- sugestões para pensar e estruturar uma oficina online, de filosofia
a pandemia e o confinamento a ela associado "empurrou" as oficinas de filosofia para o mundo online. desde o verão de 2020 que tenho estado a moderar oficinas de filosofia em plataformas online, tendo recuperado a oficina do Platão (para crianças dos 7 aos 12 anos) para esse formato.
escolher a plataforma e as ferramentas
há várias plataformas que podem acolher as oficinas online. o zoom, o google meet, o teams são algumas hipóteses. o importante é que o facilitador que acolhe as oficinas esteja confortável com a plataforma e seja capaz de ajudar os participantes a lidar com os "botões" que nela constam.
ferramentas não nos faltam: neste documento encontra uma lista com ferramentas para uso nas mais diversas situações.
a formação online exige preparação adequada, por parte do formador. escrevi sobre esse tema no journal da ActiveMedia e convidei a Helena Dias para falar sobre a sua experiência como formadora numa das edições do #twitterchatpt.
definir e partilhar as regras
é importante definirmos as regras de funcionamento do diálogo, tal como acontece nas sessões presenciais.
na grande maioria das vezes peço que os participantes estejam com os microfones desligados e só liguem quando lhes for passada a vez. para dar a conhecer a intenção de falar, basta levantar a mão ou colocar o dedo no ar. há plataformas que também têm essa funcionalidade: se a quisermos usar, temos de garantir que todos sabem onde está o "botão" para pedir a vez.
peço aos participantes que liguem a webcam, pois é simpático vermos os rostos uns dos outros; mas lembre-se que nem todos podem ter uma webcam ou esta pode não estar a funcionar.
outro pormenor: o acesso em mobile (tablet ou telemóvel) faz com que as pessoas vejam a plataforma de um modo diferente em relação ao acesso que fazemos através de um computador. portanto, teste a plataforma em mobile para poder ajudar quem acede desta forma a encontrar este ou aquele botão!
outra forma de pôr as pessoas a mexer é sugerir a criação de um quantos queres, partilhando o momento de construção do mesmo com o grupo. as crianças podem ajudar-nos a explicar como se constrói o quantos queres e assim conseguimos um momento de entreajuda entre todos.
a Katia Souza partilhou no grupo Filosofia e Ensino uma forma de sinalizar as respostas SIM e NÃO, usando objectos comuns em casa: uma colher e um garfo:
a utilização de objectos envolve os participantes no diálogo, mesmo que não possa ser manipulado por todos os participantes.
dou o exemplo da Kátia Souza, que usa este dado:
"Apresento um cubo e pergunto se quer que eu lance o cubo muito alto, médio, ou fraquinho. Assim que escolhem, lanço o cubo e a face que cair para cima é o "comando" para dizer algo sobre o tema, como por exemplo: "Dizer algo que considera certo"; "Dizer algo que considera errado", "Dizer o que apetece"; "dizer o que não gosta"; "fazer uma pergunta"; "passar a vez"... Tudo em relação ao tema escolhido."
partilhar a gestão da oficina com os participantes
os participantes da oficina podem partilhar connosco a gestão da oficina; por exemplo, ficando mais atentos à gestão do tempo.
o Guardião do Tempo foi uma figura que apareceu numa das oficinas de filosofia online, precisamente por estarmos a dialogar sobre o tempo e a importância que os relógios têm no nosso dia.
é uma óptima ideia convidar os participantes a escolher uma dinâmica ou uma pergunta para a oficina. quanto mais os envolvermos, melhor.
outra opção passa por convidar um dos participantes a fazer resumos ou pontos de situação em momentos diferentes da oficina.
a importância do silêncio
no formato presencial ou no formato online, o silêncio deve ser algo que não devemos temer. o silêncio é importante para termos tempo para pensar.
no formato online o silêncio também é uma forma de dar tempo para que o som chegue a todos. nem sempre a conexão da internet é favorável e temos de contar com essas dificuldades na gestão da oficina.
que tipo de estímulos / provocações filosóficas usar em ambiente online?
a grande limitação do online é que não podemos partilhar objectos ou trocar uma carta com uma ideia com o amigo que está sentado ao nosso lado.
na verdade, com as questões #covid19pt a partilha de objectos quanto estamos em formato presencial também conhece algumas limitações.
assim, é bom prepararmos uma provocação que possa ser partilhada e visualizada / escutada por todos os participantes. eis algumas ideias:
- usar imagens alojadas num power point que será partilhado na plataforma;
- ler um pedaço de uma história e partilhar as ilustrações no écran, com o grupo;
- partilhar um vídeo directamente do youtube;
- plataformas como o zoom permitem opções de quadro branco, onde todos podem construir algo de forma colaborativa;
- partilhar uma pergunta num documento colaborativo, google drive, e fazer o registo das ideias nesse documento.
