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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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19 de Junho, 2025

conjugar o verbo confiar

Desinformação, um livro de Dan Ariely

joana rita sousa / filocriatividade

livros filocriatividade

 

Dan Ariely, autor do livro Previsivelmente Irracional, é um cientista social que um dia se deu conta que o seu nome e imagem tinham sido alvo de um movimento de desinformação. Tentou compreender o que o que pode levar alguém a aceitar aquilo que denomina crenças erróneas.

 

O que aconteceu a Ariely?

 

Ariely foi apontado como um manipulador da percepção que agia no âmbito da fraude da covid-19 e da conspiração da Agenda 21. O cientista social e outros como Bill Gates foram apontados como conspiradores num plano que consiste em vacinar as mulheres de forma a torná-las inférteis, de modo a diminuir drasticamente a população mundial.

 

Chegaram-lhe vídeos que foram editados e manipulados. Observou os vídeos, clicou nas mais variadas ligações que encontrava na internet e reuniu com uma pessoa que o acusava de crimes contra a humanidade e exigia o seu julgamento. Tentou compreender o que motivava estas pessoas.

 

Encontrou dificuldades nas várias tentativas de diálogo para escutar estas pessoas. A maior dificuldade foi o ódio: “Enquanto saía do Telegram, refleti que poderia ser impossível chamar à razão pessoas que querem acreditar naquilo em que já acreditam e que sentem um ódio tão intenso. O ódio não é uma conversa.” (p. 15)

 

Este acontecimento pessoal foi o trampolim para o cientista social escrever o livro agora publicado em Portugal, de seu nome Desinformação.

 

 

O que é uma crença errónea?

 

Ariely pretende compreender o que pode levar as pessoas a acreditar na desinformação e a partilhá-la avidamente. Em vez de se referir a teorias da conspiração, tal como eu fiz nesta entrevista, Ariely usa o termo crenças erróneas.

 

As crenças erróneas são formas distorcidas de ver e pensar sobre o mundo. Todo o ser humano tem propensões para as crenças erróneas: “(…) qualquer pessoa, nas circunstâncias certas, pode dar por si a ser puxada para dentro do funil da crença errónea.” (p. 26)

 

Ao contrário do que se possa pensar, as crenças erróneas não são um exclusivo do nosso tempo - e estão para ficar. Resta-nos a confiança.

 

Qual é o papel da confiança?

 

A confiança é um elemento básico e fundamental da vida em sociedade. Quando vou ao hospital, confio no médico que me atende. Na praia, quando me afasto do chapéu de sol, confio que as pessoas à volta não vão levar os meus pertences. Quando pego no carro para conduzir, confio que as pessoas vão conduzir do lado direito da estrada e respeitar as regras de trânsito.

 

Confiar é uma constante na nossa vida e nem sempre é evidente o seu papel.

 

Para Ariely, a desinformação é sinónimo de inverdade corrosiva que pode mudar drasticamente uma pessoa para sempre.

 

Tal como já referi, o cientista social disponibilizou-se para conversar com as pessoas que o acusavam de conspirar contra a humanidade e é nessa linha que defende que a compreensão e a empatia são a resposta.

 

Concordo com Ariely quando diz que não podemos esperar que as pessoas irão aceder à informação de forma absolutamente racional. Temos de contar com as nossas limitações. Somos seres enviesados, preconceituosos, lemos o mundo com lentes estereotipadas, usamos atalhos de pensamento, cometemos erros de raciocínio. Conhecer estes elementos e tomar consciência dos meus enviesamentos, preconceiros, estereótipos, heurísticas e falácias é aquilo que posso fazer para manter a confiança e não mergulhar de cabeça nas crenças erróneas.

 

“Isto não significa que o percurso que nos espera vá ser fácil, significa apenas que é possível fazer com que o ambiente que nos rodeia dê um maior apoio às maneiras como as nossas mentes funcionam e, desse modo, conseguirmos alcançar resultados muitos melhores.” (p. 347)

 

É preciso conjugar o verbo confiar.

 

Para conhecer melhor Dan Ariely e as suas ideias: episódio Finding Mastery (disponível no YouTube).

