o Peter Worley pertence à The Philosophy Foundation e tem bastante trabalho publicado na área da filosofia (para crianças e jovens). este é um dos seus livros que me acompanha na construção de jogos e de propostas para filosofar. já tinha a versão original e fiquei bastante contente com a decisão das Edições 70 em publicar a tradução portuguesa.
A Contradição Humana - Afonso Cruz, editorial Caminho
para mim, enquanto leitora, os livros do Afonso Cruz são sinónimo de provocação. enquanto facilitadora de oficinas de filosofia (para crianças e jovens), o sentimento é o mesmo. A Contradição Humana é um livro com várias histórias, que podem ser trabalhadas individualmente, pelo grande grupo. também podemos dividir o grande grupo em grupos mais pequenos e cada um trabalha uma história, para partilha posterior.
as possibilidades de trabalho são várias e o processo pode ser uma verdadeira descoberta de contradições que nos fazem humanos (demasiado humanos?).
29 histórias disparatadas - Ursula Wolfel e Neus Bruguera, Kalandraka
foi o título que me chamou a atenção para este livro. histórias disparatadas parece-me provocador, em si mesmo. ao abrir o livro confirmei a minha intuição: que delícia de livro! não quero ser spoiler, por isso não vou contar os disparates das histórias. digo apenas que dão que pensar.
A Grande Questão - Wolf Erlbruch, Bruaá Editora
o que mais gosto neste livro? não tem perguntas e chama-se "a grande questão". é bom para fazer um exercício de "rewind": que pergunta pode ter dado origem a esta resposta? qual é, afinal, a grande questão?
Uma Mesa é uma Mesa. Será? - Isabel Martins e Madalena Matoso, Planeta Tangerina
este livro apresenta-nos uma diversidade de perspectivas sobre um objecto tão comum como uma mesa. afinal, o que é uma mesa? o que pode ser?
O livro negro das cores - Menena Cottin e Rosana Faría, Bruaá Editora
o título fala por si. a descoberta deste livro, por parte das crianças, é uma experiência que vale a pena.
O Livro da Avó - Luís Silva, Edições Afrontamento
não são muitos os livros infantis que eu conheço que falam da morte e o livro da avó consegue fazer isso de uma forma belíssima.
A história que acaba bem, a história que acaba assim-assim, a história que acaba mal - Marco Taylor
o Marco Taylor provoca-nos a escolher o final de uma mesma história. dá mesmo muito que pensar este "acaba bem", este "acaba mal" e o assim-assim. estou com muita vontade de trabalhar este livro (ou este 3 em 1) em oficina de filosofia. já estou a preparar oficinas nesse sentido.
O dia em que os lápis desistiram - Drew Daywalt e Oliver Jeffers, Orfeu Negro
há já alguns anos que este livro me acompanha. recordo-me de uma oficina de filosofia em que fizemos a leitura do livro, eu e uma turma de 2.º e 3.º anos do 1.º ciclo e a conversa durou várias semanas. o que aconteceria se os nossos lápis de cor desistissem? que razões apresentam eles para desistir: são razões válidas?
O que vês, o que vejo - Inês Marques e Madalena Moniz
este livro não será propriamente um livro, no sentido clássico do termo. encontrei-o por acaso, pois a edição foi limitada. trata-se de um livro que permite uma abordagem diferente da própria leitura e que ajuda a responder e a experienciar a pergunta: quantas formas há para ler um livro?
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[para as famílias] sugestão de trabalho a partir de um livro:
- leitura partilhada do livro: cada pessoa lê uma página do livro, por exemplo;
- no momento seguinte, cada uma das pessoas da família constrói um mapa mental da história. os mind maps - tal como Tony Buzan os concebe - devem ter desenhos e símbolos, pelo que se recomenda a prática do "dar asas à imaginação".
nota: vão precisar de folhas lisas (A3 ou A4) e de lápis de cor ou canetas de feltro.
depois de terem os mapas mentais individuais, podem partilhar com todos, para ver quantas perspectivas sobre a história existem.
os livros infantis são um recurso que levo comigo para as oficinas de filosofia, para crianças e jovens.
