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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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28 de Maio, 2025

O Labirinto dos Sentidos

de Laura Luz Silva e Ana Luísa Oliveira

joana rita sousa / filocriatividade

Para Tchékhov, a literatura infantil, enquanto género, parecia-lhe uma construção artificial e desnecessária: as crianças deveriam ler aquilo que é lido por adultos, não havendo qualquer razão para a existência de uma literatura dedicada aos mais novos. É o critério da arte que deve prevalecer, não o da idade. "As crianças devem receber apenas aquilo que também seja adequado para adultos. Andersen, A Fragata Pallada, Gogol, são facilmente lidos tanto por crianças como por adultos. Não se devem escrever livros para crianças, mas sim saber escolher, entre o que foi escrito para adultos, aquilo que lhes pode ser dado — ou seja, verdadeiras obras de arte." Resumindo, não há necessidade de inventar um tipo especial de literatura. O que é preciso é saber escolher.” (Afonso Cruz,Acabar com a literatura para crianças, SAPO)

 

Tal como acontece com a filosofia para crianças, que poderia chamar-se apenas filosofia, também a literatura infantil poderia apenas chamar-se literatura. Assim, o livro O Labirinto dos Sentidos deixaria de ser arrumado na secção infantil das bibliotecas ou das livrarias e estaria algures na secção da filosofia ou da neurociência.

Neste livro, Laura Luz Silva propõe-nos uma viagem pelo País das Maravilhas dos Sentidos. Tal como a Alice de Lewis Carrol, a Alma de Laura é convidada a fazer uma viagem inesperada. Nessa viagem encontra animais que têm sentidos muito apurados; por exemplo: uma coruja que vê muito melhor no escuro do que o ser humano comum e um cão (que poderia ser o meu Félix) que tem um olfacto muito mais apurado do que o ser humano comum.

Na linha do trabalho de Thomas Nagel, que pergunta como é ser um morcego?, apetece perguntar: como é ser uma coruja? Como é ser um cão? Até porque talvez não estejamos assim tão longe de um cenário de ver tão bem quanto uma coruja ou cheirar tão bem como um cão. Ou ainda melhor.

Neil Harbisson é um ciborgue que vive com um dispositivo, uma antena, que lhe permite sentir mais cores do que o ser humano comum. Neil convida as pessoas a fazer updates ao seu corpo, da mesma forma que actualizamos um dispositivo como o smartphone.

O Labirinto dos Sentidos presenteia-nos com uma narrativa que informa sobre os sentidos e a forma como estes são trabalhados pela nossa mente.

É um livro que conta uma história e que informa.

A autora assume um compromisso com a verdade científica e convida as pessoas leitoras a saber mais sobre a forma como o nosso cérebro trabalha aquilo que nos chega pelos sentidos. É importante que livros como este existam e que sejam lidos por crianças, jovens e pessoas adultas.

Ler este livro lembra-nos que o ser humano é um ser vulnerável e vive cheio de dúvidas.

Citando a autora, nós, os seres humanos “não somos os melhores a tudo.” Precisamos pôr em prática o sentido da humildade, enquanto espécie que habita o planeta Terra.

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27 de Maio, 2025

Sobre os Sentimentos

por António de Castro Caeiro

joana rita sousa / filocriatividade

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Um sentimento nasce, cresce e morre. Ele afeta-nos, seja através de uma pessoa ou de uma circunstância, alegrando-nos ou entristecendo-nos.
“Sobre os Sentimentos” é um Ciclo de 10 Conferências apresentadas por António de Castro Caeiro ao longo da Temporada 2024/25 do CCB, entre 3 de outubro de 2024 e 26 de junho de 2025.
Propomos reconstituir o que sentimos, desde o espanto inicial até às experiências de desejo e de ira, de saudade e de melancolia, e explorar o sublime, a ânsia de liberdade, o amor e a esperança em tempos de descontentamento.

 

disponível para escuta no spotify

26 de Maio, 2025

oficinas vitais sobre assuntos fatais

- pensar e dialogar sobre a morte é pensar e dialogar sobre a vida

joana rita sousa / filocriatividade

 

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De Outubro de 2024 até Maio de 2025 aconteceram quatro Oficinas Vitais sobre Assuntos Fatais, nos Cemitérios dos Prazeres e Alto de São João.

