As Coisas Invisíveis, de Andy J. Pizza e Sophie Miller
Numa oficina de filosofia com crianças, falar de coisas que existem e coisas que não existem conduz-nos à perguntar “como é que sabes que existe?” ou “como é que sabes que não existe?”. Frequentemente ver ou já ter visto surge como um critério para deliberar sobre a prova da existência de algo.
Depois surgem outras perguntas: viste mesmo? Viste através de uma fotografia? Viste num filme? Viste num livro? Alguém viu e contou-te?
A visão é um sentido que nos orienta até na linguagem. Quando queremos saber se alguém está a acompanhar uma conversa, dizemos: estás a ver aquilo que te digo? Falamos da nossa visão do mundo quando queremos dizer qual é o nosso entendimento do mundo. Na Alegoria da Caverna, de Platão, os prisioneiros estão condenados a ver sombras, ou seja, limitados a conhecer um mundo que é só uma sombra do mundo que não conseguem ver enquanto estão na caverna.
É comum surgirem problemas com o próprio critério, ver ou ter visto. Será que é suficiente para afirmar a existência de algo?
O amor vê-se? O amor existe? O agora vê-se? O agora existe?
O livro As Coisas Invisíveis convida-nos a pensar sobre essas coisas das quais falamos e que não vemos. O medo, o eco, o pivete, o caos, a matemática (queria tanto juntar a esta lista a filosofia!), os risos, a estranheza.
As pessoas leitoras são convidadas a viajar pelos seus sentidos e a usar uns óculos especiais para ver coisas invisíveis. Coisas como a melancolia, a coragem, a empatia, a depressão, a raiva, o amor, o riso ou a esperança.
Ainda que o livro não distinga entre emoções e sentimentos, a sua leitura contribui para abrir o diálogo sobre essas temáticas:
“A fundamental difference between feelings and emotions is that feelings are experienced consciously, while emotions manifest either consciously or subconsciously. Some people may spend years, or even a lifetime, not understanding the depths of their emotions.” The Difference Between Feelings and Emotions
Perguntar a alguém “o que estás a sentir?” é uma pergunta gigante. Não é fácil falar daquilo que sentimos, pois nem sempre é óbvio se é alegria ou se é surpresa. Não saber não é motivo para não falar. Aliás, arrisco dizer que quanto mais se fala, mais consciência temos sobre aquilo que sentimos.
O livro As Coisas Invisíveis brinda-nos com ilustrações muito apelativas e divertidas. Ao ver as (visíveis) ilustrações do susto ou da comichão, dou por mim a perguntar: se desenharmos um susto, o susto ganha outro tipo de existência? Ou será que existe mais? Será que se torna real?
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Perguntas que a leitura do livro me provocou:
Ver é conhecer?
Ver com clareza é melhor do que ver às escuras?
Ver às escuras permite-nos imaginar?
Imaginar é ver?
É bom estar perdido num livro?
Porque fugimos do aborrecimento?
Dizer o que sentimos permite-nos compreender o que sentimos?
É fácil ou difícil dizer o que sentimos?
O que mudava se fosse possível ver a tristeza?
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As Coisas Invisíveis, de Andy J. Pizza e Sophie Miller (Lilliput)
Artigo publicado originalmente na newsletter #LivrosPerguntadores (Set 2024).
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