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filocriatividade | #filocri

filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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29 de Agosto, 2024

Metáfora

Pedro Alcaide, Merlin Alcaide e Guim Tió

joana rita sousa / filocriatividade

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Etimologicamente a palavra metáfora (μεταφορά) significa transferência ou transporte para outro lugar.

O livro Metáfora inicia precisamente com essa explicação, referindo que as metáforas da Filosofia são conceptuais. A proposta dos autores vai precisamente nessa linha: apresenta os filósofas e as filósofas a partir de um conceito escrito e transformado em símbolo, bem como acompanhado por uma ilustração.

Encontramos ainda uma apresentação geral do pensamento do filósofo ou da filósofa e o destaque para a área da filosofia para a qual contribuiu.

Neste livro podemos conhecer Heraclito, Ockham, Butler, Arendt, Said, entre outros. Há um esforço para apresentar nomes conhecidos da filosofia ocidental, bem como desconhecidos, como Edward Said e a sua proposta conceptual Oriente incluída na filosofia pós-colonial. As mulheres filósofas são representadas por Hannah Arendt (conceito: Deserto) e Judith Butler (conceito: Matriz).

Metáfora é um livro escrito em espanhol e que, por isso, não será acessível a quem não se sinta confortável com a língua. Diria que, ainda assim, vale a pena espreitar o livro para conhecer a sua proposta visual em termos do conceito.

Arrumo este livro ao lado de outros que podem cumprir a função de introduzir as pessoas ao maravilhoso mundo da Filosofia, como Grandes Ideias para Mentes Curiosas (The School of Life, Minotauro), O que é a filosofia? (António de Castro Caeiro, Tinta-da-China), A bebedeira de Kant (David Erlich, Planeta de Livros), Grande História Visual da Filosofia de Masato Tanaka e Tetsuya Saito (Marcador) e O Mundo de Sofia de Jostein Gaarder (novela gráfica, Elsinore).

 

 

29 de Agosto, 2024

a diferença entre a emoção e o sentimento

joana rita sousa / filocriatividade

 

É comum a confusão entre emoção e sentimento. Neste vídeo de 5 minutos, António Damásio explica-nos o que distingue emoção do sentimento. Vale a pena escutar com atenção. 

 

Sugestão para aprender sobre emoções e sentimentos:

🟩 O novelo de emoções, de Elizabete Neves e Natalina Cóias (Penguin);

🔴 documentário Deus Cérebro (disponível na RTP Play e também em livro);

🟠 How Emotions Are Made -  The Secret Life Of The Brain, de Lisa Feldman Barrett;

🟦 Pequenos humanos, grandes emoções, de Alyssa Blask Campbell e Lauren Stauble (Ideias de Ler) 

🔷 "não decidi com a cabeça, decidi com o coração" (artigo deste blog)

 

 

 

 

26 de Agosto, 2024

a leitura é uma competência básica: como motivar para a leitura?

joana rita sousa / filocriatividade

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Adam Grant dedica um capítulo do livro Potencial Escondido à educação. Na p. 207 do livro sublinha a importância da leitura como uma competência básica para qualquer uma das disciplinas; competência para a qual é necessária motivação intrínseca.

Surge a pergunta: como motivar para a leitura? 

A resposta comum a esta pergunta é: em casa. É importante ter livros em casa, porém isso não é suficiente. Ter livros nas estantes não basta; é fundamental que haja conversas sobre os livros, que os livros nos acompanhem nas viagens de carro ou de autocarro e que se visitem bibliotecas. Outro elemento fundamental: é importante que as crianças tenham oportunidade de presenciar a leitura de livros por parte das pessoas adultas. Quando uma criança nos vê a ler, está a assimilar a ideia de que ler é algo ao qual damos valor. 

Por isso pergunto: o seu filho ou a sua filha costumam observá-lo/a a ler? E também pergunto: os/as professores/as comentam com os/as seus/suas alunos/as sobre os livros que estão a ler? 

 

Reading will seem more like chocolate cake if it’s something that parents themselves take part in happily and regularly. “When I’m sitting there on my couch, reading a book, and my kids are doing their own thing, I like to think, ‘I’m parenting right now—they can see me reading this book,’” Russo told me. Similarly, Paul said that if “right after dinner, the first thing you do is scroll through your phone, open up your laptop, or watch TV,” kids are likely to take note. Parents are constantly sending their children messages with how they choose to spend their free time. (Joe Pinsker)

 

Há uns meses a minha afilhada, estudante do 6.º ano, procurava um livro para ler e apresentar na escola. A minha afilhada não é uma criança muito motivada para a leitura, pelo que sugeri que apresentasse uma novela gráfica ou uma banda desenhada. Acontece que a professora não aceita trabalho sobre "esses" livros. Compreendo que a professora queira motivar para a leitura; creio é que pretende forçar uma certa leitura, de um certo tipo de livros. Talvez por não conhecer que as novelas gráficas e as bandas desenhadas têm qualidade. Talvez por ser inflexível na ideia que tem da "literatura ideal" para as crianças. 

