faz diferença? sim, faz diferença.
um livro de Jacinto Lucas Pires e Alice Piaggio, bruáa editora
A Júlia Martins escreveu:
Faz diferença brincar com as palavras? Ler sempre a mesma história? Terminá-la com um ponto final ou reticências? Faz diferença o contexto? “Faz Diferença” (Bruaá, 2022) é um álbum bem-humorado e divertido, para observar, pensar e questionar, um convite ao leitor para entrar no jogo do mundo polissémico. Num diálogo permanente entre a imagem e a palavra, o leitor é envolvido num movimento ritmado onde se exercita o diálogo do plural e do singular, do individual e do colectivo, do visível e invisível, do semelhante e do desigual. A relevância da palavra é notória. Escrever “uma lua” ou “duas luas” fará diferença? Atrás das palavras há segredos, sentidos díspares, verdades e mentiras, risos e silêncios. Pensamentos. Perguntas. Afinal, o que pode uma palavra? (Deus me Livro)
Tropeçar e dançar
Sendo eu uma pessoa curiosa e investigadora de sentidos e da linguagem, fiquei de imediato presa ao livro quando a Júlia me mostrou algumas das suas páginas. Talvez o início do livro tenha sido o gancho de toda a curiosidade:
Se uma pessoa tropeca, é um acidente. Se várias pessoas tropeçam, é dança.
Brincar com as palavras pode, num determinado momento, ser um acidente. Será assim que acontecem os trocadilhos, sobretudo aqueles que nos fazem rir?
Trocar uma palavra para um sítio que habitualmente não habita ou criar um sentido novo para uma palavra que já existe pode ser (mais ou menos) acidental.
Mas quando levamos esse acidente a sério (quando várias pessoas tropeçam) é um exercício consciente de comunicação, de linguagem, de exploração de sentidos.
É também um exercício de humor:
Se um jogador contorna as regras, é batota.
Se vários jogadores contornam as regras, é um novo jogo.
Uma narrativa ambígua e sem um final
O livro Faz diferença convoca-nos a praticar esse exercício a partir da ambiguidade de sentidos que provocam o texto e a ilustração. Trata-se de um excelente livro para abalar certezas, para nos fazer pensar o óbvio, para nos fazer voltar a pensar o óbvio.
A ambiguidade é um dos elementos que procuro na literatura infantil por permitir tanto o exercício do pensamento crítico como do criativo. Procuro essa ambiguidade no texto e na ilustração. Neste livro o trabalho da ilustradora ao apresentar-nos páginas duplas que reflectem a brincadeira com as palavras de forma tão simples que nos faz pensar e voltar a pensar.
Este livro não tem final. Este livro não tem uma história com princípio meio e fim. Diria que é um livro que se permite à leitura de Ta-DA! abrir uma página ao calhas e começar a partir dali. Podemos andar para trás, andar para a frente nas páginas. Podemos ler uma página dupla de cada vez: acredite, dá muito que pensar!
[Faz diferença dialoga com...]
Há livros que dialogam com outros livros.
Ao ler Faz diferença, pensei no Antes Depois (Anne-Margot Ramstein & Matthias Aregui, Gatafunho) pela experiência do folhear das páginas.
Também voltei a abrir e a ler o 22 Maneras de No Ser, de Eleonora Arroyo e Ariel Cortese (Três Tigres Tristes), pela dimensão brincalhona que é colocada no texto e ilustração.
Se tiver de pensar no Faz diferença para uma oficina de filosofia ou de diálogo, certamente que irei recorrer a Ludwig Wittgenstein ou a Hildegarda de Bingen como filósofos de referência para me ajudar a explorar a dimensão filosófica do livro. É que FAZ DIFERENÇA ler filosofia para poder preparar uma oficina de filosofia.
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