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filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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27 de Março, 2025

Festival Internacional de Filosofia em Portugal – “Espanto”

joana rita sousa / filocriatividade

Logo Espanto - Festival Internacional de Filosofia

 

Entre os dias 19 e 22 de junho, Cascais será palco do primeiro Festival Internacional de Filosofia em Portugal – “Espanto”. Através de palestras, debates, apresentações artísticas e outras atividades, este evento pretende ser um espaço de reflexão e descoberta, onde a Filosofia se cruza com a vida real e se torna uma experiência coletiva.

 

Filósofos, pensadores e especialistas de várias nacionalidades reunir-se-ão para explorar o tema desta primeira edição: o medo, uma força invisível que pode paralisar, mas também transformar. O “Espanto” pretende questionar de que forma o medo influencia a sociedade e a vida individual, promovendo o pensamento crítico e a reflexão sobre os desafios do mundo contemporâneo. Com um programa diversificado, visa tornar a Filosofia acessível a um público amplo, dos oito aos 80 anos. Não vai faltar espaço para a Filosofia para crianças e jovens.

 

Entre os oradores já confirmados, encontram-se nomes como Peter Sloterdijk, Donatella Di Cesare, Bernat Castany Prado, Daniel Innerarity, Gilles Lipovetsky, Michel Eltchaninoff, Samantha Rose Hill, Sebastian Sunday Grève. A nível nacional serão chamados a palco António de Castro Caeiro, Manuel Curado, Marta Faustino, Arlindo Oliveira, Joana Bértholo, Artur Ribeiro, Beatriz Batarda, Carlos Fiolhais, Edson Athayde, Joana Rita Sousa, Luísa Lopes e David Erlich.

 

As atividades decorrerão em seis espaços distintos em Cascais, escolhidos criteriosamente para garantir uma abordagem inclusiva e interdisciplinar, cruzando várias áreas do saber e proporcionando uma experiência imersiva aos participantes.

 

Nos dias 19 e 20 de junho, em três bairros sociais diferentes, selecionados pela Câmara Municipal de Cascais, realizar-se-ão sessões com dois filósofos em cada um dos bairros, que terão a oportunidade de expor a sua perspetiva sobre o tema da edição e conversar com o público presente. Cada sessão terá a duração de cerca de duas horas e contará com um moderador, culminando na apresentação de um artista local.

 

Ainda no dia 20, às 19h30, terá lugar no Restaurante Conversas da Gandarinha o jantar “In Vino Veritas”, que irá reunir, num evento exclusivo e intimista, os principais parceiros do evento, filósofos, curadores, oradores, pensadores e todos os que possuírem o bilhete premium para marcar a abertura oficial do festival.

 

Inspirado na obra do filósofo dinamarquês Kierkeggaard, este momento pretende colocar em prática um dos grandes desafios da Filosofia – a procura pela verdade. Durante o jantar, haverá uma intervenção especial de um filósofo convidado e a possibilidade de participação dos presentes. O ambiente será enriquecido por performances artísticas, promovendo um espaço de convívio e troca de ideias.

 

No dia seguinte, o auditório da Casa das Histórias Paula Rego será o cenário de várias palestras, debates, conferências, diálogos que permitirão uma abordagem profunda, num formato mais acessível e não exclusivamente académico, do tema “o medo”.

 

Já os jardins do museu, das 10h00 às 17h00, transformar-se-ão em Ágoras, isto é, pequenos palcos circulares rodeados por cadeiras, onde o público poderá interagir diretamente com os oradores. Algumas dessas Ágoras serão dedicadas a um público mais jovem e infantil, promovendo o diálogo intergeracional.

 

Será numa destas ágoras que os vencedores do concurso para apresentação de um discurso sobre o medo, poderão apresentar o seu pensamento. Será também aqui que o público pode interagir com os filósofos que passarão por uma ágora onde conversarão e responderão a perguntas. Estão previstas cinco ágoras com atividades de acesso gratuito ao longo do dia 21.

 

O festival encerrará com dois momentos de grande impacto: as Aulas Magnas, que terão lugar no Anfiteatro do Parque Marechal Carmona, no dia 21, das 21h30 às 23h00, e no dia 22, das 11h00 às 13h00. Dois oradores apresentarão as suas reflexões sobre o tema central do evento, seguindo-se uma entrevista conduzida por uma figura pública de relevo.

 

A última Aula Magna assinalará o encerramento do festival, com uma homenagem a uma personalidade que seja uma referência no universo do pensamento.

