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filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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22 de Agosto, 2024

BOECIO: filosofia para pessoas privadas de liberdade

joana rita sousa / filocriatividade

Se há projecto que respeito e admiro é BOECIO, levado a cabo por Jose Barrientos-Rastrojo (Universidade de Sevilha) e a sua equipa em Espanha, mas também noutros países (Brasil, México e Colombia).

 

O que é o projecto BOECIO?

A metodologia do Projeto Boécio desenvolve uma significativa contribuição para o estudo e a pesquisa em humanidades: por um lado, promove o referido bem-vindo resgate da filosofia clássica prática ou aplicada, capaz de ampliar e aprofundar a compreensão dos problemas práticos da modernidade; por outro lado, não se esquiva, senão abarca a reivindicação da possibilidade e do sentido da experimentação, do controle e da verificação de dados e resultados na aplicação da filosofia à vida prática (nesta iniciativa, especificamente, em comunidades carcerárias), em se permitindo, como também assim à filosofia aplicada, um diálogo interdisciplinar que envolve tanto a história intelectual e a das ideias filosóficas como os fundamentos da educação e as ciências sociais. (Rui C. Mayer)

 

Acompanho de perto o trabalho de Jose Barrientos-Rastrojo, desde que o conheci pessoalmente num Congresso da APAEF. Tive a felicidade de ter a sua companhia no mestrado em Gestão de Recursos Humanos, durante o qual trabalhei o papel do filósofo nas empresas e nas organizações (ISLA Lisboa, actual Universidade Europeia).

 

Conheça a visão de Barrientos-Rastrojo sobre Filosofia Aplicada (e não só) assistindo a este vídeo:

 

22 de Agosto, 2024

esqueça a perfeição. aposte as fichas todas na imperfeição.

- reflexões avulsas a partir do livro Potencial Escondido de Adam Grant

joana rita sousa / filocriatividade

 

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Tenho aprendido muito com o psicólogo organizacional Adam Grant. Um dos meus livros preferidos é o Pensar Melhor que tem sido uma referência para mim nos cursos de pensamento crítico e criativo. 

Estou ainda a ler o Potencial Escondido e já tenho muitas notas registadas no livro, bem como em post its. Eis algumas dessas notas.

 

Recuar é essencial

Por vezes quando sugiro às pessoas formandas que apliquem as estratégias de diálogo em sala de aula, tenho a noção que as pessoas têm receio de falhar. Faz parte do processo de experimentar uma coisa nova. Nas pp. 134-135 o autor fala de recuar para seguir em frente. Recuar significa "descartar o nosso plano actual e começar de novo". É natural que a implementação de um método novo ou de estratégias novas provoque a sensação de que estamos a andar para trás. Já eramos bons naquilo que fazíamos e agora, à conta da inexperiência que temos com os novos processos, não somos assim tão bons. A regressão é importante pois permite dar lugar à melhoria (p. 136). Para que isso aconteça temos de abandonar a ideia de que recuar é desistir.

 

Os estilos de aprendizagem são um mito

"Precisamos de abraçar o desconforto de nos perdermos.", diz Grant. E eu engulo em seco, já que não sou nada fã da expressão sair da zona de conforto. Para mostrar como sou uma leitora atenta dos seus livros predisponho-me a voltar a pensar ou a pensar melhor sobre esta ideia de sair da zona de conforto. Na p. 44 Grant abala o mito da teoria dos estilos de aprendizagem que se tornou bastante popular. O autor não nega que as pessoas tenham um estilo preferido para aprender, ou seja, para aprender conhecimentos e competências. O que a investigação mais recente mostra é que essa preferência altera-se e que apostar numa aprendizagem focada somente nos pontos fortes fará com que não possa melhorar os pontos fracos: 

O modo como gosta de aprender é o que o deixa confortável, mas não é necessariamente a melhor forma de aprender. Por vezes, até aprende melhor num modo que o deixe mais desconfortável, uma vez que tem de se esforçar mais. Esta é a primeira forma de coragem: conseguir abraçar o desconforto e atirar o estilo de aprendizagem pela janela.

Enquanto pessoas educadoras temos de encontrar o método certo para a tarefa e não propriamente para a pessoa. Isso pode causar desconforto, o que não significa que não provoque aprendizagem. 

 

A imperfeição é a nossa melhor amiga

Apontar para a perfeição implica querer agradar a toda a gente. Quantas vezes não li o feedback das formações e ignorei 15 elogios por ter recebido um comentário negativo? Há algum tempo que tento contrariar isso repetindo para comigo: "Joana, não podes agradar a toda a gente, da mesma maneira." Claro que se das 16 pessoas formandas, 15 se queixarem... então aí algo está mal. Porém, um ou outro comentário negativo confirma a ideia de que sou imperfeita - e está tudo bem com isso.

Aprenda, então, com o resultado de oito estudos: as pessoas não julgam as suas competências com base num único desempenho. É o chamado "efeito das implicações exageradas." (p. 97)

Mesmo que durante a acção de formação haja uma sessão que corra menos bem, isso não condena o resto da formação.

De acordo com Grant, uma pessoa imperfeccionista mantém "a disciplina ao decidir quando pressionar para conseguir o melhor e quando se contentar com o suficientemente bom." (p. 83)

A imperfeição é a nossa melhor amiga, até porque nem todas as pessoas podem ser como a Beyoncé.

 

"Ainda não estou preparada." Então e quando vai estar?