As duas primeiras oficinas, Entrevista ao Esqueleto, permitiram recolher perguntas sobre a morte e sobre a vida. Famílias com crianças dos 7 aos 11 anos partilharam perguntas que nos fizeram companhia na oficina de Maio. Durante a oficina de Abril perguntámos pelo sentido da vida, numa manhã de domingo chuvosa no Alto de São João. Em Maio, as perguntas que fizeram parte da Entrevista ao Esqueleto foram novamente o foco do nosso diálogo que convidou a arriscar respostas. 

O tema da morte surge espontaneamente nos diálogos que dinamizo com crianças e jovens. Há curiosidade no tema. Frequentemente as pessoas adultas evitam o tema, por considerar difícil ou inapropriado para crianças. 

Influenciada pelo trabalho de Ellen Duthie e da Wonder Ponder, pensei em oficinas cujo tema seria a morte. Quando surgiu a oportunidade criada pela equipa dos Cemitérios de Lisboa, não hesitei. Filosofar num cemitério é um convite explícito para pensar a vida e a morte. 

Contei com o apoio da equipa dos Cemitérios, nomeadamente da Gisela Monteiro, para conhecer os espaços dos Prazeres e do Alto de São João, para que as oficinas pudessem habitar aqueles espaços. 

 

As Oficinas Vitais sobre Assuntos Fatais de Outubro de 2024 foram integradas na 3.ª Semana Cultural dos Cemitérios de Lisboa, enquanto que a oficina de Maio de 2025 integrou a WDEC - Week of Discovering European Cemeteries

 

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Tem sido um gosto fazer parte da oferta cultural dos Cemitérios de Lisboa com estas propostas para Parar, Pensar, Escutar e Dialogar sobre a Vida e a Morte. 

Longa vida às Oficinas Vitais sobre Assuntos Fatais!

20 de Maio, 2025

pensar do outro lado do espelho - sobre o trabalho de mediação cultural e filosófica

joana rita sousa / filocriatividade

Na semana de 5 a 10 de Maio estive em Braga, a convite do ATLAS - Programa de Mediação Cultural.

A propósito da presença da obra I’ll be your mirror #1, de Joana Vasconcelos, na rua, junto ao Mercado Municipal, tive a oportunidade de desenvolver um trabalho de mediação cultural e filosófica com crianças e jovens.

“Olha, milhões de mim!” - disse uma das crianças ao observar o seu reflexo nos espelhos. São 255 espelhos de um lado e outros 255 do outro lado. A obra está posicionada de tal forma que nos permite entrar dentro da máscara - ou olhar para dentro.

 

braga cultura

Máscara, espelho e reflexo (e reflexão) foram as palavras-chave que nortearam alguns dos diálogos que tiveram lugar junto à obra e também numa sala cedida pela Comunidade Intermunicipal do Cávado.

Nesta sala foi possível criar uma instalação a partir dos contributos das crianças e jovens ao longo das oficinas.

Tivemos oportunidade de parar, pensar, escutar e dialogar a partir daquilo que observamos. Experimentámos diferentes formas de observação, beneficiando do facto da obra se encontrar ao ar livre. Conversámos sobre aquilo que nos surpreendeu, assinalando as interrogações que a máscara reflectiu em cada um de nós.

 

O facto de irmos construindo e mapeando as oficinas nas paredes da sala permitiu que cada grupo pudesse ir dialogando com as perguntas e as observações dos grupos anteriores.

Este trabalho foi único e irrepetível, pela obra em si, pelas circunstâncias de encontrar a obra numa rua de Braga, pelas crianças e jovens que participaram.

Agradeço ao Município de Braga pelo convite; à equipa da Divisão de Cultura pelo acolhimento e apoio, bem como às Professoras e Auxiliares que acompanharam as turmas.

 

O ATLAS recebeu o Prémio PNA 2024 - Território e Democracia Cultural, bem como o Prémio Melhor Projecto de Mediação - Prémios Património Ibérico, em 2023.

