a literatura infantil, a ausência de maldade e o gugudadismo
(imagem do website Wonder Ponder)
Sí, la maldad está en extinción en la LIJ [literatura infanto-juvenil]. La falsedad, la inmoralidad, la crueldad y, por lo tanto, la ambigüedad, la oscuridad y la complejidad, están desapareciendo del reino de las lecturas infantiles. (Ana Garralón)
Da próxima vez que passar por uma livraria ou pela biblioteca terei como missão procurar a maldade nos livros. Segundo Ana Garralón há temas que estão a desaparecer deste livros.
Es cierto que a los niños les gustan las historias amables, pero también adoran las historias oscuras, sombrías o inquietantes. (Ana Garralón)
O trabalho que desenvolvo nas oficinas de filosofia não tem como foco contar histórias bonitas ou apresentar uma moral à qual as crianças têm de aderir. Isso não significa que leve comigo apenas histórias cruéis (como as propostas Cruelty Bites / Wonder Ponder). Porém, creio que a maioria dos livros sofre deste excesso de bondade e talvez por isso tenha a tendência por livros menos bonzinhos.
Que literatura queremos ler e dar a ler? Aquela que pinta a realidade de cor-de-rosa? Aquela que evita a ambiguidade ou a maldade? Aquela que evita falar de certos tópicos (como a morte)? Aquela que traz finais felizes? Aquela que castiga os maus e eleva os bons? Aquela onde os bons e os maus se topam à distância? Escolhemos livros para as crianças ou para "uma ideia de criança que certos adultos têm" (Afonso Cruz)?
People keep buying The Giving Tree, despite the fact that children hate the book.
The question, then, is how children get their hands on a book like The Skull, the newest from Jon Klassen and a goodie but—to emphasize—a book about a girl and a skull, friendship and death.
(...)
So, to speak to a young audience the children’s author needs to find a way to beat back their own adultness. To paraphrase Catherine Lacey quoting Rachel Cusk, “Can an [adult]—however virtuosic and talented, however disciplined—ever attain a fundamental freedom from the fact of his own [adulthood]?”
“I don’t think you ever can,” says O’Hara. “But being an adult talking to a child doesn’t mean babbling sweet-talk about happy bunnies. You can just be a human talking to another human. You can kind of say, ‘This is something I’ve noticed about life, what do you think?’” (Janet Manley, Let the Kids Get Weird: The Adult Problem With Children’s Books)
N' O Vício dos Livros, o autor e ilustrador Afonso Cruz fala-nos do gugudadismo e dos gugudadistas que defendem que "as crianças não devem ler nos livros que lhes são dirigidos palavras que não conhecem." Afonso denomina as palavras que não são adequadas às crianças de palavras-brócolos:
Se as crianças nos pedem rebuçados para o jantar, pode ser que lhes façamos a vontade, porém, a maior parte de nós insistirá nos brócolos. As crianças podem querer somente palavras que conhecem, aquelas que pertencem ao índice gugudadista das palavras aceites ou toleradas, mas as palavras-brócolos garantem um crescimento saudável. Pelo menos para quem ambiciona chegar aos oitenta balbuciando um pouco mais do que gugudádá.
(ilustração de Afonso Cruz publicada na Notícias Magazine - 2018)
Creio que a literatura e a filosofia devem abrir as portas da mercearia e dar a conhecer às crianças as palavras-rebuçados, as palavras-brócolos e todas aquelas que possam contribuir para um menu diverso e variado. Isso depende mais das pessoas adultas que lidam com as crianças, do que das próprias, bem como da ideia que essas pessoas adultas têm da infância.
Felizmente o mundo é composto de outras pessoas além das gugudadistas.