#filopenpal: a experiência de pai e filha no "vai e vem" da filosofia
o vai e vem da filosofia
o #filopenpal surgiu há uns anos. um pai que me segue no twitter tinha horários um pouco complicados e não conseguia arranjar maneira de levar o seu filho a uma das minhas oficinas de filosofia. "e se a filosofia fosse até aí a casa?"
e assim aconteceu: a filosofia viajou até casa do J., através de carta. nesta carta o J. encontrou um primeiro desafio filosófico que se foi construindo e desenrolando à medida das suas perguntas e respostas.
houve mais pessoas a juntar-se a este "vai e vem" da filosofia: a Sara Rodi chegou mesmo a partilhar no seu blog como foi receber a filosofia lá em casa, na caixa do correio.
desde então, o #filopenpal já desafiou crianças, jovens e adultos - e também famílias inteiras a parar para pensar.
da carta para a google drive: filosofar em família
algures em abril fui contactada por uma mãe para saber mais informações sobre o #filopenpal. foi nesse momento que surgiu a ideia de ter esta troca a acontecer na google drive, onde temos documentos colaborativos e oportunidade de ir acrescentando ficheiros ou fotografias.
a mãe C. não queria que os seus filhos fossem os únicos a filosofar: queria mesmo filosofar em família. confesso: até então só tinha trocado desafios com uma pessoa (criança, jovem ou adulto). acedi ao pedido com uma condição: que o desafio enviado por mim fosse trabalhado em família, que dialogassem, que trocassem pontos de vista e depois partilhassem comigo o resultado desse trabalho em grupo.
além do resultado importa sublinhar o processo:
Estamos todos entusiasmadíssimos! O desafio tem-nos feito pensar, tem aberto caminhos para grandes conversas e tem-nos ajudado a conhecermo-nos melhor uns aos outros!Divertimo-nos muito!
pai e filha a filosofar em plena pandemia
conheci o P. há alguns anos, num contexto pouco ou nada filosófico. mantivemos o contacto e o P. foi conhecendo o meu projecto filocriatividade e, de vez em quando, interagia com as minhas publicações. havia um interesse na filosofia e em filosofar. lembro-me bem que era um espectador assíduo da #FilosofiaAoVivo numa altura em que o confinamento não lhe permitia trabalhar.
um dia o P. perguntou pelo #filopenpal. expliquei como funcionava, que podíamos trabalhar através da google drive, definir um tempo de resposta. por norma, trocamos desafios de semana a semana, mas temos ajustado ao tempo do P. e da R. afinal, estes desafios devem ser saboreados e não vividos à pressa.
passo a palavra ao P. para falar da experiência:
Conheci a Joana fora do ambiente da filosofia, mas sempre fui um fã da sua abordagem da Filosofia descontraída e dirigida a todos.Sempre gostei da filosofia que aprendemos na escola, mas também me fui apercebendo que o que tirei destas aulas não foi mais que cultura geral sobre história da filosofia.Contudo, quando lia os posts da Joana nas redes sociais, via uma abordagem completamente diferente e muito mais interessante, ainda mais porque era dirigida maioritariamente às crianças. Era sobre estimular “´ssoas humanas” (nas suas palavras) a pensarem, refletirem, imaginarem, questionarem-se, debaterem ideias e opiniões.Adorava e queria isso também para a minha filha (e para mim também).Assim durante a pandemia decidi o que vinha a arrastar há imenso tempo. Começámos a trocar desafios através do #filopenpal e estamos a adorar.No início para a R. foi estranho, porque ninguém é habituado a pensar com liberdade e sobre coisas que vão aparecendo.Nunca sabemos qual é o desafio!Enquanto adulto, no início, tentava que ela fosse estruturando mais o pensamento, sobre uma determinada temática (à semelhança do que para mim era a “Filosofia"), mas aos poucos fui-me apercebendo que o divertido era mesmo ir descobrindo novos caminhos a partir das questões que a Joana nos faz. Pensar sobre eles, questionarmo-nos, debatermos ideias, pôr diversas questões em cima da mesa, falarmos.Hoje em dia quando digo “a Joana já respondeu ao mail” vamos logo os 2 ver qual é o próximo desafio e vamos pensando sobre ele. No dia que nos sentamos para responder é sempre um bom momento a dois. A R. às vezes hesita com algumas respostas, mas eu tenho tentado que ela ganhe confiança nelas mais do que tentar pôr-lhe uma resposta minha. Na verdade sei que do outro lado a Joana encontra sempre uma maneira de tornar os desafios super interessantes com o material que lhe damos.Acredito sinceramente que esta troca de correspondência tem sido e vai ser muito útil.Olho à minha volta e vejo muitas pessoas que têm medo de pensar, de ter uma opinião própria que por vezes contradiz a do outro. O inverso também acontece e também nos agarramos demasiado a opiniões e pensamentos que tantas vezes nos limitam em vez de estarmos abertos a outras perspectivas.Tem sido o meu contributo para que a R. e eu, eventualmente, possamos ser mais e melhores ’ssoas humanas.
desafios filosóficos
à distância, com a confiança na mediação do adulto ou de forma one to one com a criança e o jovem, procuro criar um tempo e um espaço para praticarmos o parar para pensar.
trabalhamos o pensamento crítico e também o criativo. o trabalho é, por si mesmo, colaborativo. só o primeiro momento é definido por mim: o desafio inicial. a partir daí a forma como desenrolamos os novelos do pensamento vai depender do que pai & filha, do que a criança ou o jovem, do que a família me der em troca.
neste desenho, o P. e a R. desenharam as "ideias a conversar". este momento aconteceu pois a R. mudou de ideias relativamente a um tema que estávamos a aprofundar.
humm como é que acontece isto de mudar de ideias?
será que as ideias conversam entre si?