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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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03 de Fevereiro, 2025

10 passos para praticar a simplicidade

A simplicidade não é natural e exige esforço, pois implica conhecer muito bem aquilo de que estamos

joana rita sousa / filocriatividade

simplicidade.png

 

Edward de Bono: uma referência

Conheci o trabalho de Edward de Bono algures em 2003 ou 2004 quando frequentava uma pós-graduação em gestão estratégica de recursos humanos. Uns anos mais tarde, certifiquei-me na técnica dos seis chapéus do pensamento, com a qual aprendi muito e que interiorizei na minha prática no âmbito da filosofia para crianças – e na minha vida, em geral.

O autor de Ensine os seus filhos a pensar acompanhou-me na minha dissertação de mestrado em filosofia para crianças, intitulada “Queres saber? Pergunta.”

Em 1967, de Bono criou a noção de pensamento lateral:

Lateral Thinking is a set of processes that provides a deliberate, systematic way of thinking creatively that results in innovative thinking in a repeatable manner. While critical thinking is primarily concerned with judging the true value of statements and seeking errors. Lateral thinking is more concerned with the “movement value” of statements and ideas.

 

simplicidade_3

 

simplicidade, o livro

Há um livro menos conhecido de Edward de Bono que é uma belíssima inspiração para os tempos que vivemos, onde reinam os procedimentos complicados, a comunicação pouco clara, os processos que não são do conhecimento dos seus intervenientes.

Esse livro chama-se Simplicidade e disponho da versão inglesa, publicada na Penguin Books (1999). Tive oportunidade de recomendar este livro na conversa que tive com o Pedro Rebelo e que podem ver ou ouvir no seu canal youtube.

 

simplicidade versus complexidade

A simplicidade parece ser inimiga de seriedade. as pessoas sérias usam palavras complexas e citam autores ou livros que só alguns conseguem ler, tendo em conta a sua complexidade.

O simples parece associado à palavra fácil e quando Edward de Bono diz “a simplicidade exige esforço”, parece que entra no campo do contraditório. Se é simples, não deveria ser natural ou pelo menos não exigir esforço?

A simplicidade não é natural e exige esforço, pois implica conhecer muito bem aquilo de que estamos a falar. Se conhecermos bem o assunto, a simplicidade deixa de ser um trabalho difícil.

(…) there is also the underlying fear that the role of the interpreter will no longer be necessary if the matter is simple enough for ordinary people to understand and use. Academics feel a great insecurity about this. (p. 67)

 

o caso da filosofia e da filosofia aplicada

A crítica que de Bono faz aos académicos é pertinente. vou partilhar um exemplo, o da filosofia aplicada, onde a filosofia para crianças e jovens se insere. Afirmar e defender que a filosofia pode acontecer, pode ser praticada junto de crianças de 4 e 5 anos, parece ameaçar a complexidade e o elitismo que, durante tantos anos, se associou à filosofia.

Os filósofos aplicados (ou filósofos práticos) foram acusados de estar a simplificar uma disciplina que se quer (entenda-se, que alguns querem) manter nas prateleiras das grandes universidades, às quais só alguns acedem.

 

simplicidade e 10 passos para colocar em prática

Da leitura que fiz do livro, gostaria de salientar os 10 passos para colocar a simplicidade em prática, seja na vida pessoal, seja na vida profissional. Edward de Bono chama-lhe métodos, aproximações ou técnicas. Do meu ponto de vista, chamar-lhe passos ajuda a visualizar que isto é um processo, uma caminhada e, acima de tudo, uma prática diária.

 

vamos a isto?

- fazer uma revisão histórica

quando nos deparamos com um processo ou um objecto que “sempre se fez assim” ou “sempre esteve ali”, é importante perceber qual o papel que já teve e, sobretudo, perguntar: “isto ainda faz falta?”

- cortar, para ficar com o essencial

neste ponto é importante livrarmo-nos do que é acessório e ficar com o essencial. aquilo cuja existência não tem justificação, deve ser abandonado.

- escutar

é importante escutar as pessoas que se encontram no fio da navalha, a tomar decisões em ambientes em que é necessário agir rapidamente. talvez essas pessoas possam ter uma visão e uma experiência daquilo que é ou não é necessário.

- combinar

neste ponto, de Bono refere-se à actividade de combinar funções diferentes que se encontram separadas. de Bono usa mesmo a expressão “matar dois coelhos de uma só cajadada”.

- extrair conceitos

trata-se da capacidade de extrair, definir e redesenhar conceitos, procurando a sua forma mais simples.