📷 Braga Cultura

 

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16 de Maio, 2025

perguntas guerreiras, diálogos pacíficos

joana rita sousa / filocriatividade

💣 "os humanos fazem guerra", diz o Lourenço de 6 anos, quando lhe perguntámos como explicar a um ser alienígena o que é um ser um ser humano.

 

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💣 a guerra faz parte da história da humanidade: do passado, do presente e do futuro.

💣 as oficinas Perguntas Guerreiras, Diálogos Pacíficos foram pensadas para abrir um espaço de reflexão sobre a humanidade, a guerra e a paz.

💣 tive a oportunidade de levar estas oficinas ao Livros a Oeste, Festival do Leitor, na Lourinhã. agradeço muito o convite para participar na 13.ª edição deste festival dedicado ao tema A HISTÓRIA É UMA ENCRUZILHADA:

«Estamos numa época decisiva para definir o que será, não só o período que completa este século, mas as linhas definidoras de uma certa conceção de Humanidade, questionada e desafiada pelas transformações que o próprio ser humano produziu e infligiu em todo o planeta em que vivemos. Criámos problemas que só nós podemos resolver. Porém, cada decisão implica consequências»; João Morales; programador do Livros a Oeste| Festival do Leitor.

 

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15 de Maio, 2025

Mundo Cruel/Cruelty Bites

Ellen Duthie e Daniela Martagón, Wonder Ponder

joana rita sousa / filocriatividade

No final de uma oficina de filosofia com uma turma do 2.º ano do 1.º ciclo, o Luís (nome fictício) veio despedir-se de mim. Muito sorridente, com a mochila aos ombros e o casaco na mão, chegou-se ao pé de mim e disse: sabes, Joana, tenho uma pergunta. Porque é que a vida é tão cruel? Então, tchau e até à próxima.

Nem tive tempo de digerir a pergunta, apenas respondi com um “Obrigada, até à próxima!”

A pergunta do Luís tem um pressuposto: o mundo é cruel. Queremos saber quais as razões para tanta crueldade.

Lembrei-me do livro-objecto ou livro-caixa da Wonder Ponder que se intitula Mundo Cruel/Cruelty Bites (disponível em espanhol, inglês e italiano).  Nesta caixa encontramos catorze cenas do quotidiano cruel, umas mais óbvias do que outras.

Afinal, quem nunca matou uma formiga? É comum hesitarmos no momento de matar uma mosca? Como se manifesta a crueldade nos recreios da escola? E se houver um ser alienígena que decide ser cruel para com os seres humanos, assim como os seres humanos são para os animais?

Nas notícias escutamos notícias de crueldade humana praticada entre seres humanos. A pergunta do Luís é, por isso, urgente. Porque é que a vida é tão cruel?

Importa dialogar sobre a crueldade. Note que dialogar sobre a crueldade não nos torna automaticamente pessoas cruéis. O mesmo acontece quando dialogamos sobre o amor ou a empatia: não nos tornamos automaticamente pessoas amorosas ou empáticas. Mas na hora do diálogo, temos a tendência para escolher os temas positivos em vez dos temas negativos.

Es cierto que a los niños les gustan las historias amables, pero también adoran las historias oscuras, sombrías o inquietantes. (Ana Garralón)

No meu portefólio de oficinas disponibilizo oficinas sobre temas como a crueldade, a guerra e a morte. Confesso que não são os temas mais procurados pelas pessoas adultas que escolhem as oficinas para as crianças.

Ainda assim, os temas surgem nos diálogos, mesmo naqueles que têm temas mais “fofinhos” ou que as pessoas adultas consideram mais adequados para as crianças e os jovens. As crianças perguntam pela crueldade, pela morte e pela guerra. Têm curiosidade.

 

Cruelty Bites, com texto da Ellen Duthie e ilustrações da Daniela Martagón é uma excelente proposta para trabalhar a crueldade com crianças, jovens e pessoas adultas. Como qualquer tema, devemos criar um ambiente que convida ao diálogo. Lembre-se que não estamos ali para dialogar sobre uma acção cruel específica de uma criança, mas para encontrar aquilo que há de comum na crueldade.

