o que perguntam as crianças? que observações fazem?
- escutar as crianças nas oficinas #filocriatividade
Para assinalar o Dia Mundial da Criança, o Radar XS pediu-me algumas informações sobre as oficinas #filocriatividade, bem como algumas perguntas ou observações que as crianças e os jovens partilharam nessas mesmas oficinas.
o que são as oficinas #filocriatividade?
As oficinas #filocriatividade acontecem desde 2008 junto de crianças e jovens, do jardim-de-infância ao ensino secundário. O convite passa por criar um espaço e um tempo para parar, pensar em voz alta, escutar o pensamento das outras pessoas e dialogar.
Partimos de uma pergunta, de uma situação, de um texto, de um vídeo ou de outro recurso para dialogar filosoficamente. O diálogo funciona como um jogo com o qual as pessoas se comprometem a jogar. Como em todos os jogos, há regras e, neste caso, as pessoas que jogam também são convidadas a propor regras.
Podemos dialogar a partir de algo completamente quotidiano, como “És a favor ou contra da pizza com ananás?” ou a partir de algo quotidiano, mas um pouco mais profundo, a saber: “Se nós morremos, voltamos a nascer?”
Aquilo que acontece na oficina depende das propostas que levo comigo e também das sugestões das crianças. Em conjunto com crianças já criámos jogos como o Verdade ou Consequência da Filosofia, por exemplo. A partir do jogo que todos conhecem, adaptamos para a Filosofia.
sei que vou repetir-me, aqui vai: as crianças são seres pensantes
As crianças são seres pensantes e fazem uso da pergunta como chave para compreender o mundo.
As suas perguntas e observações são o reflexo da curiosidade perante aquilo que as rodeia, bem comoda forma como vão construindo ideias sobre o mundo.
Algumas pessoas adultas surpreendem-se muito com as perguntas e as observações das crianças talvez por pensarem que não têm idade para perguntar ou pensar sobre certas coisas.
Dialogar com crianças e jovens é uma boa forma de carregar a minha bateria de espanto. É um exercício de humildade e uma oportunidade para considerar as coisas de todos os dias sob outro ponto de vista.
Durante estes anos de diálogos fui registando muitas perguntas e observações que me convidam a parar para pensar. De 2008 até agora dinamizei cerca de 2100 oficinas, tendo trabalhado com cerca de 42000 crianças e jovens.
Partilho algumas perguntas e observações, convidando quem está aí desse lado a pensar a partir destas palavras.
Se nós morremos, voltamos a nascer?
Se eu não existir, não muda nada no mundo?
Se alguém aprende que 2+2= 5, como é que pode vir a saber que 2+2=4?
(Pergunta dirigida à morte) Porque é que matas tantas pessoas inocentes e deixas para trás os ladrões?
Todas as opiniões valem o mesmo?
Não é o cérebro que define a pessoa. Somos definidos pelo que está dentro de nós.
Discordar não é necessariamente algo mau, podemos aprender outros pontos de vista.
E se no futuro não houver futuro?
A tristeza faz de nós pessoas melhores. Não podemos ser sempre felizes, há altos e baixos.
Para que serve a guerra?
Para que serve a morte?
A morte serve para encorajar as pessoas a viver.
A morte serve para haver espaço para todas as pessoas viverem no Planeta Terra.
Como é que vamos saber se cada pessoa está a viver as emoções à sua
maneira?
Será que vamos todos falar a mesma língua?
As pessoas que votam, não sabem bem o que estão a fazer. Algumas sabem, outras não. Devia haver um teste para saber se temos informação para votar.
O que é a verdade?
Será que há alguma verdade absoluta com a qual toda a gente concorde?
O que leva uma opinião a parar de ser discutida?
O que nos leva a confiar na verdade de outra pessoa?
Como será viver num mundo sem regras?
Mas porque é que os números não acabam?
As perguntas servem para resolver problemas.
Como é que as opiniões dos outros nos influenciam?
Porque é que nós temos de ser pessoas e não podemos ser robots?
O que a vida quer de nós?
O que é que não é mercadoria?
De onde vêm as coisas?
Uma coisa é discordar da pizza levar ananás, outra é discordar que o ananás possa ser um ingrediente para a pizza.
Nota: as perguntas são registadas tal como são ditas, pelo que as frases podem não estar na sua versão gramatical perfeita.
As crianças tendem a dizer que a Filosofia é “uma maneira de ver as coisas”, “é uma coisa que está mal definida e temos de pensar melhor”, “é perguntas”, “é pensar pelo menos duas vezes antes de falar” e “é demorar muito tempo nas perguntas ou nos problemas”.