Com esta atitude (e outras semelhantes) podemos estar a matar a motivação intrínseca para a leitura. Importa dar oportunidade às crianças e jovens para ler aquilo que lhes interessa:

É um círculo virtuoso: quanto mais leem por diversão, mais se desenvolvem e mais gostam de ler. E quanto mais gostam de ler, mais aprendem e melhor é o seu desempenho nos exames. A tarefa de um professor não deve ser assegurar que os alunos leram o cânone literário, mas sim fomentar o entusiasmo pela leitura. (Adam Grant, p. 207)

 

*

Sobre a temática da leitura e da promoção da leitura, Adam Grant sugere os seguintes livros e pesquisas:

- Why Some People Become Lifelong Readers, de Joe Pinsker;

- Joint Book Reading Makes for Success in Learning to Read: A Meta-Analysis on Intergenerational Transmission of Literacy,  de Adriana Bus, Marinus H. van IJzendoornAnthony D. Pellegrini;

- Moving Educational Psychology Into the Home: The Case of Reading, de Daniel Willingham;

Raising Kids Who Read, What Parents And Teachers Can Do, de Daniel T. Willingham;

A Meta-Analytic Review of the Relations Between Motivation and Reading Achievement for K–12 Students. de Jessica R. Toste, Lisa Didion, Peng Pen e Amanda M. McClelland;

- To Read or Not to Read: A Meta-Analysis of Print Exposure From Infancy to Early Adulthood, de Suzanne E Mol e Adriana Bus.

 

22 de Agosto, 2024

BOECIO: filosofia para pessoas privadas de liberdade

joana rita sousa / filocriatividade

Se há projecto que respeito e admiro é BOECIO, levado a cabo por Jose Barrientos-Rastrojo (Universidade de Sevilha) e a sua equipa em Espanha, mas também noutros países (Brasil, México e Colombia).

 

O que é o projecto BOECIO?

A metodologia do Projeto Boécio desenvolve uma significativa contribuição para o estudo e a pesquisa em humanidades: por um lado, promove o referido bem-vindo resgate da filosofia clássica prática ou aplicada, capaz de ampliar e aprofundar a compreensão dos problemas práticos da modernidade; por outro lado, não se esquiva, senão abarca a reivindicação da possibilidade e do sentido da experimentação, do controle e da verificação de dados e resultados na aplicação da filosofia à vida prática (nesta iniciativa, especificamente, em comunidades carcerárias), em se permitindo, como também assim à filosofia aplicada, um diálogo interdisciplinar que envolve tanto a história intelectual e a das ideias filosóficas como os fundamentos da educação e as ciências sociais. (Rui C. Mayer)

 

Acompanho de perto o trabalho de Jose Barrientos-Rastrojo, desde que o conheci pessoalmente num Congresso da APAEF. Tive a felicidade de ter a sua companhia no mestrado em Gestão de Recursos Humanos, durante o qual trabalhei o papel do filósofo nas empresas e nas organizações (ISLA Lisboa, actual Universidade Europeia).

 

Conheça a visão de Barrientos-Rastrojo sobre Filosofia Aplicada (e não só) assistindo a este vídeo:

 

22 de Agosto, 2024

esqueça a perfeição. aposte as fichas todas na imperfeição.

- reflexões avulsas a partir do livro Potencial Escondido de Adam Grant

joana rita sousa / filocriatividade

 

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Tenho aprendido muito com o psicólogo organizacional Adam Grant. Um dos meus livros preferidos é o Pensar Melhor que tem sido uma referência para mim nos cursos de pensamento crítico e criativo. 

Estou ainda a ler o Potencial Escondido e já tenho muitas notas registadas no livro, bem como em post its. Eis algumas dessas notas.