16 de Junho, 2025

LU.CA e filocriatividade: Prémio Acesso Cultura, Linguagem Clara 2025

joana rita sousa / filocriatividade

acesso cultura linguagem clara prémio

🟩 o trabalho Guia para pensar sobre uma assembleia de Assembleias foi distinguido com o Prémio Acesso Cultura - Linguagem Clara 2025:

O LU.CA voltou a ser premiado com um Prémio Acesso Cultura, desta vez o de Linguagem Clara. A distinção foi atribuída aos guias concebidos por Joana Rita Sousa, filósofa (e perguntóloga), fundadora do projeto filocriatividade , para a exposição Uma assembleia de Assembleias, que fez parte da programação do LU.CA no final de 2024.

Com design do V-A STUDIO, os três guias de apoio à exposição, adaptados a diferentes faixas etárias, sugeriam desafios e atividades a partir de recriações do hemiciclo da Assembleia. As ilustrações que formavam a exposição foram criadas por ilustradores nacionais para a coleção Missão: Democracia (editada pela Assembleia da República).

O júri do prémio destacou “a importância do estímulo precoce à aprendizagem dos valores da democracia, à participação política e à cidadania” e a “pedagogia implícita nos exercícios propostos, como aprender a escutar e a alcançar consensos, ambos pilares fundamentais para o exercício da liberdade.”



🟩 é com muito gosto que acolho os desafios do LU.CA, um teatro que escuta a infância, que lhe dá voz e que é voz da infância.


🟢 agradeço à Acesso Cultura pela distinção! YEAH!

 

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foto: LU.CA (instagram)

09 de Junho, 2025

filocriatividade pelos caminhos do Alentejo - e não só!

joana rita sousa / filocriatividade

feira do livro.png 

 
🟧 nos últimos andei pela Feira do Livro de Lisboa e também pelo Alentejo.
 
🟦 no dia 5 de Junho inaugurei o espaço da Manuscrito/Presença para uma sessão de autógrafos.
 
🟥 no dia 6 de Junho rumei até Casa Branca, onde fui acolhida pela equipa da Era uma voz e pela escola do 1.º ciclo para uma oficina de #filosofiavisual com as crianças do 1.º ao 4.º ano.
 
🟡 no dia 7 de Junho fui recebida em Galveias, no Centro Interpretativo José Luís Peixoto para uma oficina para famílias sobre o futuro.
 
🟪 estas oficinas #filocriatividade fazem parte do tempo de #voluntariadofilosófico deste ano (2024/2025). todos os anos destino algum tempo para fazer oficinas em regime de voluntariado. as despesas de deslocação e estadia são suportadas pelas subscrições do #ClubeDePerguntas.
 
🟥 foi um gosto filosofar pelo quente e querido Alentejo!
 
 
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04 de Junho, 2025

5 sugestões de livros

- a propósito da Feira do Livro de Lisboa

joana rita sousa / filocriatividade

livros filocriatividade feira do livro

 

A Feira do Livro de Lisboa realiza-se de 4 a 22 de Junho. Deixo algumas sugestões de livros sobre filosofia, pensamento crítico, pensamento criativo e filosofia para/com crianças e jovens, que poderá considerar na sua lista de compras.

 

🟩 Como desenvolver o pensamento crítico das crianças, de joana rita sousa, Manuscrito

 

🟩  Desinformação, de Dan Ariely, Vogais 

 

🟩  Gosto, logo existo, de Isabel Meira e Bernardo P. Carvalho, Planeta Tangerina

 

🟩  O que é a Filosofia?, de António de Castro Caeiro, Tinta-da-China

 

🟩  O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder (novela gráfica, Elsinore)

 

🟩  Brincar a Pensar, de Dina Mendonça e Maria João Lourenço (Plátano Editora)

 

🟩  Toma um café com Sócrates, de Elke Wiss (Planeta de Livros)

 

🟩 Pensamento Crítico e Criativo, de José Pinto Lopes e Helena Lopes Silva, Pactor

 

Boas compras e boas leituras.

 

(*) Em alternativa, poderá sempre ler estes livros através da sua Biblioteca Municipal. Se não encontrar estes livros por lá, deixe a sugestão para uma futura aquisição.