As minhas formações sobre pensamento crítico começam com tarefas simples e que deixam as pessoas desconfortáveis. Oiço algumas vezes as pessoas a dizer: "Ah, mas eu não estou confortável com isto, não estudei o suficiente." Não há problema. As minhas formações são espaços de prática e, com o tempo, as pessoas vão substituindo o conforto pelo desconforto:

Poder começar a criar código no primeiro dia, a ensinar no primeiro dia, a dar treinos no primeiro dia. Não precisa de se sentir confortável antes de poder praticar as suas competências. O seu conforto cresce à medida que as pratica. (p. 59) 

Por vezes as pessoas dizem: "Ah, mas não me sinto pronta para começar a fazer isto em sala de aula." E Adam Grant responde: "Se esperarmos até nos sentirmos prontos para abraçar um novo desafio, talvez nunca comecemos a persegui-lo."

 

*

Para já, estas são as notas e reflexões que fiz a partir deste livro. Julgo que voltarei a falar deste livro aqui no blog.

Boas leituras!

 

Potencial Escondido / Autor: Adam Grant / Tradutor: Leonardo Cascão / Vogais

22 de Agosto, 2024

Esperança no Horizonte - um guia para crianças sobre empatia, bondade e como criar um mundo melhor

joana rita sousa / filocriatividade

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Chegou-me às mãos o livro de Onjali Q. Raúf recentemente publicado pela Booksmile, traduzido por Renato Correia. Trata-se de um livro que é sobretudo um guia do qual cada pessoa leitora se pode apropriar. 

 

Onjali Q. Raúf é autora do livro O Rapaz no Fundo da Sala, entre outras obras. Assume o seu lugar de fala de pessoa activista e por isso temas como os refugiados e o diálogo inter-religioso marcam presença nos seus textos. 

 

A autora mantém um diálogo vivo com a pessoa leitora, desde a primeira página. Coloca perguntas, assume o seu ponto de vista ("Sou ativista e feminista desde os sete anos de idade." p. 19), sem esconder a sua preferência por chocolate.

 

Página a página, seguimos caminho por entre o texto e as ilustrações de Isobel Lundie, avançando no sentido do horizonte, entre problemas e possíveis soluções. O mundo está cheio de problemas: basta ver o telejornal ou passear pelas redes sociais dos orgãos de comunicação social. É fácil sentir que nada podemos fazer para mudar o mundo para melhor. Onjali desafia este pensamento com propostas simples e muito práticas.

É possível mudar o mundo? Sim.

Vamos mudar completamente o mundo? Não.

Porém, se ajudarmos alguém com as compras, no meio da rua, já estamos a mudar o mundo dessa pessoa.

Se cedermos o nosso lugar sentado para alguém que tem dificuldades de mobilidade, já estamos a mudar o mundo dessa pessoa.

Mudamos também o nosso mundo, pois sentimo-nos bem com essas pequenas acções e alimentamos a esperança. 

 

Esperança no Horizonte é um livro que poderá ser lido individualmente ou em família. Julgo que poderá ser um bom recurso na escola, para abordar temáticas como o bullying, a xenofobia, as perguntas e a curiosidade, o fracasso e o sucesso, a empatia. 

 

O papel do livro faz-me lembrar as bandas desenhadas que eu lia quando era criança e que contribuíram para o meu gosto pela leitura. 

 

Onjali tem o cuidado de arrumar num glossário algumas palavras que podem ser pouco familiares às pessoas leitoras ou que precisem de algum esclarecimento adicional. O livro apresenta ainda sugestões de leitura e de visualização.

 

*

Ao ler este Esperança no Horizonte fui estabelecendo pontes com outros livros que tenho nas minhas estantes. Aproveito para partilhar um conjunto de livros que, a meu ver, dialogam com este:

🟠 Potencial Escondido, de Adam Grant; Tradução de Leonardo Cascão (Vogais)

🟠 Frederick Douglass - Devo Argumentar quão Absurda é a Escravatura?de Arianna Squilloni; Tradução: Catarina Sacramento; Ilustração: Cinta Fosch (Akiara Books)

🟠 Eu, Malala. A minha luta pela liberdade e pelo direito à educação, de Malala Yousafzai e Christina Lamb; Tradução: Cristina Carvalho (Editorial Presença)

🟠 O Livro do Clima, org. de Greta Thunberg (Objectiva) 

🟠  Não Me Magoas Maisde Margarida Fonseca Santos (Fábula)

🟠  Daniel, o Guardador de Sonhosde Catarina Rodrigues; Ilustração: Tiago M. (Oficina do Livro)

22 de Agosto, 2024

Adela Cortina: “El cerebro humano tiende a la xenofobia, pero tenemos la libertad de alimentarla o no”

joana rita sousa / filocriatividade

 

La catedrática de Filosofía Moral de la Universidad de Valencia Adela Cortina Ors ha explicado que, según neurocientíficos como David Eagleman, determinadas causas biosociales inducen al cerebro humano a que tenga tendencia a la xenofobia, “porque en él impera el fin de supervivencia y, por seguridad, busca lo conocido y se enerva ante lo que no controla”. Ello sería el origen de todas las fobias que atenazan a las personas. Sin embargo, la filósofa no cree en el determinismo que esto parece implicar: “Tener una tendencia no implica tener que seguirla. Decidimos qué tendencias queremos cultivar y cuáles no, gracias a la facultad que nos da la libertad”. (artigo completo AQUI)

 

🔸 importa saber que, apesar da tendência ser reportada pela neurociência, não estamos condenados a segui-la. importa ter consciência de que essa tendência existe, em cada um/a de nós.