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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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29 de Setembro, 2024

O papel da pergunta no desenvolvimento do pensamento crítico

- formação 25h (CCPFC/ACC-129323/24)

joana rita sousa / filocriatividade

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🟡 estou muito contente com a possibilidade de desenvolver este curso "só" sobre perguntas, com acreditação junto do Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (CCPFC). 

🟣 obrigada à Casa do Professor por ser a "casa" deste e de outros cursos nas áreas da filosofia para/com crianças e jovens e pensamento crítico. 

 

as informações sobre o curso serão divulgadas em breve.

consulte a agenda #filocriatividade e /ou subscreva a newsletter gratuita neste link

 

______________________

25 de Setembro, 2024

As Coisas Invisíveis, de Andy J. Pizza e Sophie Miller

joana rita sousa / filocriatividade

as coisas invisíveis

 

Numa oficina de filosofia com crianças, falar de coisas que existem e coisas que não existem conduz-nos à perguntar “como é que sabes que existe?” ou “como é que sabes que não existe?”. Frequentemente ver ou já ter visto surge como um critério para deliberar sobre a prova da existência de algo. 

Depois surgem outras perguntas: viste mesmo? Viste através de uma fotografia? Viste num filme? Viste num livro? Alguém viu e contou-te? 

A visão é um sentido que nos orienta até na linguagem. Quando queremos saber se alguém está a acompanhar uma conversa, dizemos: estás a ver aquilo que te digo? Falamos da nossa visão do mundo quando queremos dizer qual é o nosso entendimento do mundo. Na Alegoria da Caverna, de Platão, os prisioneiros estão condenados a ver sombras, ou seja, limitados a conhecer um mundo que é só uma sombra do mundo que não conseguem ver enquanto estão na caverna. 

É comum surgirem problemas com o próprio critério, ver ou ter visto. Será que é suficiente para afirmar a existência de algo? 

O amor vê-se? O amor existe? O agora vê-se? O agora existe?

O livro As Coisas Invisíveis convida-nos a pensar sobre essas coisas das quais falamos e que não vemos. O medo, o eco, o pivete, o caos, a matemática (queria tanto juntar a esta lista a filosofia!), os risos, a estranheza. 

As pessoas leitoras são convidadas a viajar pelos seus sentidos e a usar uns óculos especiais para ver coisas invisíveis. Coisas como a melancolia, a coragem, a empatia, a depressão, a raiva, o amor, o riso ou a esperança. 

Ainda que o livro não distinga entre emoções e sentimentos, a sua leitura contribui para abrir o diálogo sobre essas temáticas:

A fundamental difference between feelings and emotions is that feelings are experienced consciously, while emotions manifest either consciously or subconsciously. Some people may spend years, or even a lifetime, not understanding the depths of their emotions.” The Difference Between Feelings and Emotions

 

Perguntar a alguém “o que estás a sentir?” é uma pergunta gigante. Não é fácil falar daquilo que sentimos, pois nem sempre é óbvio se é alegria ou se é surpresa. Não saber não é motivo para não falar. Aliás, arrisco dizer que quanto mais se fala, mais consciência temos sobre aquilo que sentimos. 

O livro As Coisas Invisíveis brinda-nos com ilustrações muito apelativas e divertidas. Ao ver as (visíveis) ilustrações do susto ou da comichão, dou por mim a perguntar: se desenharmos um susto, o susto ganha outro tipo de existência? Ou será que existe mais? Será que se torna real?


*

 

Perguntas que a leitura do livro me provocou: 

Ver é conhecer?

Ver com clareza é melhor do que ver às escuras?

Ver às escuras permite-nos imaginar?

Imaginar é ver?

É bom estar perdido num livro?

Porque fugimos do aborrecimento?

Dizer o que sentimos permite-nos compreender o que sentimos?

É fácil ou difícil dizer o que sentimos?

O que mudava se fosse possível ver a tristeza?

 

____

As Coisas Invisíveis, de Andy J. Pizza e Sophie Miller (Lilliput)

 

Artigo publicado originalmente na newsletter #LivrosPerguntadores (Set 2024).

