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09 de Maio, 2024

matar o "mas"

joana rita sousa / filocriatividade

 

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Recentemente li o livro Ler o Mundo, de Michèle Petit, recomendado num dos encontros do Clube de Leitura Arco da Velha, dinamizado pela Andreia Salgueiro.

A recomendação veio mesmo a calhar pelo facto de me ter ajudado a pensar nos conteúdos do ciclo de oficinas sobre Filosofia, Literatura e Infância na BIJ, em Cascais (mais informações neste link).

 

Gostaria de destacar uma passagem que fala da morte do “mas”. O “mas” aparece muito nos diálogos filosóficos e nas conversas que temos todos os dias. Dizia-me uma criança, há uns anos, que aquilo que queremos mesmo dizer vem depois do “mas”: “joana, a primeira parte da frase é só para ser simpático, depois do mas é que vem mesmo o que queremos dizer.”  Desde então tenho procurado prestar muita atenção aos “mas” que digo e aos “mas” que oiço.

Confesso: apetece-me matar alguns “mas”.

 

“Quando, por acaso, descobri esta feira, houve um pormenor que me intrigou: no meio de cada bricabraque havia sempre uma maçã trespassada por uma tesoura. Por vezes, encontrava-se em lugares insólitos: um anjinho barroco, suspenso por um fio de uma árvore sobre toda aquela miscelânea, lançava uma flecha… em que a maçã estava espetada. Acabei por interpelar uma estudante que encontrei sentada nos degraus de uma igreja. Olhou para mim, divertida:

Ah, reparou na maçã? No entanto, escondemo-la sempre um bocadinho… Sabe, aqui, a uma maçã chamamos um pero [que em castelhano significa também “mas”]. E a vida, o que é? É sempre: “Amo-te, és tudo para mim, mas deixar a minha mulher, com as crianças, nem penses!” Ou então: “Aquela mulher é linda, tem uma tez de pérola, mas o seu nariz…”

Então, durante a Festa, uma ver por ano, matamos o pero, matamos o “mas”.  

(Michèle Petit, Ler o Mundo, pp. 128-129)