sobre a participação das crianças - o modelo Lundy
Children and young people consistently reported frustration that their views were not being listened to and taken seriously.
(ENABLING THE MEANINGFUL PARTICIPATION OF CHILDREN AND YOUNG PEOPLE GLOBALLY: THE LUNDY MODEL)
Artigo 12.º: A criança tem o direito de ser escutada com seriedade.
O modelo Lundy foi desenvolvido pela investigadora Laura Lundy (Professora dos Direitos da Criança na Escola de Educação Queen's University of Belfast). O enquadramento deste modelo encontra-se no Artigo 12.º da Convenção dos Direitos da Criança (Organização das Nações Unidas):
1. Os Estados Partes garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade.
2. Para este fim, é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais e administrativos que lhe respeitem, seja directamente, seja através de representante ou de organismo adequado, segundo as modalidades previstas pelas regras de processo da legislação nacional.
Espaço, voz, audiência e influência
A proposta de Lundy contempla quatro elementos: o espaço, a voz, a audiência e a influência.
os 4 elementos do modelo Lundy
De forma a assegurar que as crianças têm um espaço seguro e inclusivo para dizer o que pensam, que a sua voz tem lugar e que há quem as escute e que os seus pontos de vista importam, Lundy propõe que consideremos algumas perguntas:
[espaço]
- Os pontos de vista das crianças são procurados de modo activo?
- Há um espaço seguro no qual as crianças podem expressar-se de forma livre?
- De que forma estamos a assegurar a participação de todas as crianças (e de cada uma)?
[voz]
- As crianças têm as informações necessárias para formular a sua opinião?
- As crianças sabem que não são obrigada a participar?
- As crianças tiveram acesso e puderam escolher entre diferentes opções no momento de expressar o que pensam?
[audiência]
- Como são comunicadas as ideias das crianças?
- As crianças sabem que os seus pontos de vista estão a ser comunicados a alguém?
- A pessoa/a entidade a quem as ideias são comunicadas tem o poder de tomar decisões?
[influência]
- As ideias das crianças foram tidas em conta pelas pessoas que têm o poder para aplicar a mudança?
- Há procedimentos desenvolvidos no sentido de ter em consideração os pontos de vista das crianças?
- Conseguimos garantir feedback às crianças e jovens sobre as razões para levar a cabo as decisões?
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Cabe às pessoas adultas garantirem que o espaço é seguro e inclusivo para que as crianças possam expressar as suas opiniões e que estas são escutadas por alguém que tem um papel na tomada de decisão. Também é importante esclarecer as crianças e os jovens sobre as matérias sobre as quais as suas opiniões devem versar, bem como sobre os modelos de participação em curso. O feedback sobre as decisões tomadas e os contributos das crianças e dos jovens nessas decisões é fundamental para garantir transparência nos processos, bem como para gerir as expectativas de cada uma das crianças ou jovens intervenientes.
Num artigo publicado no blog Primeiros Anos, a investigadora Nadine Correia elenca um conjunto de perguntas que nos permitem pensar sobre a forma como consideramos a participação das crianças e dos jovens:
Na sua instituição e/ou na sua sala, existe um espaço participativo que encoraje a expressão das vozes das crianças? As crianças têm a oportunidade de se expressarem de múltiplas formas, de acordo com as suas características, necessidades e preferências?
Na sua instituição/sala, existe uma audiência das ideias e perspetivas das crianças, por parte dos/as adultos/as responsáveis por tomar decisões? As crianças são consideradas nas decisões que estão a ser planeadas e discutidas? Podem, efetivamente, exercer influência nos assuntos que lhes dizem respeito?
Os/as vários/as profissionais articulam e cooperam, entre si, para promoverem a participação das crianças (e.g., refletem em conjunto, partilham estratégias)? Existe, também, articulação com as famílias das crianças ou com a comunidade local, para que a participação possa ser promovida de uma forma transversal, nos diversos contextos? (Nadine Correia)
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Ainda sobre a participação em sala de aula:
- Making Classroom Participation More Equitable With Hand Gestures (Kathy Collier);
- 4 Ways to Make Classroom Participation More Inclusive (Edutopia);
- How to Open Class Participation to Everyone (Hoa P. Nguyen);
- 8 Strategies to Improve Participation in Your Virtual Classroom (Emelina Minero);
- How to Increase Participation by Asking Better Questions (Laura Lee);
- O direito de participação em salas de jardim de infância (Nadine Correia).
Fonte: Lundy Model of Participation (Comissão Europeia)
Agradeço à Ana Santos por me ter dado a conhecer o modelo Lundy.