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19 de Setembro, 2024

recomeçamos, não nos rendemos. e por isso perguntamos.

oficina #filocriatividade a partir da exposição de ilustrações de Afonso Cruz

joana rita sousa / filocriatividade

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 Recomeçamos, não nos rendemos - exposição de ilustração e de fotografia da autoria de Afonso Cruz foi o mote para uma oficina #filocriatividade.
 
🔸 Recomeçamos, não nos rendemos - e por isso perguntamos.
 
🔸 Durante 1h30, pais, mães, filhos e filhas tiveram oportunidade de #pararpensarescutardialogar a partir das ilustrações do livro A Cruzada das Crianças.
 
🔸 Agradeço à Fábrica das Histórias Casa Jaime Umbelino (Torres Vedras) pelo convite para pensar esta oficina a partir da exposição, permitindo-me cruzar a mediação cultural e a mediação filosófica.
11 de Setembro, 2024

Quando as coisas desacontecem

de Alessandra Roscoe e Odilon Moraes (Alfarroba)

joana rita sousa / filocriatividade

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A Alfarroba publicou recentemente o livro Quando as coisas desacontecem, de Alessandra Roscoe e Odilon Moraes. O título captou a minha atenção, pois um dos meus livros preferidos de sempre é o Coisas que acontecem, de Inês Barata Raposo e Susa Monteiro (bruáa). Quando o encontrei na Festa do Livro em Belém não resisti e trouxe um exemplar comigo.

O verbo acontecer é fascinante. Usamos para indicar uma situação que foi provocada por uma certa acção ou para nos referirmos a um processo. Por vezes dou por mim a dizer "entretanto a vida aconteceu", como se fosse um processo que decorre fora de mim, um processo sobre o qual eu não tenho mão. 

Outra expressão bonita é o "aconteceu-lhe um filho". Também já ouvi um "aconteceu-me um livro". 

E quando usamos a expressão "vamos fazer acontecer"? O que queremos dizer com isso? Estaremos a assumir mão num determinado processo? 

 

Regressemos ao livro de Roscoe e Moraes no qual encontramos esta citação:

"É preciso prezar a coragem das sementes. Apodrecer para inaugurar o futuro." (Bartolomeu Campos de Queirós)

 

O livro convida à observação e à escuta da natureza. O vai e vem das ondas é o elemento que provoca a pergunta na Gabriela: "O que acontece às coisas quando elas desacontecem?" A semente desacontece para se transformar num fruto. A pergunta desacontece para dar lugar à resposta. O silêncio desacontece para dar lugar à música. A vida desacontece para se transformar na morte.  

Quando as coisas desacontecem é um livro perguntador, um trampolim para que perguntas aconteçam (e desaconteçam). 

 

*

Livros que dialogam com este livro:

🟨 Coisas que acontecem, de Inês Barata Raposo e Susa Monteiro;

🟠 Gato Comum, de Joana Estrela;

🟩 O Obstáculo é o Caminho, Ryan Holyday.

 

Subscreva a newsletter sobre #LivrosPerguntadores (gratuita).

 

10 de Setembro, 2024

(re)SOLUÇÕES DE ANO (lectivo) NOVO

joana rita sousa / filocriatividade

 

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Nas vésperas de um novo ano lectivo gostaria de partilhar algumas resoluções (ou soluções?) para educadoras e educadores, professoras e professores e pessoas que, de uma maneira ou de outra, estão ligadas às comunidades escolares.

 

Eis as minhas propostas de (re)soluções:

(*) manifesto anti-chiuuu

(*) o uso cuidadoso da palavra "verdade"

(*) evitar o "não há respostas certas nem erradas na filosofia"

(*) o erro como porta para o inesperado

(*) alimentar a curiosidade das crianças - e a sua!

(*) reflectir sobre a participação das crianças e dos jovens

 

Bom ano, boas leituras, boas perguntas!

05 de Setembro, 2024

11 funções dos professores de filosofia

joana rita sousa / filocriatividade

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Entre nutrir o pensamento crítico e promover a empatia cognitiva, os professores de filosofia desempenham muitas funções ao orientar os alunos através das complexidades da investigação e da auto-descoberta. Eis 11 papéis diferentes dos professores de filosofia.

