Mundo Cruel/Cruelty Bites
Ellen Duthie e Daniela Martagón, Wonder Ponder
No final de uma oficina de filosofia com uma turma do 2.º ano do 1.º ciclo, o Luís (nome fictício) veio despedir-se de mim. Muito sorridente, com a mochila aos ombros e o casaco na mão, chegou-se ao pé de mim e disse: sabes, Joana, tenho uma pergunta. Porque é que a vida é tão cruel? Então, tchau e até à próxima.
Nem tive tempo de digerir a pergunta, apenas respondi com um “Obrigada, até à próxima!”
A pergunta do Luís tem um pressuposto: o mundo é cruel. Queremos saber quais as razões para tanta crueldade.
Lembrei-me do livro-objecto ou livro-caixa da Wonder Ponder que se intitula Mundo Cruel/Cruelty Bites (disponível em espanhol, inglês e italiano). Nesta caixa encontramos catorze cenas do quotidiano cruel, umas mais óbvias do que outras.
Afinal, quem nunca matou uma formiga? É comum hesitarmos no momento de matar uma mosca? Como se manifesta a crueldade nos recreios da escola? E se houver um ser alienígena que decide ser cruel para com os seres humanos, assim como os seres humanos são para os animais?
Nas notícias escutamos notícias de crueldade humana praticada entre seres humanos. A pergunta do Luís é, por isso, urgente. Porque é que a vida é tão cruel?
Importa dialogar sobre a crueldade. Note que dialogar sobre a crueldade não nos torna automaticamente pessoas cruéis. O mesmo acontece quando dialogamos sobre o amor ou a empatia: não nos tornamos automaticamente pessoas amorosas ou empáticas. Mas na hora do diálogo, temos a tendência para escolher os temas positivos em vez dos temas negativos.
Es cierto que a los niños les gustan las historias amables, pero también adoran las historias oscuras, sombrías o inquietantes. (Ana Garralón)
No meu portefólio de oficinas disponibilizo oficinas sobre temas como a crueldade, a guerra e a morte. Confesso que não são os temas mais procurados pelas pessoas adultas que escolhem as oficinas para as crianças.
Ainda assim, os temas surgem nos diálogos, mesmo naqueles que têm temas mais “fofinhos” ou que as pessoas adultas consideram mais adequados para as crianças e os jovens. As crianças perguntam pela crueldade, pela morte e pela guerra. Têm curiosidade.
Cruelty Bites, com texto da Ellen Duthie e ilustrações da Daniela Martagón é uma excelente proposta para trabalhar a crueldade com crianças, jovens e pessoas adultas. Como qualquer tema, devemos criar um ambiente que convida ao diálogo. Lembre-se que não estamos ali para dialogar sobre uma acção cruel específica de uma criança, mas para encontrar aquilo que há de comum na crueldade.
subscreva a newsletter #LivrosPerguntadores
livro à venda: Como desenvolver o pensamento crítico das crianças - Parar, Pensar, Escutar, Dialogar