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filocriatividade | filosofia e criatividade

oficinas de filosofia e de criatividade, para crianças, jovens e adultos / formação para professores e educadores (CCPFC) / mediação da leitura e do diálogo / cafés filosóficos / #filocri

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20 de Janeiro, 2021

a palavra NÃO

- a propósito de uma conversa com a Rita, do Kit Literário

joana rita sousa

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no dia 19 de outubro estive no instagram a conversar com a Rita, do Kit Literário. o tópico da conversa era a palavra NÃO e sentei-me para pensar um pouco sobre o papel que o NÃO tem nas nossas vidas. 

este foi o texto que o Kit Literário publicou, em Novembro de 2020. 

 

*

 

A propósito de um convite da Rita para um live no instagram dei por mim a reflectir sobre a palavra NÃO. Esse era o tema do mês de Outubro do Kit Literário.

Sentei-me para pensar na importância do NÃO no âmbito do meu trabalho, nas oficinas de filosofia que dinamizo, para crianças, jovens e adultos. Dei por mim a pensar nos NÃO da minha vida, confesso.

Criei um mind map em torno do NÃO e desenhei algumas ideias que nortearam a minha conversa com a Rita, que poderá rever aqui e que resolvi resumir neste texto.

 

O NÃO, só porque sim

Para apreciar a importância do NÃO e o seu papel num diálogo ou numa conversa, há que atender ao contexto. Portanto, quando me perguntam “O NÃO é importante?” é natural que eu vá responder “depende” e daí comece a derivar situações em que é importante e outras em que não é assim tão importante.

Um NÃO repetido automaticamente, sem reflexão e sem uma razão para existir é um NÃO que não acrescenta valor ao que está a ser dito. Isto vale também para uma das minhas palavras preferidas, o PORQUÊ, que de nada vale se for repetido sem uma justificação. Que sentido tem o meu NÃO ou o NÃO do outro? Estou a dizer NÃO ao quê? E que razões apresento para o meu NÃO?

 

Com o NÃO também se aprende

O NÃO tem um papel importante na aprendizagem. Por vezes é mais didáctico começar por explicar a alguém o que X não é, do que começar com aquilo que X é.

Do ponto de vista da criança, o adulto tem mais experiência e consegue ver claramente algumas coisas que pode transmitir à criança.

 

Sou muito fã de que a criança experimente coisas e possa depois avaliar por si se gosta ou se NÃO gosta, se quer ou se NÃO gosta. Mas não se aplica a tudo: perante um forno quente eu vou dizer à Rafaela, de 3 anos, que não pode colocar lá a mão. Perante uma oficina de filosofia ou um livro recomendo que a criança experimente para depois decidir se quer lá voltar ou NÃO.

 

O NÃO sei

Dizer NÃO SEI é um momento fundamental para podermos construir conhecimento. No contexto de uma oficina de filosofia é um momento que inaugura o “Queres saber? Pergunta.” Ou “Não sabes. Olha eu também não sei.  E se fossemos investigar em conjunto?”

A escola não oferece muito espaço para uma resposta “não sei”, pois é encarado como uma falta de inteligência ou de aplicação por parte do aluno. Por outro lado, não se espera que o professor diga “não sei”, pois é suposto que saiba tudo para poder transmitir aos alunos.

Há uns anos conversei com um pai sobre o seu sentimento ambíguo perante o facto do filho se ter revelado uma criança mais perguntadeira. O filho estava a frequentar as oficinas de filosofia há 3 meses e tinha começado a praticar o perguntar em casa: “Sabe, Joana, eu gosto que ele faça perguntas. É importante ter curiosidade. Mas por outro lado tenho receio que o meu filho me faça perguntas às quais não sei responder. E eu sou o pai, eu deveria saber.”

NÃO, o pai (ou a mãe) NÃO sabe tudo. Não tem sequer esse dever. Pode é aproveitar esse NÃO SEI partilhado para partir para uma investigação em conjunto. Pegar num livro, pesquisar na internet, fazer perguntas, ir a um museu – há muitas formas de perseguir esse NÃO SEI e ver se podemos transformar para um “AGORA JÁ SEI”.

 

O ainda NÃO

Este NÃO que é o AINDA NÃO é uma boa forma de treinar a espera. “Posso fazer X?” – AINDA NÃO. Esperar é algo que se pode treinar e este NÃO ajuda a experimentar a paciência.

Recomendo olhar para os AINDA NÃO quando estamos a traçar objectivos na nossa vida. A criança quer muito aprender a andar a cavalo. Pode não ser possível para a família levá-la às aulas, organizar-se logisticamente ou até ter fundos para suportar as aulas. Neste último caso o AINDA NÃO pode acontecer fisicamente, sob a forma de um mealheiro onde se vai colocando dinheiro para poder depois marcar a aula.

Sou praticante desde AINDA NÃO no âmbito da literacia financeira e faço mealheiros para fins específicos, como comprar livros. E o “NÃO tenho aquele livro” passa a um “AINDA NÃO tenho aquele livro. Faltam-me X euros para o comprar.”

 

O NÃO enquanto compromisso

A par do SIM, o NÃO é um compromisso. É uma afirmação que rejeita X ou Y. É importante dizer NÃO. Há alguns livros que falam até do poder do NÃO e sublinho a sua importância quando temos de estabelecer limites ou fazer escolhas. Isto é válido para miúdos e para graúdos.

 

*

 

E por aí? O que pensa sobre o NÃO?

Qual foi o NÃO mais importante que teve de dizer a alguém?

Qual foi o NÃO mais importante que já ouviu?

Boas reflexões!

 

 

 

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