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08 de Maio, 2025

como escutar melhor?

joana rita sousa / filocriatividade

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O livro de Topsy Page, Oracy, apresenta 100 ideias para colocar em prática na sala de aula. Gostaria de destacar seis ideias presentes no livro sobre escutar as crianças e os jovens.

 

A primeira ideia parece muito óbvia: quando uma criança está a falar, devemos esperar que termine a sua intervenção. Será que sempre fazemos isto? Não.

Ainda há dias numa oficina para famílias, a Maria (nome fictício) tomou a palavra para falar e logo no início a sua mãe interrompeu com um “Não é isso…”. Eu fiz sinal à mãe para que pudéssemos escutar a Maria até ao fim.

 

Devemos esperar uns segundos após a criança terminar a sua fala, criando momentos de pausa, de silêncio. Este tempo é essencial para que as palavras façam eco nas nossas cabeças.

 

Segunda ideia: mostre disponibilidade e abertura para escutar aquilo que a criança está a dizer. Muitas vezes as/os professoras/es assumem que estão à espera que a criança diga isto ou aquilo, querem muito que “cheguem lá”. Temos de nos libertar desta ideia das crianças “chegaram lá” e escutar as suas palavras para que possamos observar o caminho do seu pensamento.

 

Terceira ideia: após a intervenção da criança, responda (ou pergunte) de uma maneira que torne evidente que está verdadeiramente interessada/o em escutar as suas palavras e em compreender. Exemplos: “Podes explicar um pouco mais a ideia X?” ou “Podes dar um exemplo de Y?”.

 

Quarta ideia: peça à criança ou ao jovem para repetir o que disse, caso não tenha compreendido ou escutado bem. Assumir que não escutámos bem é uma forma de modelar a dificuldade da escuta. Em vez de assumir que a criança disse isto ou aquilo, por ser o que estávamos à espera, é melhor pedir para dizer de novo.

 

Quinta ideia: verifique se compreendeu exactamente o que a criança disse. “Deixa ver se compreendi, estás a dizer que…?” Recomendo que a nossa reprodução das palavras seja o mais fiel às palavras das crianças, evitando corrigir termos. Nem sempre as crianças usam os termos certos, porém podemos apresentar o termo mais adequado sem ter de dizer “o que disseste está mal, não é assim”. Em vez disso, diga: “julgo que o querias dizer com Y era X.”

 

Sexta ideia: torne-se consciente dos seus enviesamentos e dos pressupostos com os quais parte para o diálogo. Nas primeiras páginas do livro Como desenvolver o pensamento crítico das crianças sublinho a importância de sermos pessoas conscientes das lentes com as quais olhamos o mundo, o que inclui os nossos enviesamentos.

 

 

Não se apresse em implementar todas as ideias ao mesmo tempo.

 

Comece por uma e observe o que acontece.

 

A escuta é um elemento fundamental do diálogo, ao qual devemos prestar cada vez mais atenção. Se não nos escutarmos, não conseguimos dialogar, isto é, não conseguimos construir novas ideias a partir das ideias de cada pessoa envolvida no diálogo.

 

joana rita sousa

referência bibliográfica: Oracy, de Topsy Page (Bloomsbury)