¿Así es la muerte?
perguntas e respostas vitais (e mortais)
Perguntas mortais (e vitais) de crianças sobre a morte
Aviso: este livro Wonder Ponder contém respostas.
A equipa Wonder Ponder já nos habituou a livros e a propostas para pensar cheias de perguntas; o seu último livro contém algo tão ousado quanto perguntar. E não estou a falar do tema da morte. Falo mesmo da ousadia de apresentar um livro com respostas.
Crianças de todo o mundo foram convidadas a arriscar perguntas sobre a morte, esse tema que é tido como difícil ou sensível e que algumas pessoas adultas confessam evitar junto das crianças. Considero que não devemos evitar o tema e que temos mesmo de criar espaços para que o tema possa ser abordado com a naturalidade com a qual se abordam outros temas.
Falar sobre a morte: onde e quando?
"onde e quando falamos abertamente sobre a morte?""a morte é um assunto tabu?""como é que se reage perante a morte?""o humor protege-nos da morte?""é horrível ter uma escola perto de um cemitério?""devem as crianças ir aos funerais?""como falar de morte com crianças?"(perguntas de jovens do 9.º ano a propósito do livro Supergigante, de Ana Pessoa)
Num diálogo recente a partir de um outro livro (Supergigante, de Ana Pessoa), com uma turma do 9.º ano, tive a oportunidade de dialogar sobre o tema da morte. Partilhei com o grupo que a finitude é algo que me inquieta e com a qual tenho uma relação difícil. Por estas razões, procuro não fugir aos diálogos sobre esse tema.
A professora de Português que acompanha o grupo tem estado muito atenta e a fazer ligações com os conteúdos das aulas onde há obras que também abordam o tema da morte. Dois exemplos: A Aia de Eça de Queirós, onde acontece um suicídio; o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente que nos convoca a pensar no que acontece depois de morrermos.
A proposta de ¿Así es la muerte?
O livro apresenta diferentes tipos de perguntas (filosóficas, científicas e de carácter mais prático, entre outras). Por esse motivo as autoras tiveram o apoio de Xaviera Torres (bióloga) e Montse Colilles Codina (psicóloga-psicanalista) para redigir as respostas.
Nas respostas encontramos cuidado e rigor, tal como se pretende que aconteça num diálogo filosófico. Há um compromisso com a transparência, com a resolução da opacidade que existe em torno do tema da morte.
¿Así es la muerte? resulta da prática da honestidade e da humildade intelectuais: às perguntas complexas responde-se com aquilo que sabemos no momento. O livro integra perguntas cujas respostas se encontram na imaginação e não no conhecimento (p. 23), pois ainda não houve alguém que tivesse regressado do estado de morte para contar como foi.
No artigo Living in heaven and buried in the earth? Teaching young children about death, as pessoas autoras referem as mensagens confusas das pessoas adultas para com as crianças acerca da morte. Afirmações como "o avô está a dormir" ou "a tia está a descansar" podem mesmo transmitir ideias confusas sobre o sono ou sobre o descanso e ainda dar a entender que as pessoas mortas podem acordar ou regressar desse momento de descanso:
Our findings are in line with previous research, according to which adults often find talking about death and dying to be a challenging endeavor and choose to avoid the topic altogether or use euphemisms such as resting (...) or being in heaven (...). However, the adults’ confusing messages about death may lead to unintended conse-quences. For young children, for whom biological death is a phenomenon to be explored and understood, cultural narratives that adults consider reassuring or emollient can be mis-leading and worrying. Euphemism such as "he has gone to heaven’, ’left us’, ’laid to rest’, and ’what are they doing up there?’ may for a child imply that the dead can return. Previous research on how children understand death suggests that discussing death and dying in biological terms is the best way to alleviate fear of death in young children’ (Slaughter and Griffiths 2007, 525). Our examples show that children neither avoid talking/asking about death norfind death a sensitive topic. Thus, child centered pedagogy and dialogic teaching could be used as a way of teaching about biologic death. One of the prerequisites for purposeful teaching about death is a didactic awareness in designing the content. Early childhood education would benefit from the findings within cognitive research on young children’s understanding of biologic death and the implications of trying to protect children from the realities of life.
Tünde Puskás, Anita Andersson, Fredrik Jeppsson & Virginia Slaughter (2023): Living in heaven and buried in the earth? Teaching young children about death, European Early Childhood Education Research Journal, DOI: 10.1080/1350293X.2023.2221002
A par deste texto cuidado e cuidadoso, as ilustrações de Andrea Antoinori revelam um tom polvilhado com humor, conseguindo assim aliviar algum do peso que as perguntas (e as respostas) carregam.
[imagem via Wonder Ponder]
O livro permite ainda relacionar perguntas entre si, sugerindo a leitura de outras perguntas e sugerindo que possamos viajar de pergunta em pergunta, ao longo das suas 138 páginas.
As guardas do livro brindam-nos com mais perguntas, além das 38 que são tratadas no livro. A riqueza destas perguntas denunciam a dificuldade que terá sido seleccionar as perguntas que iriam constar no livro e aquelas que ficariam de fora.
En esto de la mortalidad tienes mucha compañia. La muerte es algo que tarde o temprano nos ocurrirá a todos los seres humanos. Algún día (esperamos que en un futuro razonablemente lejano), las escritoras y el ilustrador de este libro moriremos, y también morirán nuestros familiares, nuestras amistades, nuestras mascotas y nuestras plantas. Somos mortales. (p.15)
Este livro vital pode ser lido individualmente ou em grupo (em casa ou na escola). Está disponível em espanhol no site Wonder Ponder.
💀
¿Así es la muerte? — Wonder Ponder
Texto: Ellen Duthie e Anna Juan Cantavella
Ilustrações de Andrea Antinori
💀 artigos relacionados:
- abordar o tema da morte com as crianças
- Enquanto vamos sobrevivendo a esta doença fatal
- a literatura infantil, a ausência de maldade e o gugudadismo