 

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03 de Junho, 2025

Olimpíada Estadual de Filosofia do Rio de Janeiro

joana rita sousa / filocriatividade

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Nos dias 6 e 7 de Junho regressam os trabalhos da Olimpíada Estadual de Filosofia do Rio de Janeiro. O tema é "A inteligência pode ser artificial?".

 

Para saber mais sobre as Olimpíadas do Rio de Janeiro e as suas características não competitivas, recomendo a leitura do trabalho de doutoramento da Lara Sayão, que pode ser acedido gratuitamente através do site do NEFI (UERJ):

A olimpíada de filosofia do Rio de Janeiro é uma experiência filosófica de libertação? É possível favorecer um pensamento de libertação nas estruturas colonizadoras da educação formal? É possível libertar a filosofia e libertar-se dela na experiência das olimpíadas de filosofia do Rio? É possível livremente escrever e filosofar com os gregos? Entre gregos e sambistas? Entre alemães e rappers? Entre franceses e povos originários? Na escola? É preciso sair em viagem? A viagem é acolhedora, hospitaleira? O pensamento fermental tem lugar nas rodas das olimpíadas? E nas aulas dos professores que delas participam? O pensamento popular é verdadeiramente convidado para estar nas rodas? As olimpíadas conseguem acolher pensamentos diferentes? São geradoras de comunidades? O que, afinal, provocam, permitem e afirmam, como movimento filosófico, educacional e político as olimpíadas de filosofia do Rio de Janeiro? Eis algumas das perguntas que este livro ajuda a pensar.

 

Faço votos de bons diálogos às pessoas que vão participar na Olimpíada!

02 de Junho, 2025

Filosofia para Crianças e Jovens no ESPANTO

Festival Internacional de Filosofia

joana rita sousa / filocriatividade

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Em tempos de incerteza, medo e ansiedade, o Festival de Filosofia ESPANTO surge como um espaço de reflexão e descoberta, onde a Filosofia se cruza com a vida real e se torna numa experiência colectiva.

Coube-me a curadoria da Ágora 2 Filosofia para Crianças & Jovens, para a qual convidei o David Erlich, a Laura Luz Silva e a Maria João Travassos (21 de Junho, sábado) 

Saiba mais sobre o ESPANTO - Festival Internacional de Filosofia que acontece em Cascais, de 19 a 22 de Junho, através deste link.

 

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01 de Junho, 2025

o que perguntam as crianças? que observações fazem?

- escutar as crianças nas oficinas #filocriatividade

joana rita sousa / filocriatividade

 

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Para assinalar o Dia Mundial da Criança, o Radar XS pediu-me algumas informações sobre as oficinas #filocriatividade, bem como algumas perguntas ou observações que as crianças e os jovens partilharam nessas mesmas oficinas.

 

o que são as oficinas #filocriatividade?

 

As oficinas #filocriatividade acontecem desde 2008 junto de crianças e jovens, do jardim-de-infância ao ensino secundário. O convite passa por criar um espaço e um tempo para parar, pensar em voz alta, escutar o pensamento das outras pessoas e dialogar.

 

Partimos de uma pergunta, de uma situação, de um texto, de um vídeo ou de outro recurso para dialogar filosoficamente. O diálogo funciona como um jogo com o qual as pessoas se comprometem a jogar. Como em todos os jogos, há regras e, neste caso, as pessoas que jogam também são convidadas a propor regras.

 

Podemos dialogar a partir de algo completamente quotidiano, como “És a favor ou contra da pizza com ananás?” ou a partir de algo quotidiano, mas um pouco mais profundo, a saber: “Se nós morremos, voltamos a nascer?”

 

Aquilo que acontece na oficina depende das propostas que levo comigo e também das sugestões das crianças. Em conjunto com crianças já criámos jogos como o Verdade ou Consequência da Filosofia, por exemplo. A partir do jogo que todos conhecem, adaptamos para a Filosofia.

 

 

sei que vou repetir-me, aqui vai: as crianças são seres pensantes

 

As crianças são seres pensantes e fazem uso da pergunta como chave para compreender o mundo.

As suas perguntas e observações são o reflexo da curiosidade perante aquilo que as rodeia, bem comoda forma como vão construindo ideias sobre o mundo.

Algumas pessoas adultas surpreendem-se muito com as perguntas e as observações das crianças talvez por pensarem que não têm idade para perguntar ou pensar sobre certas coisas.