 

Os bilhetes para o festival já estão disponíveis, com preços especiais early bird até dia 30 de abril. Existem duas modalidades: Geral (38 €), que inclui o acesso às iniciativas que acontecerão no Parque Marechal Carmona e na Casa das Histórias Paula Rego, e Premium (166 €), que permite a participação em todas as atividades, com lugar reservado, incluindo o jantar “In Vino Veritas”. Algumas atividades, como as Aulas Magnas e as sessões noturnas, serão gratuitas, mas requerem inscrição prévia. A partir do dia 1 de maio, os estudantes poderão adquirir bilhetes com 15% de desconto.

 

Com o Festival “Espanto”, Cascais reforça o seu compromisso com a promoção da cultura e do pensamento crítico, organizando um evento que desafia as convenções e convida o público a questionar e compreender melhor o mundo que o rodeia.

 

Mais informações sobre o programa e aquisição de bilhetes aqui.

 

27 de Março, 2025

a filosofia para/com crianças é uma causa justa?

- reflexão a partir do livro O Jogo Infinito, de Simon Sinek

joana rita sousa / filocriatividade

No livro O Jogo Infinito, Simon Sinek propõe-nos a ideia de Causa Justa.

O que é a Causa Justa? "É sobre o futuro. Define para onde vamos. Descreve o mundo em que esperamos viver e em relação ao qual assumiremos o compromisso de o ajudar a construir." (p. 53)

A Causa Justa é algo que está em construção, o resultado dessa construção é desconhecido. Estas características permitem-nos realizar ajustes e melhorias no sentido de alcançarmos esse horizonte. Sinek dá como exemplo para Causa Justa o Cofre Global de Sementes de Svalbard (Noruega), uma ideia que radica na visão de Nikolai Vavilov, um homem que dedicou a sua vida à recolha e salvaguarda de um banco de sementes

(...) em 2008, foi lançada a "Arca de Noé" das plantas. Uma instalação localizada em Svalbard, na Noruega, em pleno permafrost ártico, foi apelidada de "Doomsday Seed Bank" ("Banco de Sementes do Juízo Final", traduzindo à letra). 

"(...) uma Causa Justa é uma visão específica de um estado futuro que ainda não existe. E para que uma Causa Justa dê um rumo ao nosso trabalho, para que nos motive ao sacrifíceio, e para que perdure, não só no presente, mas em tempos para lá do nosso, deve satisfazer cinco padrões", diz Sinek na p. 57. Ao ler estas palavras surgiu-me a ideia de olhar para a filosofia para/com crianças como uma Causa Justa. Será que cumpre com os critérios indicados pelo autor do livro O Jogo Infinito?

Vejamos que critérios são esses. Uma Causa Justa deve ser a favor de alguma coisa, deve ser inclusiva, deve ser orientada para servir, deve ser resiliente e idealista. 

A filosofia para/com crianças é a favor de alguma coisa? Sim. Há um sentido afirmativo e optimista no programa que foi inicialmente proposto por Lipman e Sharp, ao defender que as crianças são capazes de pensar e agir filosoficamente no mundo e que o exercício de pensar com outras pessoas, em comunidade, permite um pensamento mais claro sobre o mundo que nos rodeia. 

A filosofia para/com crianças é inclusiva? Sim. A filosofia para/com crianças inclui (diria, integra) as crianças no acto de filosofar. Até ser proposto um programa para crianças a partir dos 3 anos, estamos a abrir as portas da filosofia para as pessoas que até então não tinham acesso a elas: as crianças.

A filosofia para/com crianças é orientada para servir? Sim. Este movimento visa proporcionar às crianças um tempo e um espaço para dialogar e pensar em conjunto. Enquanto pessoa que se dedica ao trabalho de facilitar oficinas de filosofia, assumo a postura de quem pretende que as crianças possam beneficiar o melhor possível desse tempo e espaço em diálogo. Claro que eu também beneficio desse processo, pois tenho a oportunidade de exercitar o meu pensamento, de rever as minhas ideias, de pensar noutros pontos de vista e de escutar as crianças. 

A filosofia para/com crianças é resiliente? Sim. O movimento tem cerca de 60 anos e tem resistido às mudanças e às crises. Ann Margaret Sharp relata que alguns dos projectos que encabeçava chegaram a ser perseguidos em escolas de índole mais conservadora. 

A filosofia para/com crianças é idealista? Sim. A visão de Lipman e Sharp de estender a ideia de comunidade de investigação filosófica às salas de aula é, nas palavras de Sinek, grande, ousada e inantigível. Sabemos que a tarefa é gigantesca e que dificilmente a vamos alcançar. 

Tenho de continuar a pensar nesta ideia da filosofia para/com crianças e jovens como uma Causa Justa, segundo o entendimento de Sinek. Irei voltar a esta reflexão. 

 

O Jogo Infinito, de Simon Sinek, tradução de João Carlos Silva, Editora Lua de Papel