 

Recuar é essencial

Por vezes quando sugiro às pessoas formandas que apliquem as estratégias de diálogo em sala de aula, tenho a noção que as pessoas têm receio de falhar. Faz parte do processo de experimentar uma coisa nova. Nas pp. 134-135 o autor fala de recuar para seguir em frente. Recuar significa "descartar o nosso plano actual e começar de novo". É natural que a implementação de um método novo ou de estratégias novas provoque a sensação de que estamos a andar para trás. Já eramos bons naquilo que fazíamos e agora, à conta da inexperiência que temos com os novos processos, não somos assim tão bons. A regressão é importante pois permite dar lugar à melhoria (p. 136). Para que isso aconteça temos de abandonar a ideia de que recuar é desistir.

 

Os estilos de aprendizagem são um mito

"Precisamos de abraçar o desconforto de nos perdermos.", diz Grant. E eu engulo em seco, já que não sou nada fã da expressão sair da zona de conforto. Para mostrar como sou uma leitora atenta dos seus livros predisponho-me a voltar a pensar ou a pensar melhor sobre esta ideia de sair da zona de conforto. Na p. 44 Grant abala o mito da teoria dos estilos de aprendizagem que se tornou bastante popular. O autor não nega que as pessoas tenham um estilo preferido para aprender, ou seja, para aprender conhecimentos e competências. O que a investigação mais recente mostra é que essa preferência altera-se e que apostar numa aprendizagem focada somente nos pontos fortes fará com que não possa melhorar os pontos fracos: 

O modo como gosta de aprender é o que o deixa confortável, mas não é necessariamente a melhor forma de aprender. Por vezes, até aprende melhor num modo que o deixe mais desconfortável, uma vez que tem de se esforçar mais. Esta é a primeira forma de coragem: conseguir abraçar o desconforto e atirar o estilo de aprendizagem pela janela.

Enquanto pessoas educadoras temos de encontrar o método certo para a tarefa e não propriamente para a pessoa. Isso pode causar desconforto, o que não significa que não provoque aprendizagem. 

 

A imperfeição é a nossa melhor amiga

Apontar para a perfeição implica querer agradar a toda a gente. Quantas vezes não li o feedback das formações e ignorei 15 elogios por ter recebido um comentário negativo? Há algum tempo que tento contrariar isso repetindo para comigo: "Joana, não podes agradar a toda a gente, da mesma maneira." Claro que se das 16 pessoas formandas, 15 se queixarem... então aí algo está mal. Porém, um ou outro comentário negativo confirma a ideia de que sou imperfeita - e está tudo bem com isso.

Aprenda, então, com o resultado de oito estudos: as pessoas não julgam as suas competências com base num único desempenho. É o chamado "efeito das implicações exageradas." (p. 97)

Mesmo que durante a acção de formação haja uma sessão que corra menos bem, isso não condena o resto da formação.

De acordo com Grant, uma pessoa imperfeccionista mantém "a disciplina ao decidir quando pressionar para conseguir o melhor e quando se contentar com o suficientemente bom." (p. 83)

A imperfeição é a nossa melhor amiga, até porque nem todas as pessoas podem ser como a Beyoncé.

 

"Ainda não estou preparada." Então e quando vai estar?

As minhas formações sobre pensamento crítico começam com tarefas simples e que deixam as pessoas desconfortáveis. Oiço algumas vezes as pessoas a dizer: "Ah, mas eu não estou confortável com isto, não estudei o suficiente." Não há problema. As minhas formações são espaços de prática e, com o tempo, as pessoas vão substituindo o conforto pelo desconforto:

Poder começar a criar código no primeiro dia, a ensinar no primeiro dia, a dar treinos no primeiro dia. Não precisa de se sentir confortável antes de poder praticar as suas competências. O seu conforto cresce à medida que as pratica. (p. 59) 

Por vezes as pessoas dizem: "Ah, mas não me sinto pronta para começar a fazer isto em sala de aula." E Adam Grant responde: "Se esperarmos até nos sentirmos prontos para abraçar um novo desafio, talvez nunca comecemos a persegui-lo."

 

*

Para já, estas são as notas e reflexões que fiz a partir deste livro. Julgo que voltarei a falar deste livro aqui no blog.

Boas leituras!

 

Potencial Escondido / Autor: Adam Grant / Tradutor: Leonardo Cascão / Vogais

22 de Agosto, 2024

Esperança no Horizonte - um guia para crianças sobre empatia, bondade e como criar um mundo melhor

joana rita sousa / filocriatividade

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Chegou-me às mãos o livro de Onjali Q. Raúf recentemente publicado pela Booksmile, traduzido por Renato Correia. Trata-se de um livro que é sobretudo um guia do qual cada pessoa leitora se pode apropriar. 

 

Onjali Q. Raúf é autora do livro O Rapaz no Fundo da Sala, entre outras obras. Assume o seu lugar de fala de pessoa activista e por isso temas como os refugiados e o diálogo inter-religioso marcam presença nos seus textos. 

