ecos das oficinas Liberdade para Discordar
A discórdia e o desacordo como elementos essenciais da democracia
Desde 2023 que as oficinas #LiberdadeParaDiscordar viajam pelo país e convidam crianças e jovens a parar, pensar, escutar, dialogar e... discordar.
Regra geral, o consenso surge como algo que se estima e que se procura num diálogo. Há até quem defenda que "não vale a pena iniciar um diálogo quando se sabe que não vamos conseguir consenso." Outras pessoas defendem que é importante ter uma certa atitude no diálogo para que possamos "discordar com respeito".
A PhiE facilitator does not try to bring a group to consensus as a point of principle (…) or to draw all members of the community towards an agreed group-answer (…), but actively seeks out the dissenting views, allowing the awkward questions to be asked, welcoming controversy, and including the “annoying kid at the back of the class.
(Worley P (2021) Corrupting youth: how to facilitate philosophical enquiry, vol 2. Rowman & Littlefield, Lanham, p. 34)
Sobre este tema tive oportunidade de escrever num artigo em co-autoria com Pieter Mostert, publicado na Springer:
Dissent (in the sense of not agreeing with what the majority thinks) empowers a dialogue, but it does more, it plays an essential role in democracy and should therefore be encouraged and protected.
"Dissent is essential in a democracy. If a country has to grow in a holistic manner where not only the economic rights but also the civil rights of the citizen are to be protected, dissent and disagreement have to be permitted, and in fact, should be encouraged. It is only if there is discussion, disagreement and dialogue that we can arrive at better ways to run the country." (Gupta)
(Sousa, J.R., Mostert, P. (2023). Why Vote? A Reflection on the Democratic Nature of Dialogical Inquiries. In: Mancenido-Bolaños, M.A.V., Alvarez-Abarejo, C.J.P., Marquez, L.P. (eds) Cultivating Reasonableness in Education. Integrated Science, vol 17. Springer, Singapore.)
Como surgiram as oficinas?
A origem destas oficinas remonta ao ano lectivo 2021/2022 quando desenvolvi um projecto em parceria com a Biblioteca Escolar da Venda do Pinheiro (Centro de Recursos Poeta José Fanha) e trabalhámos o livro Discórdia, de Nani Brunini (Pato Lógico). No decorrer dessas oficinas surgiram várias perguntas sobre a discórdia e sobre o consenso. Chegámos mesmo a criar um "Manual do Consenso".
Num mundo polarizado e no qual somos chamados a dar opiniões a todo o momento, urge aprender a discordar. Também nos parece sensata a atitude de praticar o "menos opiniões, por favor" evitando assim partilhar uma opinião não fundamentada ou pouco informada.
Procurar ter por perto quem concorda connosco é uma atitude, no mínimo, humana. O problema que o viés de confirmação nos apresenta é a criação de uma bolha que poderá desfocar a realidade.
Oficinas para celebrar os 50 anos do 25 de Abril
A propósito das celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, as oficinas #LiberdadeParaDiscordar já viajaram por Abrantes, Sines, Braga, Barreiro, Benfica, Vila Nova de Milfontes, Loures, Santo António dos Cavaleiros, Évora, Tondela, Ponte de Lima, Oeiras, entre outros destinos.
O grande propósito destas oficinas é o de criar um tempo e um espaço para praticarmos a discórdia, com a ajuda de ferramentas filosóficas, cultivando uma atitude de escuta e de respeito para com a vez de fala de cada pessoa que contribui para o diálogo.
*
Estas e outras oficinas estão prontas para viajar até à sua escola ou biblioteca escolar, bem como a um centro de estudos ou outro espaço que possa acolher os diálogos filosóficos. Se pretende saber mais sobre a possibilidade da filocriatividade visitar a sua escola/biblioteca pf preencha este formulário. A agenda para os meses de verão e para o próximo ano lectivo já se encontra aberta.