a leitura partilhada de um texto nem sempre funciona bem, pelo atraso que por vezes há na chegada do som a todos os participantes. poderá sempre experimentar e talvez este recurso da Topsy Page, um círculo online, seja útil para visualizarmos a ordem de leitura ou de vez numa dada tarefa.
há dias dinamizei uma oficina de filosofia a partir de duas histórias do livro "A Contradição Humana", de Afonso Cruz e do "Museu do Pensamento", de Joana Bértholo.
também estive a filosofar com crianças dos 7 aos 12 anos a partir destes limões que o meu vizinho me trouxe:
sobre a oficina dos limões irei escrever um artigo mais detalhado, sobre o processo de criação da oficina e também do processo de pensamento que os limões provocaram no diálogo.
o que pensam as crianças das oficinas online?
perguntei a um grupo de crianças o que mais gostavam nas aulas presenciais e nas aulas online. das aulas presenciais sente-se a falta da "conversa com o vizinho", dos intervalos e dos convívios.
nas aulas online podemos estar mais confortáveis (por exemplo, estar de pantufos) e há menos ruído, pois podemos escolher ter o microfone desligado.
outra vantagem apontada é a possibilidade de participar numa oficina com pessoas de sítios muito diferentes. por exemplo, a D. não precisa vir do alentejo a lisboa (onde eu vivo) para fazer uma oficina de filosofia. além disso, ainda pode encontrar os amigos nesta oficina, amigos que moram longe dela.
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é muito importante assegurar que os participantes (crianças, jovens ou adultos) numa oficina online estejam confortáveis com a plataforma. por isso, se a oficina começa às 15h, abra a sala às 14h50 para testar imagem, som e começar a envolver o grupo no processo.
não tenho pressa em partir para a provocação filosófica: o foco número 1 está no grupo, em perceber se precisam de algum apoio. desta forma poderemos todos usufruir da oficina e do diálogo com tranquilidade.
tenho por hábito enviar um e-mail aos participantes com algumas instruções de uso da plataforma. alguns já têm experiência e não vão considerar a informação útil; outros poderão estar naquele ambiente pela primeira vez e é importante ajudar os participantes a manobrar a plataforma e a conhecer as regras de funcionamento.
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se tiver outras sugestões para oficinas online, por favor partilhe nos comentários!
> este artigo foi actualizado a 22 de Fevereiro, com os contributos da Kátia Souza.
a pedido de uma mãe cuja filha tem vindo a participar nas oficinas de filosofia, aos sábados, abri datas para a oficina do Platão nestas duas semanas de confinamento e de fecho de escolas.
a adesão das famílias tem sido incrível e neste momento estou sem vagas para as datas que agendei inicialmente.
assim, criei novas datas na próxima semana e dei um novo nome à oficina só para ser mais fácil gerir as inscrições e os grupos.
o Kant era um filósofo que defendia muito aquilo que as oficinas de filosofia proporcionam: a prática do filosofar e por isso é uma homenagem justa!
Hoje dou a palavra aos membros do #ClubeDePerguntas para que falem da sua experiência.
Têm sido meses desafiantes para as pessoas curiosas e perguntadeiras que marcam presença neste Clube. E para mim também, pois o meu compromisso é o de criar desafios diferentes, mês após mês.
O foco deste Clube passa por treinar a arte de fazer perguntas, no âmbito do pensamento crítico e criativo.
Os desafios que são enviados mensalmente para os membros pretendem convocá-los a parar para pensar na pergunta, na forma como perguntam e no caminho para o qual a pergunta os leva.
Podem participar neste Clube jovens e adultos com vontade de explorar o mundo das perguntas.
A subscrição é mensal (10€ + IVA) e implica receber um desafio no e-mail, entre os dias 1 e 5 de cada mês e reunir na última semana do mês, via zoom, para partilha do trabalho e do processo.
- a propósito de uma conversa com a Rita, do Kit Literário
no dia 19 de outubro estive no instagram a conversar com a Rita, do Kit Literário. o tópico da conversa era a palavra NÃO e sentei-me para pensar um pouco sobre o papel que o NÃO tem nas nossas vidas.
A propósito de um convite da Rita para um live no instagram dei por mim a reflectir sobre a palavra NÃO. Esse era o tema do mês de Outubro do Kit Literário.