 

A autora mantém um diálogo vivo com a pessoa leitora, desde a primeira página. Coloca perguntas, assume o seu ponto de vista ("Sou ativista e feminista desde os sete anos de idade." p. 19), sem esconder a sua preferência por chocolate.

 

Página a página, seguimos caminho por entre o texto e as ilustrações de Isobel Lundie, avançando no sentido do horizonte, entre problemas e possíveis soluções. O mundo está cheio de problemas: basta ver o telejornal ou passear pelas redes sociais dos orgãos de comunicação social. É fácil sentir que nada podemos fazer para mudar o mundo para melhor. Onjali desafia este pensamento com propostas simples e muito práticas.

É possível mudar o mundo? Sim.

Vamos mudar completamente o mundo? Não.

Porém, se ajudarmos alguém com as compras, no meio da rua, já estamos a mudar o mundo dessa pessoa.

Se cedermos o nosso lugar sentado para alguém que tem dificuldades de mobilidade, já estamos a mudar o mundo dessa pessoa.

Mudamos também o nosso mundo, pois sentimo-nos bem com essas pequenas acções e alimentamos a esperança. 

 

Esperança no Horizonte é um livro que poderá ser lido individualmente ou em família. Julgo que poderá ser um bom recurso na escola, para abordar temáticas como o bullying, a xenofobia, as perguntas e a curiosidade, o fracasso e o sucesso, a empatia. 

 

O papel do livro faz-me lembrar as bandas desenhadas que eu lia quando era criança e que contribuíram para o meu gosto pela leitura. 

 

Onjali tem o cuidado de arrumar num glossário algumas palavras que podem ser pouco familiares às pessoas leitoras ou que precisem de algum esclarecimento adicional. O livro apresenta ainda sugestões de leitura e de visualização.

 

*

Ao ler este Esperança no Horizonte fui estabelecendo pontes com outros livros que tenho nas minhas estantes. Aproveito para partilhar um conjunto de livros que, a meu ver, dialogam com este:

🟠 Potencial Escondido, de Adam Grant; Tradução de Leonardo Cascão (Vogais)

🟠 Frederick Douglass - Devo Argumentar quão Absurda é a Escravatura?de Arianna Squilloni; Tradução: Catarina Sacramento; Ilustração: Cinta Fosch (Akiara Books)

🟠 Eu, Malala. A minha luta pela liberdade e pelo direito à educação, de Malala Yousafzai e Christina Lamb; Tradução: Cristina Carvalho (Editorial Presença)

🟠 O Livro do Clima, org. de Greta Thunberg (Objectiva) 

🟠  Não Me Magoas Maisde Margarida Fonseca Santos (Fábula)

🟠  Daniel, o Guardador de Sonhosde Catarina Rodrigues; Ilustração: Tiago M. (Oficina do Livro)

22 de Agosto, 2024

Adela Cortina: “El cerebro humano tiende a la xenofobia, pero tenemos la libertad de alimentarla o no”

joana rita sousa / filocriatividade

 

La catedrática de Filosofía Moral de la Universidad de Valencia Adela Cortina Ors ha explicado que, según neurocientíficos como David Eagleman, determinadas causas biosociales inducen al cerebro humano a que tenga tendencia a la xenofobia, “porque en él impera el fin de supervivencia y, por seguridad, busca lo conocido y se enerva ante lo que no controla”. Ello sería el origen de todas las fobias que atenazan a las personas. Sin embargo, la filósofa no cree en el determinismo que esto parece implicar: “Tener una tendencia no implica tener que seguirla. Decidimos qué tendencias queremos cultivar y cuáles no, gracias a la facultad que nos da la libertad”. (artigo completo AQUI)

 

🔸 importa saber que, apesar da tendência ser reportada pela neurociência, não estamos condenados a segui-la. importa ter consciência de que essa tendência existe, em cada um/a de nós.

14 de Agosto, 2024

formações acreditadas // CCPFC - 2024/2025

joana rita sousa / filocriatividade

formação filocriatividade

 
 
🟣 Eis as próximas formações #filocriatividade:
 
 
🔶 9.ª edição Como criar condições para o diálogo em sala de aula / online (25h) - início no dia 18 de Setembro - CCPFC/ACC-114253/22 (Casa do Professor)
 
 
🟦 4.ª edição: Como desenvolver pensamento crítico em sala de aula / online (25h) - início no dia 30 de Setembro - CCPFC/ACC-119419/23 (Casa do Professor)
 
 
🔺 2.ª edição: Como criar um espaço e um tempo de escuta em sala de aula / online (25h) - início a 13 de Janeiro de 2025 - CCPFC/ACC-123042/24 (Centro de Formação Alice Maia Magalhães)
 
 
🟡 1.ª edição: Pensar DENTRO da caixa: como desenvolver pensamento criativo em sala / online (25h) - início a 3 de Fevereiro de 2025 - (Centro de Formação Alice Maia Magalhães)
 
 
 
Informação detalhadas na agenda #filocriatividade.
 
