Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

filocriatividade | filosofia e criatividade

oficinas de filosofia e de criatividade, para crianças, jovens e adultos / formação para professores e educadores (CCPFC) / mediação da leitura e do diálogo / cafés filosóficos / #filocri

oficinas de filosofia e de criatividade, para crianças, jovens e adultos / formação para professores e educadores (CCPFC) / mediação da leitura e do diálogo / cafés filosóficos / #filocri

06 de Janeiro, 2021

Era uma vez a Filosofia... - como reconhecer um livro filosoficamente provocador?

joana rita sousa

Convido os leitores deste espaço a reflectir comigo: o que nos chama a atenção num livro? O que nos faz abrir o livro e não o querer abandonar?

Faça a mesma reflexão imaginando que é uma criança: o que é que leva uma criança a reparar num livro? A querer agarrá-lo? A querer viajar pelo livro fora?

 

Que livro escolher?

Na minha prática de oficinas de filosofia, para crianças e jovens, o livro é um recurso que faz parte do meu leque de escolhas para provocar o pensamento. É comum ter professores e educadores a pedir-me recomendações de livros, pois pretendem escolher um “bom livro”.

O que acabo por fazer é indicar o livro X ou Y, por já conhecer e ter alguma experiência de trabalho com ele. Dei por mim a pensar e a perguntar: que características têm os livros (ou álbuns) permitem a prática da leitura [activa], do olhar [percepcionar] e do pensar [sentir]?

Assim surgiu a reflexão que hoje partilho convosco, aqui no espaço do PNL2027.

 

A curiosidade

Seja pela palavra ou pela ilustração, há livros que nos aguçam a curiosidade e que nos motivam a querer virar as páginas por querermos saber o que vem a seguir, o que aconteceu depois ou que desafio enfrentou o personagem (ou personagens).

 

A ampliação (do pensamento)

Por ampliação do pensamento entendo aquilo que nos permite ver além do nosso ponto de vista inicial.

Por vezes esta ampliação exige um olhar de cima (como se fossemos um helicóptero ou um drone), ou o movimento de recuar no pensamento, para ver a big picture. Pensar é movimento!

 

A tensão (ou conflito)

As histórias com textura são aquelas que apresentam uma tensão ou um conflito.

Cumprem com os passos básicos do storytelling (que agora está tão na moda):

- era uma vez...

- todos os dias...

- até que um dia...

- então...

- e viveram felizes (será?) para sempre (hummm...). 

 

O que nos atrai na história é a tensão, o conflito, o problema. E isso pode motivar-nos a pensar o "como resolveria essa situação no lugar de..." e a colocar hipóteses "e se...?".

Seja nos livros, seja na nossa vida, os obstáculos e os problemas são algo que dão que pensar. 

Os filósofos são os fãs #1 de problemas, tal como os cientistas.

 

A incerteza

Quando começamos a ler o livro há uma incerteza primeira que é a de não sabermos como acaba a história.

E quando o livro não nos diz como é que a história acaba?

E se não estivermos sequer a falar de um livro, mas de uma proposta como a Wonder Ponder

 

A actividade (do leitor)

Um livro filosoficamente provocador convoca um leitor activo, que coloca hipóteses, que quer saber mais, que tem interesse e algo a dizer sobre o que está a ver, a ler ou a sentir.

Um livro filosoficamente provocador também é aquele que podemos sentir

 

As possibilidades

Entendo por possibilidades o facto do livro não se fechar numa única forma de ver o mundo ou até mesmo por apresentar diversidade de abordagens, de pontos de vista.

Outro ponto interessante é o facto do livro se prestar a diferentes leituras em momentos diferentes. Praticar a leitura do mesmo, de forma diferente: eis uma riqueza. 

 

A provocação

“Carefully selected picturebooks are particulary suited as provocations for philosophical work with abstract concepts (…)(Karin Murris, The posthuman child, pp. 204-206)

 

A investigadora Karin Murris sublinha a desorientação, a incerteza, a dissonância e o desacordo acerca do significado, elementos que permitem e incentivam professores e alunos a construir significados e conhecimento, em colaboração.

 

*

Espero que esta reflexão tenha ajudado os leitores a pensar sobre os livros que os rodeiam: serão filosoficamente provocadores?

5 comentários

Comentar post