Sentei-me para pensar na importância do NÃO no âmbito do meu trabalho, nas oficinas de filosofia que dinamizo, para crianças, jovens e adultos. Dei por mim a pensar nos NÃO da minha vida, confesso.
Criei um mind map em torno do NÃO e desenhei algumas ideias que nortearam a minha conversa com a Rita, que poderá rever aqui e que resolvi resumir neste texto.
O NÃO, só porque sim
Para apreciar a importância do NÃO e o seu papel num diálogo ou numa conversa, há que atender ao contexto. Portanto, quando me perguntam “O NÃO é importante?” é natural que eu vá responder “depende” e daí comece a derivar situações em que é importante e outras em que não é assim tão importante.
Um NÃO repetido automaticamente, sem reflexão e sem uma razão para existir é um NÃO que não acrescenta valor ao que está a ser dito. Isto vale também para uma das minhas palavras preferidas, o PORQUÊ, que de nada vale se for repetido sem uma justificação. Que sentido tem o meu NÃO ou o NÃO do outro? Estou a dizer NÃO ao quê? E que razões apresento para o meu NÃO?
Com o NÃO também se aprende
O NÃO tem um papel importante na aprendizagem. Por vezes é mais didáctico começar por explicar a alguém o que X não é, do que começar com aquilo que X é.
Do ponto de vista da criança, o adulto tem mais experiência e consegue ver claramente algumas coisas que pode transmitir à criança.
Sou muito fã de que a criança experimente coisas e possa depois avaliar por si se gosta ou se NÃO gosta, se quer ou se NÃO gosta. Mas não se aplica a tudo: perante um forno quente eu vou dizer à Rafaela, de 3 anos, que não pode colocar lá a mão. Perante uma oficina de filosofia ou um livro recomendo que a criança experimente para depois decidir se quer lá voltar ou NÃO.
O NÃO sei
Dizer NÃO SEI é um momento fundamental para podermos construir conhecimento. No contexto de uma oficina de filosofia é um momento que inaugura o “Queres saber? Pergunta.” Ou “Não sabes. Olha eu também não sei. E se fossemos investigar em conjunto?”
A escola não oferece muito espaço para uma resposta “não sei”, pois é encarado como uma falta de inteligência ou de aplicação por parte do aluno. Por outro lado, não se espera que o professor diga “não sei”, pois é suposto que saiba tudo para poder transmitir aos alunos.
Há uns anos conversei com um pai sobre o seu sentimento ambíguo perante o facto do filho se ter revelado uma criança mais perguntadeira. O filho estava a frequentar as oficinas de filosofia há 3 meses e tinha começado a praticar o perguntar em casa: “Sabe, Joana, eu gosto que ele faça perguntas. É importante ter curiosidade. Mas por outro lado tenho receio que o meu filho me faça perguntas às quais não sei responder. E eu sou o pai, eu deveria saber.”
NÃO, o pai (ou a mãe) NÃO sabe tudo. Não tem sequer esse dever. Pode é aproveitar esse NÃO SEI partilhado para partir para uma investigação em conjunto. Pegar num livro, pesquisar na internet, fazer perguntas, ir a um museu – há muitas formas de perseguir esse NÃO SEI e ver se podemos transformar para um “AGORA JÁ SEI”.
O ainda NÃO
Este NÃO que é o AINDA NÃO é uma boa forma de treinar a espera. “Posso fazer X?” – AINDA NÃO. Esperar é algo que se pode treinar e este NÃO ajuda a experimentar a paciência.
Recomendo olhar para os AINDA NÃO quando estamos a traçar objectivos na nossa vida. A criança quer muito aprender a andar a cavalo. Pode não ser possível para a família levá-la às aulas, organizar-se logisticamente ou até ter fundos para suportar as aulas. Neste último caso o AINDA NÃO pode acontecer fisicamente, sob a forma de um mealheiro onde se vai colocando dinheiro para poder depois marcar a aula.
Sou praticante desde AINDA NÃO no âmbito da literacia financeira e faço mealheiros para fins específicos, como comprar livros. E o “NÃO tenho aquele livro” passa a um “AINDA NÃO tenho aquele livro. Faltam-me X euros para o comprar.”
O NÃO enquanto compromisso
A par do SIM, o NÃO é um compromisso. É uma afirmação que rejeita X ou Y. É importante dizer NÃO. Há alguns livros que falam até do poder do NÃO e sublinho a sua importância quando temos de estabelecer limites ou fazer escolhas. Isto é válido para miúdos e para graúdos.
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E por aí? O que pensa sobre o NÃO?