12 de Agosto, 2024

Falar Piano e Tocar Francês

- uma reflexão sobre a mediação

joana rita sousa / filocriatividade

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Falar Piano e Tocar Francês é um livro da autoria de Martim Sousa Tavares publicado na Zigurate. O subtítulo não engana: neste livro fala-se de arte, de cultura e de humanismo. Ao longo de 17 capítulos, o maestro Martim leva-nos pela mão para nos contar histórias sobre o encontro entre o ser humano e a arte. 

Martim é o mediador deste encontro; é a interposta pessoa que procura gerar sentido a partir daquilo que é desconhecido para o público (pp. 24-25). Mediar ou "o verbo-chave nesta história" (p. 13) é a acção que o autor leva a cabo nas páginas de Falar Piano e Tocar Francês. 

A minha leitura do livro assumiu o ponto de vista de alguém que é uma pessoa mediadora (de diálogos, de leitura e de cultura). Há alguma tendência para que as pessoas mediadoras se limitem a relatar os factos ou a fazer as descrições de forma isenta ou neutra. Porém, a pessoa mediadora está envolvida nesse processo e por isso é tão importante pensar qual é o nosso papel e como o podemos desempenhar. Nas palavras de Martim, é importante pensar como é que podemos "criar um lugar-comum, um plano onde tudo se cruza e onde todos se encontram, numa experiência da qual cada pessoa pode retirar um sentido e sair recompensada." (p. 13).

A pessoa mediadora age como guia e está consciente de que aquilo que se observa, que se escuta, que se experiencia pode ser observado, escutado e experienciado de modos distintos. Essa diversidade é apontada pelo autor como uma riqueza, assumindo que a pessoa mediadora assume um ponto de vista pessoal e subjectivo. Sim, vamos condicionar a experiência das pessoas mediadas e esse é um risco que temos de aceitar, ainda que possa ser considerado um "acto subversivo, contraproducente ou inconsequente" (p. 72).

 

Se, por um lado, a mediação sempre existiu - basta pensar que uma simples legenda com título, autor e data é já uma forma rudimentar de mediação -, por outro, este é um campo onde o mínimo indispensável costuma ser a medida de tabela, transformando-se numa fórmula de mediação no limiar do inexistente e que oferece apenas informação básica sobre as obras apresentadas, transmitida de forma asséptica e impessoal. (p. 70)

 

Martim reflecte sobre o papel da pessoa mediadora, mas tembém sobre o papel da arte. Afinal qual é a função da arte? O autor arrisca uma ideia: "a função primordial da arte é a melhoria do homem em sentido individual e colectivo. Para além de poder ser agradável, o seu efeito desencadeia mecanismos de raciocínio, reflexão, curiosidade e sensibilidade (...)" (p. 82). Um pouco mais adiante, o autor aponta o carácter paradoxal do fenómeno da arte; carácter esse que também faz parte da natureza humana. A página 83 de Falar Piano e Tocar Francês levou-me a reler um artigo sobre Schopenhauer e o paradoxo que é a nossa vida, bem como a pensar no paradoxo do tempo (Aristóteles) e tantos outros que fazem parte dos livros de filosofia (e da nossa vida!). 

 

Ler este livro levou-me a reflectir sobre o papel da verdade e da forma estética e ética como a podemos investigar, seja na arte, seja na filosofia. Na p. 83 Sousa Tavares assume que "Nada por estar inteiramente certo ou errado", apontando aqui uma atitude de humildade e de honestidade intelectuais que importa cultivar. Descarta-se o dogmatismo, um tudo ou nada,  e assume-se uma atitude de busca contínua pela resposta mais razoável ou pela melhor resposta às perguntas que a arte nos coloca de modo perpétuo. 

 

A haver uma função para a arte diria que se trata de  perpetuar as perguntas. É nesta linha que assumo o meu papel de mediadora entre a arte e a infância, tal como me aconteceu nos trabalhos desenvolvidos junto do MIAA , da exposição de fotografias de Alfredo Cunha ou na Bienal de Aveiro

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