é comum usar os livros infantis no trabalho de bastidores, ou seja, são o suporte para me ajudar a criar jogos ou provocações filosóficas para os grupos com os quais vou trabalhar - e nem chego a partilhar o livro com a criançada. noutras ocasiões, é a leitura partilhada do livro que serve de ponto de partida para o diálogo.
nota: esta lista será sempre um pouco injusta e o mais certo é voltar a escrever sobre o assunto, sugerindo mais livros, num outro artigo.
10 livros que são trampolins para diálogos sumarentos
Em que pensas tu? - Laurent Moreau - editora O Bichinho de Conto
não fosse a #covid19pt e o trabalho iniciado a partir deste livro teria conhecido continuidade. dei conta de alguns momentos aqui mesmo neste blog.
O que fazer com um problema? - Kobi Yamada e Mae Besom - editora Zero a Oito
um dos livros que me acompanha na reflexão e preparação das oficinas, mas que ainda não levei para a sala, para partilhar com a criançada.
Com o tempo - Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso - editora Planeta Tangerina
partilhei aqui no blog um exercício com mapas mentais e que tem este livro como base. podem (re)visitar o artigo aqui mesmo.
Balbúrdia - Teresa Cortez - editora Pato Lógico
este era o livro que estava a acompanhar o trabalho do ano lectivo 2019/2020 na sala dos 3/4 anos onde estava a trabalhar. a #covid19pt deixou-nos o trabalho da Balbúrdia a meio.
Grande coisa - William Bee - editora Planeta Tangerina
este é um dos livros que tem servido de apoio para a criação de jogos, de propostas para pensar com a pequenada. ainda não o levei para a sala - é egoísta da minha parte, não é?
Museu do Pensamento - Joana Bértholo, Pedro Semeano e Susana Diniz - editora Caminho
Agora! - Tracey Corderoy e Tim Warnes - editora Minutos de Leitura (dos mesmos autores, Porquê? e Não!)
esta colecção é muito provocadora para os mais novos: os livros são grandes e têm ilustrações muito apelativas. depois há a empatia que se cria com o Rodrigo e as suas atribulações diárias, em família. o "Porquê" tem sido uma companhia constante no meu trabalho com grupos do jardim de infância.
O Monstro das Cores - Annalennas - editora Nuvem de Letras
confesso que gosto particularmente da versão pop up deste livro, que capta a atenção dos mais pequenos.
Se eu fosse... - Richard Zimler - Porto Editora
este livro é inspirador para proporcionar uma momento para nos conhecermos e nos apresentarmos, em grupo. já faz parte da prateleira cá de casa há algum tempo e também tem lugar cativo na mochila que me acompanha nos trabalhos da filosofia.
[alguns destes recursos não são livros (ou serão?), mas fica a recomendação] WonderPonder - Ellen Duthie e Daniela Martagón
as caixas WonderPonder já me acompanham há algum tempo, nos mais diversos contextos: em sala do 1.º ciclo, no festival de filosofia de Abrantes e também nos diálogos filosóficos com os mais crescidos. as imagens são provocadoras e é difícil ficar indiferente. é difícil não fazer perguntas perante estas propostas de filosofia visual.
NOTA: na editora Dinalivro é possível encontrar uma colecção de Oscar Brenifier e Aurelien Débat dedicada à filosofia para crianças. o mesmo acontece na Edicare.
"então... basta ter o livro certo para que o diálogo filosófico aconteça?"
não, não basta ter o livro "certo", nem o exercício filosófico validado pelos investigadores da área. até que o grupo com o qual trabalhamos se torne autónomo e maduro, o trabalho do facilitador é FUNDAMENTAL para que a prática da filosofia aconteça.
a meu ver, estas deverão ser as motivações de quem embarca na tarefa de facilitar ou orientar um diálogo filosófico:
1) a necessidade de aprofundamento filosófico;
2) a necessidade de manter o foco do diálogo e da investigação em curso;
3) o conhecimento e a aplicação de ferramentas de questionamento, de forma a que sejam apropriadas pelos participantes; e
4) a promoção de momentos em que os participantes pensem sobre o pensamento em si (o seu e o dos outros).
é muito bom voltar a colaborar com o Gerador, um projecto que me permitiu tomar café com pessoas que fazem parte da cena cultural portuguesa. durante algum tempo entrevistei (ou melhor, conversei com) pessoas na rubrica Café Central, para a revista Gerador.
recentemente fui convidada para fazer parte da Academia Gerador, onde a filosofia e a criatividade marcam presença com uma oficina para famílias.