- admitir excepções

certamente vamos encontrar situações que se vão revelar excepções no processo. para evitarmos o complexo que é imaginar todas as possibilidades, deixamos estas situações para um procedimento especial, pensado à medida.

- re-estruturar

re-estruturar vai mais longe do que o processo de corte. nesta fase estamos a ser um pouco mais radicais e a pensar toda a estrutura.

- começar do zero

este começar do zero traduz-se em dar um passo atrás, começar de novo, ignorando a situação presente. neste passo pensamos em torno de valores chave e de prioridades. só depois fazemos a comparação com a situação presente.

- fatiar

pegamos na situação e cortamos a mesma às fatias, para ser mais simples trabalhar com cada uma delas.

- praticar a po (provocação)

em inglês, este passo chama-se “provocative amputation” e implica abdicar de cada um dos elementos para perceber se o sistema pode funcionar sem esse elemento. este é o elemento po (provocação na operação) que decorre do pensamento lateral.

 

por que razão “fugimos” da simplicidade?

The easiest way to be “superior” is to pretend to understand what others cannot understand. For that you need complexity. (p. 66)

 

Há quem adore a complexidade e, por oposição, não seja fã da simplicidade. esta dá trabalho, como já aqui foi afirmado, no seguimento da leitura do texto de Edward de Bono.

Depois, há a questão do hábito, da rotina: estamos habituados a fazer as coisas daquela maneira e mudar exige que eu páre para pensar, reveja procedimentos para avaliar da sua necessidade – todos aqueles passos que de Bono enunciou. Isto consome tempo. Na espuma dos dias preferimos perder tempo a fazer o mesmo da mesma maneira, em vez de investir tempo em fazer o mesmo, de forma simples.

Para muitos, admitir que há uma forma mais simples de fazer algo é assumir que se é tonto ou que não se viu algo que era óbvio, de tão simples que era.

Em tempos, durante uma oficina de filosofia, Oscar Brenifier afirmou: “a filosofia serve para dizer coisas óbvias.”  Eu acrescento: e simples.

03 de Fevereiro, 2025

6 chapéus do pensamento e a gestão de reuniões

joana rita sousa / filocriatividade

Os 6 chapéus do pensamento são uma técnica criada por Edward de Bono. No prefácio ao livro Seis Chapéus do Pensamento (editado pela Pergaminho), de Bono afirma:

“O método dos Seis Chapéus do Pensamento poderá ser a mudança mais importante que ocorreu no pensamento humano, nos últimos dois mil e trezentos anos.” (p. 9)

 

Aquilo que de Bono nos propõe é inovador, tendo em conta que nos dias de hoje se promove o multitasking, a reunião zoom enquanto se cozinha, ir às compras enquanto se ouve o podcast preferido.

A proposta passa por pensar uma coisa de cada vez:

“O pensador torna-se capaz de separar a emoção da lógica, a criatividade da informação, e por aí fora. (…) Os seis chapéus do pensamento permitem-nos reger o nosso pensamento, da mesma maneira que um maestro rege uma orquestra. Podemos evocar o que queremos. Em qualquer reunião, este conceito é muito útil para desviar as pessoas do seu caminho habitual e pô-las a pensar de maneira diferente sobre o assunto em mãos.” (p. 9)

 

os 6 chapéus como um jogo

A utilização dos seis chapéus pode ser encarada de forma lúdica. O jogo tem como características o facto de ter regras que são partilhadas por todas as pessoas participantes. Da mesma forma, é importante partilhar com os elementos da nossa equipa quais são as regras de utilização dos chapéus do pensamento e, antes de tudo, o que significa cada um deles.

“A confusão é o maior inimigo do bem pensar. Tentamos fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo. Procuramos informação. Somos afectados por sentimentos. Procuramos novas ideias e opções. Temos de ser cautelosos. Queremos encontrar os benefícios. São demasiadas coisas.” (p. 21)

 

seis chapéus, seis linhas de pensamento distintas

O que significa cada um dos chapéus? Que código é este que nos ajuda a pensar?

chapéu azul actua como maestro ou organizador da agenda ou plano. Decide o que vamos fazer a seguir, mantém o foco e é responsável por fazer pontos de situação.

chapéu branco tem a seu cargo a informação – a que está disponível ou aquela de que precisamos. Não avalia se é bom ou mau, apenas recolhe informação ou elenca aquela que nos falta.

chapéu vermelho dá-nos um tempo específico para exprimir emoções ou sentimentos. É o chapéu do gut feeling. Deve ser usado durante um tempo limitado (até 30 segundos) e não precisa de justificação.

