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filosofia para/com crianças e jovens | mediação cultural e filosófica | #ClubeDePerguntas | #LivrosPerguntadores | perguntologia | filosofia, literatura e infância

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23 de Agosto, 2022

sobre a empatia cognitiva

joana rita sousa / filocriatividade

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no livro Know Thyself, de Mitchell S. Green há um capítulo dedicado ao auto-engano (self-misleading), empatia e humildade. confesso que este capítulo me chamou a atenção pela tríade apresentada e sobretudo por tratar de empatia. 

assumo que tenho algumas questões com a palavra empatia, por considerar que na maioria das vezes se traduz numa simpatia forçada e pouco honesta. é um viés assumido e que me faz rejeitar a palavra, por exemplo, quando tentam aplicá-la no contexto do diálogo filosófico. 

porém, Green apresenta uma perspectiva relevante sobre a empatia e que me fez rever a forma como entendia o conceito e até me motivou a pesquisar mais sobre as raízes do termo, consultando a Stanford Encyclopedia of Philosophy, por exemplo. 

 

o que é a empatia cognitiva? 

(...) although we have spoken so far about empathizing with someone's affective situation, nothing in the concept rules out the possibility of empathizing with someone's epistemic situation. (p. 102)

a empatia cognitiva pode ajudar-nos a compreender as pessoas com quem discordamos ou cujo discurso cremos estar errado, evitando ser condescendente:

Such an attitude promotes tolerance with those with whom we differ. It also helps us to confront situations in which people might disagree on a matter in which neither one seems to have compeeling reason for preferring her view to that of the other. (p. 103)

 

a empatia cognitiva e o diálogo

no âmbito do diálogo filosófico parece-me bastante relevante atender ao exercício da empatia cognitiva, uma vez que ter em conta as alternativas que o nosso par contempla permite-nos imaginar o que pode ter conduzido a outra pessoa a chegar àquela ideia. 

este exercício poderá levar-nos a adoptar a ideia da outra pessoa? talvez. Green diz-nos que ainda que isso possa não acontecer, é provável que, ao exercitar a empatia cognitiva, nos tornemos pessoas menos dogmáticas relativamente ao nosso próprio ponto de vista e mais capazes de ver o mesmo através de um olhar diferente. 

em suma, a empatia não se limita a ser um acto de imaginação da situação emocional da outra pessoas, mas também da sua situação epistémica.  praticar a empatia cognitiva abre caminho para que possamos ver as nossas próprias limitações, a rever as nossas ideias e as nossas crenças. desta forma, traduz-se num exercício de humildade intelectual. 

 

a empatia cognitiva e o desacordo 

praticar a empatia cognitiva num ambiente de diálogo no qual surgem posições opostas ou ideias que discordam entre si permite que o diálogo posso acontecer. por diálogo entenda-se um tempo e um espaço onde as pessoas se juntam para criar algo novo juntos (David Bohm, On Dialogue, p. 3).

este tipo de diálogo exige que as pessoas intervenientes estejam disponíveis para se escutarem umas às outras e manifestem um interesse genuíno na verdade e na coerência, de tal forma que poderá exigir que se abandonem as ideias próprias para pensar algo distinto e pensar o que até então era para si impensável. 

o desacordo faz parte do processo de diálogo: cada uma das pessoas que dialoga transporta uma forma de ver e perceber o mundo, os seus pressupostos, os seus enviesamentos, as suas crenças. é natural que nem sempre essa visão ou percepção do mundo coincida entre as pessoas intervenientes. 

no contexto do diálogo, parece-me importante esperar o desacordo (sem o forçar necessariamente), estar disponível para que aconteça e ver esse momento como uma possibilidade de exercício da empatia cognitiva. 

 

referências:

📚 Green, Mitchell S., (2018) Know Thyself, Routledge: Londres / Nova Iorque

📚 Bohm, D., (2014) On Dialogue, Routledge: Londres / Nova Iorque

 

23 de Agosto, 2022

#LERePENSARcom

joana rita sousa / filocriatividade

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sugestão de Júlia Martins, professora de filosofia, de Setúbal

o livro:

Ecologia, de Joana Berthólo (editorial Caminho)

imagem via wook

 

a citação:

"– Maaaãe…?

- Diz, Candela.

- Ó mãe, se o dinheiro falasse…

- O dinheiro não fala, querida, as coisas não falam.

- Sim, eu sei! Mas se! Se o dinheiro pudesse falar.

- Ok… - … O que é que tu achas que diria…?”

[...]

- Mãe, as palavras têm prazo de validade?

-Que eu saiba não, ainda não.

- Em breve vão ter, não vão? Porque as palavras agora são coisas e a maioria das coisas tem um prazo de validade.

[…]

-Ó mãe, e o que vamos fazer quando uma palavra expirar?

-Sei lá. Terás de comprar uma mais recente.

-Ah…

Lúcia senta-se e reabre o seu livro.

- E o dinheiro, mãe? Não tem prazo de validade?"

