perguntar ou responder? que tal, perguntar e responder?
oficina de filosofia para famílias, na Malaposta

o contexto do livro ¿hay alguien aí?
o livro de Ellen Duthie é todo ele comporto por perguntas. estas foram lançadas pelos seres bíbopes que, tal como os seres humanos, são muito curiosos e querem muito fazer perguntas.
ora, como criar uma oficina de filosofia a partir de um livro cheio de perguntas?
antes de mais, li o livro atentamente para servir de guia à possibilidades de perguntas que se podem fazer sobre a humanidade. neste livro, surgem áreas temáticas também elas identificadas em termos de perguntas, por exemplo: como é a vossa relação com outros seres terrícolas? / os seres humanos são boas pessoas? / como é ser um ser humano? / como sabem aquil que sabem?
esta leitura atenta fez-me perceber que seriam muitas as áreas filosóficas que poderiam surgir neste diálogo caso o grupo decidisse ler algumas perguntas do livro para responder. ora, como me posso preparar para tudo?
não posso. como sou já uma facilitadora experiente e tenho formação na área da filosofia, não fiquei demasiado preocupada com esta questão. porém, recomendo que uma pessoa facilitadora que esteja a dar os primeiros passos invista tempo na preparação da oficina passe por uma preparação também ela filosófica, no sentido de nos dar uma noção dos conceitos, dos pensamentos que cada área apresenta.
recordo que o conteúdo filosófico, ou seja, o pensamento que outras pessoas filósofas já pensaram, não é o foco da oficina de filosofia. pretendemos que se pratique o filosofar durante a oficina. cabe à pessoa facilitadora estar preparada para reconhecer elementos filosóficos no diálogo.
pensei: hum, será que esta oficina de perguntas poderá transformar-se numa oficina de respostas? será que tem de acontecer assim?
pensar a oficina e a proposta de pensamento
talvez a oficina possa ser um perguntário e um respondário, no mesmo espaço e tempo. por esse motivo, fiz uns cartões com P (de pergunta) e R (de resposta) para que as pessoas participantes pudessem escolher o que queriam fazer. decidi não impor nem uma coisa nem a outra e deixar que as pessoas decidissem o que fazer, em conjunto.
o meu plano passava por começar a oficina com uma breve partilha do livro, contando que os seres bíbopes nos tinham visitado numa nave em forma de donut e que tinham deixado este perguntário dirigido aos seres humanos.
perguntário ou as perguntas que os seres humanos presentes numa certa oficina de filosofia para famílias fizeram sobre a humanidade
"o que podemos fazer? vamos ler as perguntas do perguntário sobre os seres humanos e dar respostas? ou vamos fazer o nosso perguntário sobre os seres humanos?" - perguntei.
uma das crianças disse: "penso que podemos fazer as duas coisas ao mesmo tempo, é o que costuma acontecer na filosofia." esta participante tem sido uma presença assídua nas minhas oficinas online e já tem alguma experiência em diálogos filosóficos. as outras pessoas na sala estavam a participar pela primeira vez num diálogo deste género.
as outras pessoas participantes concordaram com a ideia e foi aí que distribuí os cartões com P ou R para que pudessemos usar ao levantar o braço para falar.
a dinâmica aconteceu da seguinte forma: podíamos escollher P ou R, podíamos responder às perguntas uns dos outros, podíamos perguntar a partir das perguntas uns dos outros.
acabou por ser bastante orgânica a forma como lançámos perguntas, algumas sem relação entre si, movidos pela curiosidade. nalguns momentos, voltámos atrás nas perguntas para avançar com respostas ou dialogar sobre as mesmas.
eis algumas das perguntas do nosso perguntário, partilhadas pelas crianças e pelas pessoas adultas na sala:
porque é que não há máquinas para substituir o cérebro?
como é que a pele foi criada?
porque é que temos sentimentos e como?
de que é feita a água?
como é que o ser humano apareceu?
há algo de especial no ser humano?
quando pensamos em animais, pensamos no ser humano ou nos leões?
será que o leão sabe que é um leão?
será que nós sabemos que somos nós?
como é que o mundo apareceu?
quem foram os primeiros pais de tudo?
como é que o buraco negro apareceu se havia nada?
se não houver ninguém para ouvir um barulho, esse barulho existe?
dizer pessoa é o mesmo que dizer ser humano?
os Homens das cavernas eram pessoas?
qual foi o primeiro planeta de todos?
como é que os filhos podem ser pais?
há cães que têm uma profissão?
porque é que o livro tem um cão na capa?
há piadas que só nos fazem rir a nós e a mais ninguém?
curiosamente, estas perguntas variam entre questões sobre o mundo (na expressão de uma das crianças, do mundo planeta terra e do mundo universo) e sobre a origem das coisas. passámos algum tempo a tentar imaginar quem teria sido o primeiro ser de todos, no planeta terra.
se havia nada como é que começou a haver alguma coisa?
*
esta é uma das possibilidades de trabalho em oficina filosófica pontual (isto é, com um grupo com o qual não terei trabalho de continuidade) a partir do livro de Ellen Duthie.
se pretende mentoria para criar um projecto de filosofia para / com crianças a partir de recursos como este, contacte-me.
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