Filosofia e criatividade na gestão do tempo
oficina online sobre filosofia e criatividade, para arrumar as ideias – e os dias.
nos dias de hoje a fronteira entre o trabalho, a escola e a família revela-se uma linha muito ténue. precisamos de nos organizar para fazer a gestão quase simultânea de todas estas dimensões.
e se o pudermos fazer de forma criativa e divertida? há muitas técnicas de criatividade que nos podem ajudar no dia-a-dia, seja no contexto profissional ou pessoal.
neste workshop recomendado para ser feito em família, todos vão ficar a conhecer algumas ferramentas que ajudam na gestão de tempo.
de forma prática e simples, por aqui aprende-se a arrumar ideias e os nossos dias.
- oficinas de filosofia para famílias com crianças entre os 4 e os 6 anos
- Jardim da Filosofia - filosofia para famílias com crianças entre os 4 e os 6 anos 04 de julho, sábado, 14h30 às 15h30 [para professores, educadores, bibliotecários e agentes educativos - 6,5€ por família]
inscrições limitadas | solicite informações preenchendo este formulário
quando pensei nestes desafios, idealizei uma situação de "one-to-one": eu e outra pessoa. até que surgiu uma família de seis pessoas interessada em participar no #filopenpal, de forma colectiva. ora, pareceu-me uma excelente ideia.
desta forma, o #filopenpal revela-se um espaço de diálogo e de partilha, entre pais e filhos, que devem depois chegar a um consenso para me dar resposta (ou dar perguntas!) ao desafio que eu envio (através de e-mail e google drive).
hoje seguiram os desafios: para a semana há troca de respostas e de perguntas. darei conta destas aventuras aqui pelo blog!
se pretender subscrever este serviço 100% online, pf envie-me um e-mail: joana@filosofiaparacriancas.pt
na semana passada houve filosofia no jardim de infância: para miúdos e graúdos. estive nas salas Bolinhas de Sabão e Tenda Mágica, para dar continuidade ao trabalho que temos vindo a fazer e, além disso, estive a filosofar com os mais crescidos, numa oficina que se chamava mesmo: "filosofia para gente crescida".
“Se calhar devíamos ter começado logo por dizer o que é uma pessoa, escusávamos de ter andado aqui às voltas”, dizia-me o pai no final da oficina de filosofia, para crianças. A pergunta que ali nos levou era “o que é uma pessoa?” e o exercício proposto passou por olhar à volta e identificar se haveria pessoas na sala e depois “arrumar” uma série de imagens de “coisas” que podiam ou não ser pessoas. Exemplos: um robot, um bebé, o super-homem, o desenho de uma pessoa (feito por uma crianças de 5 anos) e um cão chamado Félix.
À medida que as imagens iam sendo olhadas e pensadas pelo grupo, começou a sentir-se alguma dificuldade em opinar de forma definitiva sobre o cão, que por acaso é o meu. Várias foram as características apontadas pelas crianças – com idades entre os 7 e os 10 anos – que apontavam que o Félix não é uma pessoa. Mas um dos meninos não abandonou a sua ideia, de que o Félix é uma pessoa e quisemos ouvir os seus argumentos. Estes foram fortes, de tal forma que fizeram duas pessoas mudar de ideias. Os pais presentes na oficina assistiam ao diálogo, evitando falar sobre o assunto. Parecia-lhes tão óbvio “isso” de ser uma pessoa que a discussão em torno do tema começava a incomodar.
“Nunca tinha pensado nisso”, dizia-me uma mãe. Nisso?, perguntei. “Sim, nisso do que é ser uma pessoa. Não costumo pensar nessas coisas, dessa maneira. Achei muito interessante.” E, se me permitem dizer, é mesmo muito interessante, isso de propor perguntas a um grupo de crianças e de perceber que sentido têm as coisas para elas. Sem preconceitos, sem ideias feitas. Escutar e dialogar sobre isso, pelo prazer de parar para pensar.