 

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livro à venda:  Como desenvolver o pensamento crítico das crianças - Parar, Pensar, Escutar, Dialogar

11 de Maio, 2025

Philosophy Spring Festival, em Portimão

- em Maio e Junho

joana rita sousa / filocriatividade

philosophy spring festival

O Clube dos Filósofos Vivos da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão, tornou pública a programação da terceira edição do Philosophy Spring Festival, um evento cultural que decorrerá durante o mês de maio.

Trata-se de um festival de filosofia, música, cinema, arte, performance, teatro e literatura, cujo espírito “lado B” (da Escola e da filosofia que nela se ensina) pretende proporcionar aos jovens adolescentes experiências cognitivas e estéticas que sejam diferentes das que estão habituados, suscetíveis de lhes criar saudável “desassossego”, emoções novas e um forte encantamento, desejavelmente inesquecível.

A edição deste ano tem como tema principal o amor aos livros e à literatura. Os eventos que a seguir se elencam decorrerão em diferentes espaços e equipamentos da cidade, com um forte envolvimento de coletividades de referência e do tecido empresarial do concelho.

 

informações detalhadas disponíveis AQUI

08 de Maio, 2025

como escutar melhor?

joana rita sousa / filocriatividade

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O livro de Topsy Page, Oracy, apresenta 100 ideias para colocar em prática na sala de aula. Gostaria de destacar seis ideias presentes no livro sobre escutar as crianças e os jovens.

 

A primeira ideia parece muito óbvia: quando uma criança está a falar, devemos esperar que termine a sua intervenção. Será que sempre fazemos isto? Não.

Ainda há dias numa oficina para famílias, a Maria (nome fictício) tomou a palavra para falar e logo no início a sua mãe interrompeu com um “Não é isso…”. Eu fiz sinal à mãe para que pudéssemos escutar a Maria até ao fim.

 

Devemos esperar uns segundos após a criança terminar a sua fala, criando momentos de pausa, de silêncio. Este tempo é essencial para que as palavras façam eco nas nossas cabeças.

 

Segunda ideia: mostre disponibilidade e abertura para escutar aquilo que a criança está a dizer. Muitas vezes as/os professoras/es assumem que estão à espera que a criança diga isto ou aquilo, querem muito que “cheguem lá”. Temos de nos libertar desta ideia das crianças “chegaram lá” e escutar as suas palavras para que possamos observar o caminho do seu pensamento.

 

Terceira ideia: após a intervenção da criança, responda (ou pergunte) de uma maneira que torne evidente que está verdadeiramente interessada/o em escutar as suas palavras e em compreender. Exemplos: “Podes explicar um pouco mais a ideia X?” ou “Podes dar um exemplo de Y?”.

 

Quarta ideia: peça à criança ou ao jovem para repetir o que disse, caso não tenha compreendido ou escutado bem. Assumir que não escutámos bem é uma forma de modelar a dificuldade da escuta. Em vez de assumir que a criança disse isto ou aquilo, por ser o que estávamos à espera, é melhor pedir para dizer de novo.

 

Quinta ideia: verifique se compreendeu exactamente o que a criança disse. “Deixa ver se compreendi, estás a dizer que…?” Recomendo que a nossa reprodução das palavras seja o mais fiel às palavras das crianças, evitando corrigir termos. Nem sempre as crianças usam os termos certos, porém podemos apresentar o termo mais adequado sem ter de dizer “o que disseste está mal, não é assim”. Em vez disso, diga: “julgo que o querias dizer com Y era X.”

 

Sexta ideia: torne-se consciente dos seus enviesamentos e dos pressupostos com os quais parte para o diálogo. Nas primeiras páginas do livro Como desenvolver o pensamento crítico das crianças sublinho a importância de sermos pessoas conscientes das lentes com as quais olhamos o mundo, o que inclui os nossos enviesamentos.

 

 

Não se apresse em implementar todas as ideias ao mesmo tempo.

 

Comece por uma e observe o que acontece.

 

A escuta é um elemento fundamental do diálogo, ao qual devemos prestar cada vez mais atenção. Se não nos escutarmos, não conseguimos dialogar, isto é, não conseguimos construir novas ideias a partir das ideias de cada pessoa envolvida no diálogo.

 

joana rita sousa

referência bibliográfica: Oracy, de Topsy Page (Bloomsbury)