 

teven Campbell-Harris

 

A filosofia ajuda os alunos a raciocinar com confiança evitando que outras pessoas não se aproveitem deles

 Os objectivos da educação pública são variados, mas podemos dizer que um dos mais importantes é a criação de cidadãos empenhados que sabem o suficiente para que não se aproveitem deles. Os jornalistas têm um papel especial a desempenhar, mas, de um modo mais geral, numa democracia, é vital que todos tenham a capacidade de raciocinar por si mesmos, para que não sejam excessivamente influenciados pelo carisma, pela retórica barata e por afirmações infundadas. Na filosofia, as crianças não recebem respostas prescritas para questões éticas e políticas difíceis. Precisam chegar às suas próprias conclusões com base em razões e evidências que possam ser usadas para defender os seus pontos de vista perante outros. O facilitador incentiva os alunos a pensarem por si mesmos, usando as opiniões dos outros como contrapesos às opiniões dos próprios alunos.



A filosofia desempenha um papel fundamental na curiosidade dos alunos, destacando “desconhecidos conhecidos”; coisas que sabemos que não sabemos

Segundo o psicólogo George Loewenstein, a curiosidade surge quando reconhecemos uma lacuna entre o que não sabemos e o que poderíamos saber e que queremos preencher. A primeira parte para despertar a nossa curiosidade é reconhecer que existe uma lacuna que vale a pena preencher. O ex-secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse que

“Existem coisas conhecidas, coisas que sabemos que sabemos. Existem incógnitas conhecidas, ou seja, há coisas que sabemos que não sabemos. Existem também incógnitas desconhecidas, coisas que não sabemos que não sabemos.'

Na filosofia, muitas vezes começamos com questões que parecem não problemáticas. Durante o curso de um diálogo, percebemos a sua natureza problemática; quebra-cabeças que não sabíamos que estavam lá. Por exemplo, uma discussão sobre pensamentos muitas vezes leva a uma discussão sobre se a mente é diferente do cérebro. Antes disso, os alunos talvez não soubessem que não sabiam disso. No final da aula, alguns terão chegado à conclusão de que sabem que não sabem (ou, pelo menos, estão conscientes de que existe um puzzle que exige resolução).

 

A filosofia encoraja as pessoas a descobrirem o que realmente pensam, em vez do que pensam que deveriam pensar, ou o que lhes é dito para pensar. É uma ferramenta poderosa para praticar a auto-descoberta

Alguns alunos consideram a escola um mundo estranho. As matérias que estudam e o conhecimento que adquirem surgem como algo estranho e imposto. Na filosofia, os alunos são incentivados a pensar com suas próprias experiências, intuições e julgamentos. Isso requer a transferência da responsabilidade pela autocorreção e da avaliação do professor para o aluno. Uma figura de autoridade não intervirá para avaliar seus pontos de vista ou corrigi-los. Em vez disso, terão de justificar os seus pontos de vista e explicar as suas razões na companhia dos seus pares. A oportunidade para expor os seus pontos de vista num fórum público tem uma vantagem adicional para o auto-reconhecimento de si mesmo. O místico alemão Jakob Boehme afirmou que “nada é revelado a si mesmo sem oposição”. Em filosofia, os estudantes enfrentam oposição aos seus próprios pontos de vista. Isto significa que eles vêem a sua visão como se fosse sua; não como a visão definitiva que todos têm. 

 

A filosofia permite que os alunos olhem além do que é a verdade/resposta, para ver como podemos mostrar que é a verdade e o que a torna a verdade

Eis uma observação comum durante as investigações filosóficas; mas qual é a resposta, setôra? Se apontarmos para a resposta completa, tornaremos a resposta no único aspecto  que importa, o que não é verdade. A partir de qualquer resposta, mesmo em disciplinas supostamente focadas em respostas, como a matemática num nível básico, podemos perguntar o que a torna a resposta e como podemos mostrar que é a resposta. Se não conseguimos dar uma razão para a resposta, então por que acreditar? A filosofia ajuda-nos a transferir nossa preocupação do destino para o processo de chegar lá. O destino não conta a história de como chegamos lá e, de facto, as respostas corretas podem ser obtidas através de justificativas erradas. A filosofia encoraja-nos a mostrar o nosso trabalho, no sentido mais amplo do termo.