Quando o tal pai me disse que tinha sido melhor começar por dizer o que é uma pessoa, respondi-lhe que isso seria matar o processo de pensamento , de descoberta e de investigação. O senhor estava nitidamente incomodado com o facto de ali se dizer que o Félix, um cão, podia ser uma pessoa. De tal forma que isso o terá impedido de usufruir do momento de pensar.
Curioso é o facto de, em grupos mais novos, o Félix ser rapidamente “arrumado” na gaveta “não é uma pessoa”. E as crianças argumentam facilmente, pelas diferenças que encontram, por exemplo em relação a um ser humano. Já os mais velhos tendem sempre a considerar que é uma pessoa, pela humanidade que encontram no fiel amigo.
Entre o dizer e o perguntar – e no qual a filosofia para crianças diz respeito – eu opto por perguntar, sem saber muitas vezes as respostas que vou encontrar.
E se me perguntarem, fora da oficina de filosofia, se o Félix é uma pessoa, digo sem hesitar: SIM. É uma pessoa e muito humana.
nos passados dias 24 e 25 de janeiro estive em Faro, a convite da Biblioteca Municipal , para realizar oficinas no 1.º ciclo e oficinas para as famílias. pelo meio houve ainda uma formação introdutória à filosofia para crianças, destinada a professores, educadores, pais e agentes educativos.
o que é uma pergunta?
na oficina do 3.º ano estivemos a investigar "o que é uma pergunta?", procurando os critérios que fazem com que uma frase seja uma pergunta.
no final, uma das alunas disse: "quando vi o jogo pensei que ia ser fácil: é só ler uma frase e dizer. mas depois às vezes acaba por ser difícil."
neste jogo apressento uma série de cartas com frases escritas. temos de dizer se o que lá está escrito é ou não uma pergunta.
o que faz com que uma frase seja uma pergunta? para este grupo, isso acontece quando queremos saber uma coisa, quando queremos ter a certeza de uma coisa que já sabemos, quando há um ponto de interrogação, quando queremos saber da vida.
"eu concordo com a G., mas também não concordo"
já no 4.º ano estivemos a filosofar a partir de uma das propostas WonderPonder. a imagem passou por todas as pessoas presentes na sala e depois fizemos perguntas sobre o que vimos. o passo seguinte foi o de tentar juntar perguntas, de verificar se havia temas onde podíamos arrumar as perguntas.
houve momentos muito interessantes, nomeadamente quando a M. afirmou que concordava com a G., mas também não concordava. ao mesmo tempo! - o que trouxe uma oportunidade para analisarmos as razões que suportavam o concordar e o não concordar e verificar se podiam seguir juntas ou se eram incompatíves.
outro momento interessante aconteceu quando o R. disse: "eu não concordo com a G., e desculpa G., pois não é nada contra ti, é mesmo só com a tua proposta." - este momento serviu para sublinhar que nestas oficinas estamos a trabalhar com as ideias uns dos outros e por isso dizer "não concordo" não deve ser entendido como um ataque pessoal, mas sim à ideia.
FILHOsofia: filosofia para as famílias
com as famílias e as crianças (entre os 4 e os 7 anos) estivemos a trabalhar em torno de um dos meus jogos preferidos: "o que é uma pessoa?". uma vez que este jogo tem como base imagens/fotografias torna-se apelativo para esta franja etária. o objectivo é arrumarmos aquilo que vemos nas folhas numa de duas gavetas imaginárias: a gaveta da pessoa e a gaveta de não é uma pessoa.
no final da oficina para as famílias, falámos sobre o jogo que estivemos a fazer:
"foi giro nas coisas que tentámos descobrir"
"foi divertido e muito difícil"
"não gostei porque foi muito difícil"
"ajuda a reflectir em muitas coisas"
"foi muito divertido ver o que as coisas eram"
"foi muito curioso ver a resposta deles [das crianças]"
os porquês da palavra porquê
houve ainda uma oficina de introdução à filosofia para crianças e jovens, onde foram partilhados recursos de trabalho, exemplos de oficinas que permitem ilustrar que o diálogo que se pretende neste contexto é algo mais do que uma simples conversa. exige compromisso com o que dizemos, exige não ter pressa e não saltar passos no processo do pensamento, exige tomar consciência do que é dito, exige escutar os outros. sim, é muito exigente e, ao mesmo tempo, muito divertido.