típico nos grupos de crianças. O Pedro diz que concorda com a Margarida pelo facto de serem amigos. E que não concorda com o Rafael, pois não são amigos.
Ora, quando aprofundamos as ideias do Pedro e do Rafael verificamos que a ideia é muito parecida, senão mesmo igual, mas dita por outras palavras. Não é estranho que o Pedro diga o mesmo que o Rafael mas diga que não concorda com ele?
voltámos a visitar o jardim de infância, na companhia da criançada d'as Bolinhas de Sabão e d'a Tenda Mágica.
com as Bolinhas de Sabão continuaram as interrogações em torno do livro Balbúrdia. afinal, o que tinha acontecido naquela história? como é que é possível que os brinquedos tenham ido atrás do menino?
"eles têm vida, joana", respondeu um dos meninos. "eles quem?", perguntei.
"os brinquedos transformam-se em robots, ganham vida e vão atrás do menino" - esta foi uma hipótese levantada por uma das crianças. tentámos investigar se isso acontece com os brinquedos lá de casa, se já alguma vez se transformaram e ganham vida. uma das crianças respondeu que não, pois "os brinquedos lá em casa estão arrumados".
outra hipótese levantada para explicar que os brinquedos tivessem ido atrás do menino, para a rua foi haver uma bola que tivesse começado a rodar e, por isso, andava.
na sala da Tenda Mágica continuamos a explorar as diferentes linhas de pensamento. dedicámos a nossa oficina ao chapéu vermelho, das emoções. há meninos que associam o vermelho à raiva, por causa do livro "o monstro das cores". aproveitámos para falar que há vários códigos e que nos chapéus o vermelho não é só a raiva, é tudo aquilo que podemos sentir: alegria, cansaço, felicidade, tristeza ou até aborrecimento.
quando falámos do sentir, surgiu a pergunta: como é que sentimos? as ideias foram que podemos sentir com a pele, com o coração. "com o corpo todo", disse um dos meninos. e a partir daí investigámos o seguinte: como é que sabemos o que está dentro do nosso corpo, se não conseguimos ver?
nesta oficina começámos por falar do papel do chefe da sala: o que faz? quais são as suas tarefas? descobrimos que o chefe da sala usa muitas vezes o chapéu azul, aquele que nos ajuda a organizar as tarefas e os pensamentos.
desta forma recuperámos o que já tínhamos visto sobre os seis chapéus coloridos que nos ajudam a pensar, a organizar o pensamento.
Bolinhas de Sabão
na companhia das Bolinhas de Sabão foi tempo de descobrir o livro Balbúrdia, publicado na Pato Lógico. o exercício foi simples, ainda que difícil: página a página vamos experimentar PERGUNTAR uma coisa sobre o que vemos ou DIZER uma coisa sobre o que vemos. as cartolinas coloridas ajudam-nos a anunciar o que vamos fazer e a ganhar consciência do pensamento. depois temos de ver se efectivamente o que dizemos é uma pergunta ou é dizer uma coisa.
na primeira visita às salas Bolinhas de Sabão e Tenda Mágica levei na mochila meia dúzia de cartolinas às cores e meia dúzia de chapéus coloridos.
Bolinhas de Sabão
nas Bolinhas de Sabão o plano acabou por ficar mesmo na mochila pois eu cheguei atrasada devido a um acidente e pedi desculpas ao grupo por isso. ainda que eu tivesse tentado recuperar o tema do mistério para introduzir os mistérios coloridos, o G. levantou o dedo para perguntar:
"joana, o que é que tu disseste logo quando entraste?"
pois é: o G. queria falar do acidente. e assim foi, não só o G. falou sobre acidentes, como o grupo e por isso estivemos a investigar o que são acidentes e por que razão acontecem.
no final apresentei os mistérios coloridos para alimentar a curiosidade da criançada.
Tenda Mágica
"joana, já não vinhas cá há muito tempo!" - é verdade, passou um mês desde a última visita da filosofia na Tenda Mágica. e aconteceu muita coisa desde então: o natal, o ano novo, os reis.
levei a mochila para o centro da roda para ir tirando coelhos da cartola, perdão, chapéus às cores da mochila.
depois do trabalho sobre o livro "em que estás a pensar?" e os desenhos sobre os pensamentos que estão na nossa cabeça, chegou a hora de conhecer uns chapéus especiais que nos ajudam a pensar de forma mais clara.
"hoje vamos conhecer uma espécie de código para nos ajudar a pensar!" - disse. "o que é um código?", perguntou o D., abrindo a conversa para começarmos a falar dos códigos que já conhecemos (por exemplo, os sinais de trânsito, o verde e o vermelho para atravessar a passadeira). após essa invesigação, começámos a falar de cada um dos chapéus e do que significam.
na próxima oficina vamos continuar este trabalho de "pensar pensamentos às cores".
na nossa última visita à sala do jardim de infância, em dezembro de 2019, continuámos os nossos trabalhos.
na sala das bolinhas de sabão o mistério (?) permanece misterioso e suscita curiosidade e diálogo.
na sala da tenda mágica fizemos um trabalho diferente do habitual: não estivemos "só" a pensar, também demos largas à nossa criatividade e procurámos "imitar" o que acontece no livro "em que pensas tu?". estivemos a desenhar aquilo em que estávamos a pensar.
depois de desenhar, cada um dos pequenos filósofos teve a oportunidade de dizer o que estava no desenho. eis algumas das respostas:
não sei
uma playstation 4
uma pessoa
uma praia
é uma prenda
um arco-íris
um peixe do mar
um camelo
um homem mau
uma batata palhaço
uma estátuta com uma batata
um sol e uma árvore
o meu pai e a minha mãe
uma tromba e pintei a cabeça e havia um caldeirão
um cabelo e um arco íris e uma aranha
uma menina
um super herói
uma árvore
estamos quase de volta ao jardim de infância, para continuarmos os nossos diálogos.