A filosofia proporciona um ambiente educacional no qual o pensamento crítico é reconhecido e incentivado

Há uma série de movimentos de pensamento crítico que a filosofia pode ajudar a encorajar e promover:

Fazer perguntas

Concordo/discordo

Dar razões

Apresentar uma proposição, hipótese ou explicação

Fazer inferências

Fazer distinções

Fazer comparações

Reavaliar

Dar um exemplo ou contra-exemplo

Considerar múltiplas perspectivas

Classificar

Fazer analogias

Oferecer definições

Raciocinar silogisticamente

Identificar suposições

Reafirmar as opiniões dos outros

 

A filosofia pode ajudar a estabelecer vínculos entre assuntos aparentemente desconectados e díspares

A filosofia, segundo o filósofo Ludwig Wittgenstein, “não é um corpo de doutrina, mas uma actividade”. Pode ser melhor considerada não como um assunto em si, mas como um método crítico para examinar as suposições e os pressupostos que fundamentam todos os outros assuntos. Nas oficinas de filosofia, alternamos entre discutir questões sobre valor, arte, ciência, matemática e religião. Esta abordagem cruzada incentiva os alunos a fazerem conexões entre áreas de investigação que são habitualmente consideradas distantes. O escritor Robert Twigger salienta que entre o nascimento e os dez ou onze anos de idade, uma parte do cérebro chamada “núcleo basalis” está permanentemente ligada. Contém uma grande quantidade do neurotransmissor acetilcolina, o que significa que acontecem, a todo o tempo, novas conexões. Na primeira infância, as crianças aprendem o tempo todo e combinam as suas experiências de maneira criativa. A filosofia pode ajudar a nutrir essa tendência polimática natural nos jovens, antes que o cérebro se torne mais selectivo nos últimos anos da adolescência. 

 

 

A filosofia incentiva o vigor intelectual; a persistência necessária para lidar com problemas difíceis

 O filósofo e escritor Darren Chetty argumenta que “a filosofia exige que estejamos confortáveis com o desconforto”. Muitos dos enigmas mais intratáveis ​​da filosofia resultam do desconforto com a forma como as coisas, os conceitos e as ideias se encaixam. O filósofo é frequentemente confrontado com a confusão e a dúvida na sua tentativa de compreender o mundo. Em vez de dissipar a dúvida através de dogmas ou de uma atitude relativista derrotista (“acho que todos devemos estar certos”), os filósofos permanecem com as suas dúvidas enquanto for necessário e trabalham para as resolver pacientemente. À medida que as crianças vão compreendendo os enigmas da filosofia, o facilitador incentiva-as a identificar o que é intrigante, a identificar possíveis formas de resolução e depois a ver se funcionam. Isto pode ajudar a desenvolver resistência intelectual e resiliência, a disposição para permanecer com os problemas durante mais tempo. 

 

A filosofia prepara as crianças para o futuro do trabalho, encorajando-as a ver o mundo como algo aberto à inovação e melhoria

 Num vídeo amplamente divulgado no YouTube, o falecido CEO da Apple, Steve Jobs, fala sobre o segredo da vida como ele a vê. Diz: “quando crescemos, dizem que o mundo é de uma certa maneira e que nossa vida se resume a viver dentro do mundo, tentando não bater muito nas paredes, tentando ter uma boa vida familiar, divirtindo-se, ganhando um pouco de dinheiro. Mas essa é uma vida muito limitada. A vida pode ser muito mais ampla do que isso quando descobrimos um simples facto, que tudo o que chamamos de vida foi inventado por outras pessoas que não são mais inteligentes que nós e nós podemos mudar isso… Isso talvez seja o mais importante; livrar-se da noção errada de que a vida existe e que você apenas viverá nela em vez de a abraçar, mudar, melhorar, deixar a sua marca nela.” A filosofia com crianças pode encorajar os alunos a ver “o mundo” não como algo dado, mas como algo que pode ser negociado e melhorado. A filosofia dissolve a rigidez do real, encorajando-nos a pensar em formas alternativas de viver e de pensar, e examinando as suposições que fundamentam o “mundo real”. Como observa Jennifer Morton: “A filosofia permite-nos questionar como as coisas são e, muitas vezes, perceber que o modo como as coisas são não é como são ou deveriam ser”. fatores contingentes da história conforme necessário. 

