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11 de Junho, 2024

as crianças e a participação

joana rita sousa / filocriatividade

 

participação

 

Como participam as crianças numa actividade? O que se espera das crianças?

Num ensaio de 1992, Roger Hart apresenta-nos vários tipos de participação por parte das crianças. Quando o autor usa o termo participação deve entender-se o seguinte:

(...) to refer generally to the process of sharing decisions which affect one’s life and the life of the community in which one lives. It is the means by which a democracy is built and it is a standard against which democracies should be measured. Participation is the fundamental right of citizenship. (p. 5)

Trata-se do processo de partilha de decisões que afectam a vida da própria pessoa e da comunidade onde essa pessoa se insere. O enquadramento que é dado à participação prende-se com o exercício da vida em democracia. 

Logo no início do artigo há a referência ao tokenism, um termo cuja tradução para língua portuguesa me parece difícil. Na wikipédia encontrei a referência ao tokenismo, que é referido como "a prática de fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo para membros de minorias."  Já no artigo, o termo refere-se aos momentos ou às situações nos quais a crianças aparentemente têm uma voz ou lhes é dada uma voz. Essa participação é aparente, pois na verdade as crianças não têm um verdadeiro espaço para dizer o que pensam sobre o tópico ou para fazer uma escolha. São as pessoas adultas que escolhem e que decidem pela criança escudando-se na ideia de que sabem escolher o melhor e agir para defender o seu interesse.

 

escada

 

Oito níveis de participação das crianças em projectos

 

Vamos imaginar uma escada com oito degraus, sendo que cada um é sinal de um certo tipo de participação criada pela pessoa adulta para a criança.

No primeiro degrau temos a manipulação; no segundo degrau, temos a  participação como decoração; no terceiro degrau, o tokenismo; no quarto degrau, uma participação atribuída e informada;  no quinto degrau, uma participação que surge após consulta e com informação; no sexto degrau, uma participação iniciada pela pessoa adulta e que contempla decisões partilhadas com as crianças; no sétimo degrau uma participação iniciada pela criança e orientada pela pessoa adulta; no oitavo degrau,  existe uma participação da iniciativa da criança e com decisões tomadas pela criança e pela pessoa adulta. 

Do primeiro ao terceiro degrau, Hart considera que não há participação da parte da criança; esta inicia no quarto degrau.

Um exemplo comum da manipulação passa pela escolha das crianças que articulam bem, que não vão falhar, sem que seja necessário haver uma preparação ou trabalho prévio, para participar num evento. Estamos a falar daquela criança que não nos vai deixar ficar mal e que fica bem na fotografia

Concordo com Hart e gostaria de sublinhar que, a partir do quarto degrau, a pessoa adulta está a praticar a escuta quando há uma participação atribuída e informada e que exige, quanto a mim, algum diálogo, bem como troca de perguntas e respostas para que a criança compreenda o que é esperado dela em termos de participação. Creio que até chegarmos a esse degrau a criança é ouvida, mas não é escutada - entenda-se, o seu ponto de vista não é considerado pela pessoa adulta.

À medida que vamos subindo os degraus há outra disponibilidade de escuta por parte da pessoa adulta e a participação, o envolvimento da criança é cada vez maior. Não se trata de subir e ter apenas mais escuta ou mais participação; diria que ao subir temos a oportunidade de praticar uma escuta e uma participação com mais qualidade.

 

*

 

Outros artigos sobre o tema da escuta e da participação:

🔇 manifesto anti-chiuuu (joana rita sousa);

🔇  escuta atenta à voz das crianças (júlia martins, RBE);

🔇 sobre as diferentes formas de participação nos diálogos (joana rita sousa).

 

Fonte: Roger Hart (1992) Children's Participation: From Tokenism To Citizenship (disponível online).