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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças | formação (CCPFC) | cafés filosóficos | mediação cultural e filosófica | clubes de leitura | filosofia, literatura e infância

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08 de Fevereiro, 2024

"a minha verdade"

joana rita sousa

 

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[não contamos as histórias de forma neutra ou isenta]

Tenho acompanhado semanalmente o podcast isso não se diz do Bruno Nogueira, disponível em várias plataformas como o spotify.

Aviso que o podcast contém impropérios; ainda assim, recomendo a escuta do ep. 38 a partir do minuto 23. Bruno Nogueira disserta em voz alta sobre a forma enviesada como habitualmente contamos episódios nos quais somos personagens e também sobre a nossa tendência para tomar partido de alguém sem escutar o outro lado da história. 

 

[José Palma sublinha: não há dois tipos de pessoas, somos os dois tipos de pessoas]

Num episódio Pergunta Simples, Jorge Correia conversa com José Palma sobre falácias, enviesamentos e o modo como o ser humano compreende o mundo. A dado momento, Palma sublinha que cada pessoa "tenta de uma maneira activa confirmar a sua visão do mundo". 

Relacionando com aquilo que diz  Bruno Nogueira é importante ter a consciência de que os óculos com os quais vemos o mundo estão muito mais sintonizados com a busca de confirmação daquilo que pensamos:

"Todos vocês que estão a ouvir isto, o que é que fazem? Só dão importância aos casos que confirmam aquilo que pensam."

Ora se oiço alguém a partilhar uma história, assumindo o seu ponto de vista, é natural que essa pessoa esteja a pintar a história de modo a confirmar a sua ideia de que a pessoa X é manipuladora ou uma amiga 5 estrelas. E a versão das outras pessoas, como será? Certamente estará ensopada dos seus próprios enviesamentos e heurísticas. 

Outra ideia que me parece fundamental consiste em perceber que aquele discurso "há dois tipos de pessoas: as racionais e as emocionais" é falacioso. Em diferentes momentos ou contextos, somos racionais e emocionais. Nós somos os dois tipos de pessoas e isto também acontece sob o olhar dos outros: para a pessoa X eu sou profundamente organizada, para a pessoa Y eu sou muito caótica. A pessoa X e a pessoa Y olham o mundo com óculos distintos. 

Não quero com isto dizer que não há verdade. Quero dizer que as percepções que cada pessoa têm da realidade não é neutra. Um grupo de quatro pessoas pode estar a presenciar a mesma realidade e dessa experiência acabam por sair quatro descrições diferentes. Talvez com pontos comuns, certamente com diferenças. 

Tenho problemas sérios com a expressão "a minha verdade". Sugiro que utilizemos algo como "é desta forma que percepciono o mundo" ou "este é o meu ponto de vista". Mas que não sirva para fechar o diálogo ou suspender o processo de escuta quando nos deparamos com pontos de vista distintos.