 

A filosofia incentiva as crianças a verem a educação como um fim em si mesma, e não simplesmente como um meio para atingir um fim

Muitas das estruturas que visam apontar o valor da educação são instrumentalistas; percebe-se que seu valor reside nalgo fora de si mesmo,  nalgum benefício futuro projectado. Se dissermos que a educação é valiosa na medida em que ajuda as crianças a integrarem-se na sociedade ou a prepararem-se para a vida profissional, então a educação só será valorizada se conseguir esses resultados. Na filosofia, os estudantes são encorajados a questionar-se pelo questionamento em si mesmo e a pensar na verdade por si mesma. Platão afirmou que a vida do filósofo passa por contemplar a verdade, a beleza e a bondade. Estas são considerados valiosas não para algum propósito externo, mas em si mesmas. Na melhor das hipóteses, a filosofia com crianças pode encorajar a contemplação das melhores coisas para o seu próprio bem.

 

A filosofia permite que os alunos vejam as coisas do ponto de vista dos outros, ajudando-os a desenvolver empatia

Um dos papéis do facilitador numa investigação filosófica passa por encorajar o desacordo fundamentado e respeitoso. Depois de uma criança oferecer uma visão controversa, o facilitador é rápido em procurar dissidência e em encontrar uma controvérsia que forneça combustível para uma discussão mais aprofundada. Esta tendência de procurar pensamentos divergentes, em vez de convergentes, nas investigações, significa que os alunos rapidamente se habituam a ter os seus pontos de vista desafiados pelos seus pares. Os alunos são encorajados a romper com um egocentrismo superficial que considera apenas os seus próprios pontos de vista como legítimos. A longo prazo, a filosofia visa internalizar o interlocutor que falta numa discussão, para que os alunos possam antecipar objecções aos seus próprios pontos de vista. Alguns dos meus alunos de filosofia dizem agora que procuram instintivamente perspectivas alternativas sobre questões difíceis. A filosofia ajuda a cultivar esta empatia cognitiva – a tentar ver como os outros pensam.

 

A filosofia ajuda as crianças a desenvolver um relacionamento maduro com a autoridade

Da infância à adolescência passamos da obediência relativamente inquestionável à autoridade para a rejeição de várias formas de autoridade (por exemplo, pais, professores). A filosofia pode ajudar as crianças a navegar neste período difícil, afirmando um caminho intermédio entre estes dois extremos. Na filosofia, os estudantes são encorajados a consultar o seu próprio sentido de razão quando confrontados com reivindicações de autoridade. A autoridade é aceite se for considerada razoável e se consideramos que é correcto segui-la, mas rejeitada se for irracional ou errada. Nesse sentido, a filosofia oferece uma ponte entre a infância e a adolescência que evita as imaturidades de ambas.

 

Artigo publicado no linkedin, a 9 de Maio de 2024

 

03 de Setembro, 2024

Até quando é sustentável dialogar sobre sustentabilidade?

joana rita sousa / filocriatividade

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Um dos temas abordados nas oficinas #filocriatividade, de forma directa ou indirecta, é o tema da sustentabilidade. Está presente quando falamos de futuro, de escolhas ou de dilemas éticos. 

Nas oficinas "No futuro haverá maçãs falantes?" a questão da sustentabilidade é imediata. De que futuro estamos a falar? Como será esse futuro? E se no futuro não houver futuro? 

Acresce que quando estamos a imaginar maçãs falantes surgem interrogações mais específicas: "No futuro ainda dá para plantar e semear?" ou "Como é que as maçãs lidam com a poluição?" 

As escolhas quotidianas dizem muito sobre a forma como encaramos a sustentabilidade: aceitamos mais um saco de pano de oferta quando já temos duas mãos cheias de sacos lá em casa?