chapéu preto assume uma postura de cautela, identificando problemas e dificuldades. É importante justificar de que forma é que certas tomadas de decisão podem ser desvantajosas.

chapéu amarelo procura os benefícios de uma certa ideia, devendo justificar esses benefícios. Traz para o diálogo as vantagens e as oportunidades de uma certa ideia.

chapéu verde convida a pensar em ideias novas, quando são necessárias alternativas. Pede um esforço criativo, um olhar atento às possibilidades. Não temos de avaliar se as ideias novas são boas ou não, esse papel é assumido pelos outros chapéus. (Journal ActiveMedia)

 

Quando uma equipa domina a linguagem dos chapéus e o seu significado, torna-se mais fácil e até lúdico pedir uma mudança de pensamento: “ora, vamos lá pensar com o chapéu amarelo…”, “esse pensamento está alinhado com o chapéu preto”, “vamos partilhar o que nos diz o chapéu vermelho de cada um.”

de Bono recomenda que as pessoas se familiarizem com a linguagem dos seis chapéus do pensamento.

 

6 chapéus do pensamento e a gestão de reuniões 2

utilização dos 6 chapéus do pensamento

A utilização dos 6 chapéus pode acontecer de forma isolada ou de forma sequencial. Assumindo que as pessoas em sala conhecem a técnica posso optar por dizer “precisamos de um momento chapéu verde” em vez de “precisamos de criatividade”.

Há algumas sequências que podem ser úteis para certos objectivos. Imaginando que pretendo escolher entre X e Y, a proposta de sequência passa por chapéu azul – chapéu verde – chapéu amarelo – chapéu preto – chapéu vermelho – chapéu azul.

De forma a averiguar alternativas possíveis: chapéu azul – chapéu verde – chapéu amarelo – chapéu preto – chapéu azul.

Uma sequência possível para a resolução de problemas: chapéu azul – chapéu branco – chapéu verde – chapéu vermelho – chapéu amarelo – chapéu preto – chapéu verde – chapéu azul.

 

os 6 chapéus e as reuniões

Em reunião, os 6 chapéus do pensamento trazem benefícios (chapéu amarelo), nomeadamente:

- permite que as pessoas participantes tenham acesso a uma agenda orientada;

- promove a prática de um pensamento estruturado;

- reduz o tempo da reunião;

- cria condições para que cada pessoa participe;

- promove o trabalho em equipa, bem como o respeito pelo pensamento de cada pessoa.

 

Para que as reuniões sejam focadas e produtivas é importante que as pessoas usem o chapéu que foi designado. Caso seja o chapéu amarelo, cada pessoa deve tentar usar aquela linha de pensamento. Ainda que eu não seja grande fã daquela ideia, devo procurar ver as vantagens da mesma.

A pessoa gestora da reunião deverá ter em conta que o chapéu azul abre e fecha a reunião. o chapéu azul de abertura vai dar o tom da reunião, indicando a razão para estarmos a reunir, definindo os tópicos, identificando o que se pretende alcançar e antecipando os passos que vamos dar.

No final, o chapéu azul volta a entrar em cena para indicar o que foi alcançado, o resultado ou a conclusão a que chegámos, estabelecendo de forma simples e claro quais serão os próximos passos.

Aquilo que acontece entre o chapéu azul de abertura e o de fecho vai depender do tipo de reunião que temos em mãos: é uma avaliação de projecto? uma avaliação de desempenho? vamos procurar ideias novas?

 

*

Os chapéus do pensamento não devem servir de rótulo para as pessoas, mas sim como um instrumento lúdico para pensarmos em conjunto:

“Os chapéus transformam algo muito sério e urgente (precisamos de uma ideia para responder a um briefing!) num momento de jogo e de descoberta entre as pessoas da equipa.” (Journal ActiveMedia)

 

📚 Edward de Bono (2005) Os Seis Chapéus do Pensamento, Lisboa: Pergaminho

📷 Gabrielle Henderson Unsplash

03 de Fevereiro, 2025

FLAI 2025

joana rita sousa / filocriatividade

FLAI 2025

O VI Curso Internacional de Filosofia, Literatura, Arte e Infância tem data marcada para 2, 3 e 4 de Julho. Este ano perguntamos sobre perguntas!

Participei no FLAI 2023 como oradora e foi uma experiência incrível.

Além de acontecer num sítio lindo, mas lindo (Albarracín), o programa é cautelosamente pensado e transpira qualidade. Para saber mais sobre as edições passadas, consulte AQUI.

No final do mês de Abril haverá mais novidades sobre o FLAI 2025.