 

Dialogar com crianças e jovens é uma boa forma de carregar a minha bateria de espanto. É um exercício de humildade e uma oportunidade para considerar as coisas de todos os dias sob outro ponto de vista.

 

Durante estes anos de diálogos fui registando muitas perguntas e observações que me convidam a parar para pensar. De 2008 até agora dinamizei cerca de 2100 oficinas, tendo trabalhado com cerca de 42000 crianças e jovens.

Partilho algumas perguntas e observações, convidando quem está aí desse lado a pensar a partir destas palavras.

 

  • Se nós morremos, voltamos a nascer?

  • Se eu não existir, não muda nada no mundo?

  • Se alguém aprende que 2+2= 5, como é que pode vir a saber que 2+2=4?

  • (Pergunta dirigida à morte) Porque é que matas tantas pessoas inocentes e deixas para trás os ladrões?

  • Todas as opiniões valem o mesmo?

  • Não é o cérebro que define a pessoa. Somos definidos pelo que está dentro de nós.

  • Discordar não é necessariamente algo mau, podemos aprender outros pontos de vista.

  • E se no futuro não houver futuro?

  • A tristeza faz de nós pessoas melhores. Não podemos ser sempre felizes, há altos e baixos.

  • Para que serve a guerra?

  • Para que serve a morte?

  • A morte serve para encorajar as pessoas a viver.

  • A morte serve para haver espaço para todas as pessoas viverem no Planeta Terra.

  • Como é que vamos saber se cada pessoa está a viver as emoções à sua

  • maneira?

  • Será que vamos todos falar a mesma língua?

  • As pessoas que votam, não sabem bem o que estão a fazer. Algumas sabem, outras não. Devia haver um teste para saber se temos informação para votar.

  • O que é a verdade?

  • Será que há alguma verdade absoluta com a qual toda a gente concorde?

  • O que leva uma opinião a parar de ser discutida?

  • O que nos leva a confiar na verdade de outra pessoa?

  • Como será viver num mundo sem regras?

  • Mas porque é que os números não acabam?

  • As perguntas servem para resolver problemas.

  • Como é que as opiniões dos outros nos influenciam?

  • Porque é que nós temos de ser pessoas e não podemos ser robots?

  • O que a vida quer de nós?

  • O que é que não é mercadoria?

  • De onde vêm as coisas?

  • Uma coisa é discordar da pizza levar ananás, outra é discordar que o ananás possa ser um ingrediente para a pizza.

 

Nota: as perguntas são registadas tal como são ditas, pelo que as frases podem não estar na sua versão gramatical perfeita.

 

As crianças tendem a dizer que a Filosofia é “uma maneira de ver as coisas”, “é uma coisa que está mal definida e temos de pensar melhor”, “é perguntas”, “é pensar pelo menos duas vezes antes de falar” e “é demorar muito tempo nas perguntas ou nos problemas”.

 

 

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01 de Junho, 2025

Dia Mundial da Criança

joana rita sousa / filocriatividade

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Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.  
(Artigo 12.º da Convenção sobre os Direitos da Criança, Adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal em 21 de Setembro de 1990)

 

 

Hoje, dia 1 de Junho, celebra-se o Dia  Mundial da Criança. A este propósito, gostaria de trazer para a roda de conversa a Convenção sobre os Direitos das Crianças.

 

o diálogo, as opiniões e a liberdade de expressão das crianças

Gostaria de me dedicar aos artigos 12.º e 13.º que tratam do direito à opinião e à liberdade de expressão, respectivamente. Ambos os artigos conhecem relação directa com a prática da Filosofia para/com Crianças e Jovens, uma vez que esta assenta numa estrutura de diálogo.

 

Num diálogo as crianças são convidadas a dizer o que pensam sobre um determinado assunto. Não se trata aqui de verificar os conhecimentos que a criança tem sobre esse assunto, mas de a convidar em pensar em voz alta, na companhia de outras pessoas.

 

Para que este ambiente de diálogo seja respeitador da opinião da criança, é necessário que a pessoa adulta que está a dinamizar o diálogo tenha uma relação de igual para igual com as crianças.

 

Deve a pessoa adulta evitar expressões como “Ah, pois vocês não chegam lá.” ou “Ia dizer esta palavra, mas se calhar é demasiado para vocês.”

