livros que dialogam: O que a chama iluminou e O que é que eu estou aqui a fazer?
livros na mesa de cabeceira
Tenho vários livros na mesa da cabeceira. Por vezes, a mesa da cabeceira é também a mesa da sala ou outro canto qualquer da casa. Dizer que tenho livros na mesa da cabeceira significa que estou a ler vários livros ao mesmo tempo.
Em Outubro, durante o FOLIO, comprei o livro O que é que eu estou aqui a fazer?, uma conversa entre João Francisco Gomes e Ricardo Araújo Pereira. Li uma boa parte nos dias do FOLIO, mas depois perdi o ritmo da leitura. Recentemente comprei o último livro do Afonso Cruz, O que a chama iluminou, que me fez voltar a abrir o livro-conversa sobre deus, a fé, o humor e a morte.
diálogos entre os livros
Estes dois livros dialogam entre si. Aqui e ali, há pedaços de um livro e do outro que conversam, que perguntam e que respondem, que trocam ideias. Nem sempre se trata de um excerto, mas sim da leitura que eu faço daquilo que encontro no livro e que interrompe a leitura que está a acontecer:
Roland Barthes dizia que lhe interessavam os livros que fazem levantar a cabeça, isto é, que interrompem a leitura. (Afonso Cruz, O que a chama iluminou, p. 83)
O livro de Afonso Cruz convida-nos a pensar sobre o fim, sobre a morte. Também este é um tema presente na conversa entre João Francisco Gomes e Ricardo Araújo Pereira: "(...) nós somos seres que vão a caminho da campa e que têm essa informação." (p. 131). Creio que esta seria uma boa forma de responder à pergunta: "o que é um ser humano?". O ser humano é o único ser terrestre que sabe que vai morrer.
a vida e a morte
Pensar a vida é pensar a morte. Também no FOLIO fui confrontada com a seguinte observação: "a joana é uma filósofa da morte." É curioso notar como falar sobre a morte traz esta ideia de obsessão com a mesma. Recuperando a leitura que António de Castro Caeiro faz da palavra filosofia, entendendo-a como uma obsessão pela transparência, assumo essa obsessão. A morte é algo que nos surge como profundamente opaco - e isto é algo que digo também sobre a vida. Entendendo a morte e a vida como dois lados da mesma moeda, diria que a obsessão pela morte é a obsessão pela vida.
Neste diálogo a par, entre dois livros, há ainda outra camada de diálogo: no livro de João Francisco Gomes e de Ricardo Araújo Pereira encontro algumas notas que registei de palavras do José Luís Peixoto durante uma conversa que teve lugar no FOLIO. Partilho aqui esta nota da fala de Peixoto: "O absoluto não é para nós. A perfeição não é para nós."
Estes livros entrelaçam-se na leitura que me provocam. Abrir o blog e escrever qualquer coisa sobre isso é uma forma de registar alguns dos ecos dessa minha leitura. Aproveito e recomendo a quem me lê que faça esse exercício, de se permitir provocar e/ou escutar diálogos entre os livros que tem na sua mesa de cabeceira.
Boas leituras.