do gesto à voz: ciclo de conferências
teve início no dia 1 de Fevereiro o ciclo de conferências Do Gesto à Voz, dedicado à educação de surdos e inclusão. tive oportunidade de assistir a uma manhã plena de partilhas sobre a problemática da surdez no seio da educação, em conjunto com os meus colegas do nível II de Língua Gestual Portuguesa (LGP) e da nossa formadora, Patrícia.
a conferência contou com a presença de várias pessoas, em representação de entidades que trabalham na área da educação dos surdos ou que representam associações de pais e amigos. a reter o discurso emocionado do André Couto, presidente da AFAS ( Associação das Famílias e Amigos dos Surdos ) que partilhou connosco um percurso de pai da M, uma criança surda, a quem o primeiro médico que diagnosticou a surdez traçou o seguinte cenário «os surdos não atingem níveis superiores de inteligência». acontece que a M entrou recentemente para o curso de Medicina (parabéns, M). a afirmação desse médico encerra em si imensos preconceitos: que a surdez condiciona a aprendizagem e limita o sucesso, que a inteligência se reduz ao QI e por aí fora.
Maria José Freire falou-nos da educação bilingue - língua gestual portuguesa e língua portuguesa - na educação dos surdos e de como há um fosso enorme entre a teoria e a prática, entre aquilo que está legislado e aquilo que acontece nas escolas.
Paulo Vaz Carvalho apresentou-nos um olhar histórico sobre a língua gestual e da necessidade da comunidade surda aceder ás fontes primárias, que contam essa história, para que possam escrever, com a sua própria "voz", essa mesma História. sublinhou ainda que faz falta a existência de dicionários bilingues (LGP - LP e LP - LGP) bem como outros materiais que possam ser usados nas escolas e pelos pais e sobretudo pelos alunos, para que estes possam estudar autonomamente, sem professor, sem intérprete.
lugar ainda para o testemunho de Shaiza, que partilhou uma experiência de cultura e identidade da LGP na sua educação.
parabéns ao Joaquim Melro e à sua equipa pela iniciativa. o Joaquim é, como eu, apaixonado pela educação, pela filosofia e pelo gesto. partilhamos essa paixão com a Carla Ribeiro, que tive oportunidade de (re)encontrar neste dia.
confesso que fiquei angustiada quando ouvi o representante da Casa Pia (?) relativamente à Filosofia. disse que tinha muitas dúvidas que um surdo conseguisse fazer um exame de Filosofia, do 12º. eu conheço muitos ouvintes que também tiveram essa dificuldade, por falta de estudo, de preparação ou simplesmente porque têm aquilo a que eu chamo de professor pedagogicamente incapaz (lamento informar-vos, mas também os há!). portanto, não me parece que essa incapacidade tenha alguma relação directa com o facto do aluno ser ouvinte ou surdo.
do gesto à voz: fazer a ponte entre o surdo e o ouvinte. no meu caso, a construção desta ponte é fundamental dado que, por motivos de ter sido "agraciada" com uma doença rara e incurável - síndrome de méniere - estou também eu a preparar-me para a ponte da audição para a surdez (uma das consequências da doença). se já tinha curiosidade em aprender LGP, desde 2011 que essa curiosidade ganhou contornos de necessidade, pois se há coisa que sei fazer bem é comunicar, transmitir ideias e conhecimentos - e não quero deixar de o fazer quando/se a surdez parcial tomar conta da minha vida definitivamente. além disso, acalento o sonho de orientar sessões de filosofia para crianças 100% inclusivas.
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