 

a reflexão:

Para nós, leitores, cada livro de Joana Bértholo é uma surpresa, das inesquecíveis. A sua escrita percorre diferentes géneros: romances, livros infantis, peças de teatro, entre outros. Ecologia é um livro reflexivo, incómodo, complexo, assustador, questionador, provocador e inovador. Mas também irónico, corrosivo, amargo e divertido. Numa só palavra: brilhante! As histórias cruzadas, as personagens dispersas mas entrelaçadas, a mescla de estilos narrativos e diferentes artes, a reflexão sobre os limites da linguagem e as questões da incomunicabilidade fazem com que este livro se torne numa experiência ímpar de leitura. São partilhadas com o leitor citações, informações, segredos escondidos em códigos QR que vão surgindo ao longo das páginas, induzindo uma oscilação nos ritmos de leitura e afirmando formas de comunicar distintas. É de palavras que se fala em Ecologia. Palavras que ecoam num novo tipo de sociedade – de cariz económico, onde tudo se compra e vende, até as palavras. Terão as palavras prazo de validade? Conseguirá o dinheiro comprar palavras? Será possível a “privatização da linguagem”? Serão as palavras privatizáveis?

 

a pergunta: 

Qual o valor da palavra?

 

👉 #LERePENSARcom é uma rubrica #filocri que pretende divulgar leituras, leitores, reflexões e perguntas. pretende-se também ampliar o entendimento de leitura: podemos ler e pensar com livros (literatura,  filosofia, ciência, álbuns ilustrados...), com documentários, com imagens ou com jogos e até com séries. procura-se aquilo que nos faz pensar, pratica-se o voltar a pensar e termina-se (se bem que o fim é um começo) com uma pergunta.  

gostaria de participar nesta rubrica? basta preencher este formulário

23 de Agosto, 2022

sugestões para a lista de desejos da feira do livro

joana rita sousa / filocriatividade

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para conhecer as mulheres filósofas

no último ano tenho privilegiado a aquisição e a leitura de obras de mulheres pensadoras e filósofas. só assim consigo conhecer o seu pensamento, dado que continuam a ficar de fora dos manuais e dos currículos de filosofia. 

por onde começar? 

👉 bell hooks tem livros traduzidos em português na editora Orfeu Negro, na temática do feminismo;

👉 A Liberdade é uma luta constante, de Angela Davis está disponível na Antígona; 

👉 Hannah Arendt tem várias obras traduzidas em português; recomendo A Condição Humana, traduzida na Relógio D'Água;

👉 Para que serve a filosofia?, de Mary Midgley, na Temas e Debates; 

👉 Uma Vindicação dos Direitos da Mulher, de Mary Wollstonecraft, editado na Antígona.

 

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para ler, aprender e treinar pensamento crítico

para quem acompanha o blog, certamente já conhece estes livros, dado que os cito frequentemente. 

👉 A arte de fazer perguntas, de Warren Berger, na editora VogaisM

👉  Racionalidade, de Steven Pinker, na Editorial Presença;

👉 de Daniel Kanheman, Pensar depressa e devagar, na Temas e Debates;

👉 Pensar de A a Z, de Nigel Warburton, editado na Bizâncio;

👉 de Rolf Dobelli, A arte de pensar com clareza, na Temas e Debates.

 

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para quem quer aprender sobre filosofia para / com crianças e jovens:

estes são alguns títulos que, além de apresentarem a perspectiva teória das pessoas autoras, também contêm sugestões de aplicação dessa mesma teoria.

👉  A máquina dos ses, de Peter Worley, nas Edições 70;

👉 o livro Hospital de bonecas, de Ann Sharp, e o manual de apoio Compreendendo o meu mundo, na Dinalivro;

👉 nas Edições Piaget é possível encontrar o trabalho de Maria José Figueiroa-Rego, com livros para várias faixas etárias e respectivos manuais de apoio;

👉 da autoria de Dina Mendonça e Maria João Lourenço, o livro editado na Plátano Editora, Brincar a Pensar.

 

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para quem gosta de #livrosperguntadores: 

já há algum tempo que os livros perguntadores são tópico aqui do blog e das demais redes sociais da filocriatividade, sobretudo no instagram. correndo o risco de alguns destes títulos serem repetidos face a essas partilhas, aqui ficam as sugestões: 

👉  de Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Como ver coisas invisíveis, na Planeta Tangerina;

👉 colecção filosofia para crianças, da autoria de Oscar Brenifier, na Dinalivro; 

👉 na Edicare, a colecção pequenos filósofos, de Oscar Brenifier;

👉 de Muriel Barbery, A Elegância do Ouriço, editado na Presença;

👉 Paz traz paz, de Afonso Cruz, na Companhia das Letras; 

👉 Isto não é, de Marco Taylor (edição de autor);

👉 de Ricardo Henriques e Nicolau, na Pato Lógico, o livro 1.º Direito;

👉 Barafunda, de Afonso Cruz e Marta Bernardes, na editorial Caminho;

👉 de Jutta Bauer, na Gatafunho, a Selma;

👉 na Kalandraka, Os Três Bandidos, de Tomi Ungerer.

 

 

*

💥 caso não possa adquirir estes livros poderá sempre visitar a biblioteca municipal e requisitá-los. se a sua biblioteca não tiver estes livros, sugira a sua aquisição! 

*

👉 a feira do livro do porto acontece de 26 de agosto a 11 de setembro 2022, nos jardins do palácio de cristal.

👉  a feira do livro de lisboa acontece de 25 de agosto a 11 de setembro 2022, no parque eduardo VII.