Quando me preparo para oficinas que tratam especificamente sobre a temática da sustentabilidade procuro desenhar um mapa mental com palavras ou ideias que associamos a sustentabilidade. Eis um exemplo:

sustentabilidade.jpg

 

Este mapa mental não esgota a temática da sustentabilidade e mesmo assim proporciona várias pistas de exploração da temática que podem ser abordadas com crianças ou jovens de diferentes idades e anos de escolaridade, em diferentes conteúdos programáticos.

02 de Setembro, 2024

palavras andarilhas 2024

as minhas perguntas andarilhas

joana rita sousa / filocriatividade

andarilhas_biblioteca

Para terminar as férias rumei até Beja, a Cidade dos Contos, a Cidade das Andarilhas. A 17.ª edição das Palavras Andarilhas foi a minha primeira edição.

Já tinha ouvido falar deste evento e este ano resolvi não deixar a oportunidade de conhecer Beja, a Biblioteca Municipal José Saramago e o ambiente das Andarilhas.

Assim que cheguei a Beja, na sexta-feira, tive a oportunidade de cumprimentar os amigos e as amigas das Livrarias (Perguntadoras e) Independentes: Gatafunho (Oeiras), Doninha Ternurenta (Ovar) e Faz de Conto (Coimbra). Ao final da tarde foi possível escutar o cante alentejano pelas vozes do Grupo Coral do Estabelecimento Prisional de Beja. Depois da abertura oficial das Andarilhas, houve lugar à conversa moderada por Sara Rodi  com Joana Bertholo, Marina Palácio e  Sandra Guerreiro Dias. O tema: Literatura e Natureza.

Durante esta conversa registei uma pergunta: "Qual é o sentido da vida de uma alface?" 

A noite foi de homenagem a Thomas Bakk e de contos pelas vozes de Ana Sofia Paiva e Ana Griott. Para terminar em beleza, escutámos as palavras e observámos os gestos da Alice Sousa Neto e da Rita Belicha com a performance A Palavra e o gesto. Alguns destes momentos estão disponíveis na página de facebook das Palavras Andarilhas. 

No sábado, depois de uma caminhada de 12km pela cidade de Beja, com direito a visitar o Castelo e outros pontos de interesse, rumei até à Biblioteca Municipal de Beja - José Saramago. Aí pude escutar a Paula Cusati e as problemáticas relacionadas com a literatura e a adolescência.

Uma pergunta que registei durante esta formação: "Quem tem medo do Lobo Mau?"

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📷 facebook Palavras Andarilhas

 

Ao final da tarde o tema que invadiu o Auditório foi Literatura e Cidadania. Nessa conversa participaram Ana Cristina Silva, Andreia Brites e Pep Duran, moderados por João Pedro Mésseder. Saliento aqui a intervenção de Ana Cristina Silva a lembrar-nos que o ser humano é um ser enviesado e, na linha do que defende Adela Cortina, com tendências para a xenofobia. Naturalmente a literatura é um reflexo desses enviesamentos, dos quais devemos ter consciência.

A pergunta que formulei durante a conversa foi: "A neutralidade é desejável?"

A noite brindou as pessoas presentes com uma brisa fresca e com os contos de José Craveiro, Pep Bruno, Benita Prieto  e Fernando Guerreiro. A pergunta que anotei foi: "Pode o Lobo nunca morrer?"

Durante a manhã de domingo participei na formação Ouvir para Ler, com a Ana Sofia Paiva. Foi uma manhã de partilha teórica sobre a primeira infância e a forma como as pessoas adultas a entendem e se relacionam com ela. Uma pergunta que me surgiu nesta manhã: "O que dizem os livros que escolhemos sobre a forma como olhamos a infância?"

Tradição oral, memória e modernidade  foi o tema da conversa na qual participaram Ana Sofia Paiva, Joaninha Duarte e Pep Bruno (moderação de Luís Miguel Ricardo). Desta conversa fica-me uma pergunta: "A tradição é revolucionária?"

 

Foi muito bom encontrar pessoas conhecidas e pessoas amigas durante estes três dias. (In)felizmente as pessoas "dos livros" não são assim tantas e cabem todas em Beja, nas Andarilhas. A todas essas pessoas com quem me cruzei um muito obrigada pela companhia e pela amizade. 

 

As Palavras Andarilhas regressam daqui a dois anos. Saiba mais AQUI.