este livro, em que pensas tu?, é um dos meus preferidos dos últimos tempos. pela forma e pelo contéudo: página após página vamos descobrindo o que se passa na cabeça das diferentes personagens. faz parte da minha mochila quando trabalho no jardim de infância, pois há um encanto visível no rosto dos mais pequenos ao descobrir as "portinhas" que nos levam para dentro da cabeça da Ana ou do Luciano (personagens do livro).
hoje o livro foi apresentado na sala dos mais novos (3 e 4 anos): estivemos a ler o livro e a descobrir o que acontecia dentro da cabeça das pessoas que estão no livro.
já na sala dos 4 e 5 anos o trabalho foi outro: um dos meninos não tinha estado presente quando lemos a história, numa das oficinas anteriores, e pediu que falássemos do livro. assim foi: os amigos foram dizendo aquilo do qual se lembravam e acabámos por abrir algumas das páginas para nos ajudar a lembrar melhor.
no final, surgiu a pergunta, que foi feita a cada uma das pessoas que estava na sala:
se houvesse uma portinha para espreitar a cabeça da/o [nome da criança], o que é que eu ia ver lá dentro?
algumas das respostas:
- nada
- não sei
- um leão
- um tigre
- um elefante
- comidas
- playstation 4
- fantasma **
na próxima oficina vamos continuar o desafio de pensar o que está dentro da nossa cabeça.
ainda hoje dizia a pequena D. que este é um livro sobre sentimentos (e esta observação fez-me pensar: sentimentos que pensamos ou pensamentos que sentimos?).
** o fantasma criou alguns problemas, pois há meninos que dizem que não existe. é algo que vamos recuperar numa das próximas oficinas.
Outubro marcou o regresso às salas do Jardim de Infância, com a filosofia "às costas". na mochila levei dois livros que acabaram por não ser abordados no primeiro dia. porquê? bom, as crianças receberam-me com... perguntas!
bolinhas de sabão
na sala dos 3 / 4 anos a curiosidade à minha volta era muita: "quem és tu?" e "o que é que estás aqui a fazer?" - foram as perguntas que mais ouvi e ainda nem me tinha sentado na manta. depois de ocuparmos o nosso lugar no círculo, fizemos as apresentações e trabalhámos o que é isso de fazer uma pergunta. um tema que serve muito bem ao primeiro contacto das crianças com a filosofia, pois isto de perguntar e de dizer confunde-se, por vezes.
tenda mágica
na sala dos 4 / 5 anos conheci caras novas e revi caras conhecidas. as crianças estão muito crescidas e foi surpreendente ver como se lembram de tantas coisas do ano lectivo passado.
sabem o que investigámos? a magia. pois é, esta é a sala da tenda mágica e estamos todos muito intrigados com a magia que pode existir naquela tenda. vamos investigar o assunto e na próxima oficina trocamos ideias.
e não é que o ano lectivo está quase, quase a acabar? quando olhamos para o início, para os primeiros momentos com estes dois grupos do jardim de infância, começamos a tomar consciência do caminho que fizemos até aqui, juntos.
e com o tempo...
é verdade: o difícil torna-se fácil. hoje temos mais coragem para colocar o dedo no ar e partilhar um ideia. hoje sabemos que o porquê está sempre a acontecer na filosofia. hoje a caixa da imaginação é estranha e mágica. hoje temos mais flexibilidade no pensamento e mais consciência do que nos faz mudar de ideias.
fizemos progressos, devagar, devagarinho - na filosofia não temos pressa. e não temos receio de dar um passo atrás, para seguir caminho: o ritmo dos grupos é próprio, até porque cada grupo é constituído por mini-'ssoas que têm, cada uma delas, o seu próprio ritmo.
*
se pretende que as oficinas de filosofia aconteçam no seu jardim de infância, contacte-me via e-mail: info@joanarita.eu - podemos agendar uma oficina pontual, temática, para dar a "experimentar" um bocadinho da filosofia!
para acompanhar o trabalho no jardim de infância 2018/2019:
"joana, isso não bate certo! a M. é da equipa do SIM
e diz q não gosta de estar sozinha?"
o que significa estar sozinha, do ponto de vista de uma crianças de 4 ou 5 anos?
o conceito de "estar sozinha" passa muito por
1) estar às escuras ou
2) estar num sítio onde não há um adulto presente, mesmo que haja outra criança ou
3) ir para a cama dormir
esta conversa fez-me viajar a uma das primeiras oficinas de filosofia com esta sala. estava sentada na manta com este grupo e a educadora saiu da sala, de seguida a auxiliar foi até à porta e deixou de estar visível para o grupo (ela estava na sala, mas a porta não permitia que o grupo a visse). um dos pimpolhos exclamou: "joana, ficámos sozinhos!" ou seja, estar sozinho é estar sem o adulto que habitualmente supervisiona e garante os cuidados. e sim, eu sou adulta, mas ali eu fui entendida como alguém que pertencia ao grupo das crianças.
para acompanhar o trabalho no jardim de infância 2018/2019:
two weeks ago, we had a meeting with the little boys and girls from the kindergarten, and it was all about what we call "the thinking game".
we're trying to figure out which things require thinking about, and which don't.
while visiting the stories on the book "Em que pensas tu?" (What are you thinking about?), I learned that, if I want to play Hide&Seek, I have to think very hard.
I asked "why?" and the answer was:
"Joana, you are bigger then us, you have to think about a better place to hide, you have more body to cover up. we're smaller and can find an easier place to hide."