 

Recordo-me de uma situação na qual a professora titular da turma foi convidada a participar na proposta de geração de perguntas, tal como as crianças. Foi convidada a partilhar a sua pergunta e antes de o fazer disse: “Eu escrevi uma pergunta, mas vocês não conseguem acompanhar estas palavras.”

 

Sendo a pessoa em questão a professora titular da turma, não poderia ter escrito numa linguagem acessível às crianças com quem está todos os dias? Além disso, que problema há em partilhar com as crianças palavras que não conhecem? Não será uma oportunidade de ampliação de léxico? Não poderia a professora simplesmente ler a sua pergunta, confiando que o grupo iria perguntar pelas palavras que não conhece?

 

o óbvio é óbvio?

As oficinas que dinamizo têm-me proporcionado vários momentos de “nunca tinha pensado nisso”. A criança está mais disponível para explorar possibilidades e essa atitude convida-me a praticar o exercício de abandonar o óbvio ou aquilo que parece óbvio.

O meu papel passa muito por assinalar o nosso processo colectivo de pensamento, sublinhando momentos de pensamento crítico (e de pensamento criativo).

Com frequência, torno visível a terminologia do pensamento crítico. Há dias, numa oficina, uma criança disse “isto não tem lógica”. A palavra lógica foi usada pela criança, não por mim. O que fiz foi perguntar o que queria dizer com isso. Uma vez esclarecido esse sentido, pela voz da própria criança, foi possível ao grupo investigar se as ideias que partilhámos durante o diálogo tinham ou não lógica.

 

a criança é um ser pensante

Alison Gopnik é uma autora que tem vindo a estudar a forma como os bebés desenvolvem o seupensamento. Há um livro traduzido em português, intitulado O Bebé Filósofo, cuja leitura recomendo.

Tendo em conta que a minha abordagem ao pensamento crítico passa pelo diálogo, diria que quando a mãe, o pai ou outra pessoa adulta cria momentos de conversa com a criança,interagindo num vai e vem de pergunta e resposta, está a modelar uma prática de escuta, além de estar a criar momentos de relação com o mundo e a sua tradução em palavras. Portanto, um bebé que está a aprender a falar conhecerá muitos benefícios em estar rodeado de pessoas que conversam.

Devemos considerar que as crianças são seres pensantes. As crianças não são o futuro ou o que querem ser quando forem grandes, as crianças são o presente e estão a descobrir o mundo.

 

a prática da humildade intelectual

Dizer que estar lado a lado com uma criança, disponível para descobrir o mundo, é nivelar por baixo, implica assumir uma certa arrogância intelectual por parte da pessoa adulta. A meu ver, o pensamento crítico consiste na prática da humildade intelectual para com as pessoas que nos rodeiam, o que inclui crianças e jovens. Diria que ajuda muito olhar para a criança como uma pessoa inteira.

Há uns anos num jardim-de-infância, na sala dos 5 anos, perguntei às crianças quantas pessoas estavam na sala. As crianças contaram três: eu, a educadora e a assistente operacional. Para aquele grupo uma criança não era uma pessoa, pois ser pessoa está associado a adulto. O diálogo seguiu com a investigação do que é ser uma pessoa.

Termino com algumas perguntas dirigidas a quem é pai, mãe, avô ou avó, e para quem trabalha na área da educação:

  • De que forma a criança se envolve no seu processo de aprendizagem?
  • Quando foi a última vez que o seu filho escolheu uma actividade?
  • Costuma conversar com as crianças sobre as decisões que tomam em família?
  • Costuma conversar com as crianças sobre as decisões que são tomadas na escola?
  • Tem por hábito pedir às crianças que escolham ou que votem em decisões? O que faz com o resultado dessa escolha ou votação?

As pessoas adultas decidem muitas coisas pelas crianças – e com boas razões, entenda-se – mas nem sempre as escutam nesse processo de decisão. O Conselho Nacional de Educação lançou uma recomendação nesse sentido.

Escutar parece algo muito óbvio e corriqueiro – será que escutamos verdadeiramente?

Uma última sugestão: pergunte à criança: “o que queres ser?” e não “o que queres ser quando fores grande?” Sei que o Professor José Pacheco aprova esta ideia.