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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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21 de Novembro, 2024

“Tu vais escrever tudo o que dizemos no papel?”

joana rita sousa / filocriatividade

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Tenho vindo a receber turmas do 1.º ciclo na Livraria Verney, em Oeiras, para filosofar.
 
No início da oficina, ao dar as boas-vindas ao grupo, procuro saber de que ano são, de onde vêm e se já alguma vez fizeram uma oficina de filosofia.
 
Às vezes recebo uns olhares meio franzidos. “Oficina de filosofia? O que é isso?”
 
Nesse momento, escrevo a palavra filosofia na folha de papel de cenário que temos no chão para registar o diálogo. “Filosofia”. E respondo: “Não vou dizer o que é, gostaria que experimentassem a oficina e depois no final voltamos a pensar nesta pergunta, o que é isso da oficina da filosofia.”
 
Uma das coisas que acontecem nas minhas oficinas de filosofia – e que se recomenda na prática da filosofia para crianças – passa pelo registo, no quadro ou em folhas de papel de cenário – dos diálogos que acontecem em sala. As crianças acabam por ver o processo de pensamento a acontecer, coisa que é
muito abstracta e, por isso, defendo que deve ser assinalada de forma palpável/visível.
 
Além disso, acontece uma espécie de magia ao escrever os pensamentos das crianças no quadro ou no papel de cenário: é que a rotina escolar já lhes ensinou que aquilo que se escreve no quadro deve ser mesmo muito importante. Sejam os textos a trabalhar, as contas que estamos a aprender ou a indicação dos TPC a fazer. É algo que é importante e por isso fica num sítio acessível a todas as pessoas presentes na sala.
 
Numa das oficinas, a dado momento, uma criança a quem vamos chamar levantou o braço: “Tenho uma pequena pergunta para ti”, disse-me. “Muito bem.” – disse eu – “E a tua pergunta tem a ver com aquilo que estamos a falar na oficina ou é sobre outra coisa?”
 
“Tem mais a ver com isto que estamos a fazer. Posso?”
 
“Claro que sim”, disse eu. Há coisas que só se percebem pela expressão dos meninos, a postura. Era nítido que havia uma perguntar a “incomodar” o Tiago. 
 
“Tu vais escrever tudo o que dizemos no papel?”, perguntou.
 
Sorri e disse: “Obrigada pela pergunta, Tiago. Não consigo escrever tudo, mesmo tudo, mas vou fazer o meu melhor para escrever as ideias que considerarmos importantes.”
 
No final da oficina, uns minutos antes da turma descer as escadas para esperar o autocarro, voltámos àquela pergunta que ficou “pendurada”. Afinal, o que é a Filosofia? Com base na experiência que aquele grupo teve na oficina, as respostas variaram entre “é pensar sobre um assunto, sem largar”, “é dizer o porquê de dizermos uma coisa”, “ver uma coisa de maneira diferente” e ainda “é dizer o que pensamos sobre alguma coisa”.
 
Nas oficinas filocriatividade há lugar para a prática do pensamento crítico (e aí entra o dizer o porquê), do pensamento criativo (sublinhado pelo ver uma coisa de maneira diferente), do pensamento colaborativo que convida a pensar em voz alta, escutando as ideias das outras pessoas. Por vezes concordamos, outras vezes discordamos. Há quem mude de ideias, há quem tome consciência das suas próprias.
 
Felizmente há papel de cenário para registar as ideias importantes, que podem ser sempre revistas e avaliadas por cada uma das pessoas presentes.
 
Assim acontece a Filosofia, num movimento de resolução da opacidade que o mundo nos oferece diariamente.
 
 
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