Qual foi o NÃO mais importante que teve de dizer a alguém?
o livro "o museu do pensamento" está publicado na caminho e é da autoria de joana bértholo. as ilustrações estão a cargo de pedro semeano e susana diniz.
este livro já me acompanhou e inspirou no planeamento de oficinas de filosofia e já o levei à rádio miúdos.
motivada pelo desafio #12meses12portugueses lançado pelo perfil do João Oliveira, no instagram, resolvi voltar ao livro. voltar a ler um livro já lido é um exercício que gosto de fazer, pois é sempre uma oportunidade de descobrir algo de novo no livro.
para dar o mote ao desafio, partilho uma proposta para trabalho, em contexto de oficina de filosofia, a partir deste livro.
pensamento e beleza
tendo em conta que o livro é muito sumarento e provocador, vou escolher a p. 60: pensamentos feios, bonitos e as nuvens.
sugestão de trabalho:
* fazer uma leitura partilhada dessa página, com o grupo / a turma. como se faz a leitura partilhada? cada pessoa lê uma frase e depois passa-se a vez a outra. é importante definir a ordem da leitura antes de darmos início à mesma. este procedimento gera silêncio (se não ouvir posso perder o fio da leitura) e promove o respeito pelo ritmo de leitura de cada um.
* depois da leitura, dar tempo e silêncio para pensarmos sobre o que ouvimos.
* nesta fase podemos fazer uma das seguintes coisas:
- transformar a primeira frase da página numa pergunta. será possível?
"É importante poder escolher os pensamentos mais bonitos?"
e iniciar o diálogo com esta pergunta. os participantes podem responder sim, não ou não sei.
ou
pegar na afirmação "É importante poder escolher os pensamentos mais bonitos." e perguntar quem concorda e quem não concorda.
perguntar porquê será o passo seguinte.
(uma nota)
caso o grupo / a turma não tenha ainda desenvolvido a leitura, o texto poderá ser lido pelo adulto da sala.
imagino este texto a ser lido em sala da jardim de infância e a servir de base para um diálogo sobre pensamentos bonitos e pensamentos feios. ah! com um desafio no final: desenhar um pensamento bonito e desenhar um pensamento feio.
se por acaso levar a cabo esta proposta na sua sala (ou em casa, em família), diga-me como correu!
as regras do jogo pandémico mudaram para se ajustar à realidade que vivemos e voltámos a confinar. assim, as oficinas presenciais que tinha agendadas para o final de janeiro foram canceladas.
continuo com actividades online, sabendo que andamos todos um pouco cansados do écran. espero conseguir encontrar quem desse lado está disponível para praticar o filosofar, ainda que de forma online, com todas as saudades que já temos das acções presenciais, de não ter de medir os metros que nos separam.
em tempos de confinamento, o écran permite-nos trabalhar, aprender, ensinar, celebrar aniversários e até jantar com amigos. e filosofar!
nos próximos tempos há actividades para todas as idades, em formato online:
- as oficinas de filosofia para crianças dos 7 aos 12 anos (oficina do Platão) - 23 de Janeiro, 6 e 20 de Fevereiro,
- as oficinas para jovens dos 13 aos 17 anos (philoTEEN) - 23 de Janeiro e 13 de Fevereiro,
- os cafés filosóficos, em parceria com a Bertrand Livreiros (o próximo é já no dia 25 de janeiro),
- a #FilosofiaAoVivo (no instagram) - Leibniz é o convidado do dia 29 de Janeiro,
- o #ClubeDePerguntas, que aceita novos membros no início de cada mês,
nunca é demais agradecer aos parceiros, aos amigos, aos seguidores, aos subscritores e a todos vós que partilham os contéudos #filocri, que subscrevem a newsletter e assim dão um apoio essencial ao projecto filocriatividade. muito obrigada!
hoje a minha recomendação de livros é baseada no desejo de ler estes livros, pois ainda não tive possibilidade de os comprar. todos eles me foram recomendados por pessoas que estimo e é por isso que aqui constam.
caso conheça algum deles, deixe a sua impressão nos comentários.
- um livro de Isabel Meira, com ilustrações de Bernardo Carvalho, publicado pela Planeta Tangerina.
Enciclopédia dos Verbos Felizes
- trata-se de uma edição de autor, do Marco Taylor, de quem já tenho alguns livros e cujo processo de criação foi partilhado na sua conta de instagram.
The Philosopher Queens
- um livro que coloca as filósofas no seu devido lugar, na história da filosofia, da autoria de Rebecca Buxton e Lisa Whiting.