3 exercícios filosóficos para não filósofos
Filosofia para não filósofos - é como quem diz”, filosofia para todos. Acredite, até as filósofas e os filósofos precisam praticar estes (e outros exercícios) diariamente. Caso contrário, o pensamento pode enferrujar ou tornar-se rígido, com demasiada areia na engrenagem.
1- Desafio: ler um livro de uma pessoa filósofa
Uma das práticas diárias de alguém que se dedica à filosofia ou que a estuda, passa pela leitura. Ler um livro de uma pessoa filósofa permite-nos dialogar com o seu pensamento e ampliar o nosso.
Vai ler coisas com as quais concorda, outras das quais duvida e ainda outras com as quais discorda. Podem acontecer muitas coisas quando nos colocamos no lugar de uma pessoa filósofa e tentamos ver o mundo pelos seus olhos. Pode vir a gostar ou não do que escreveu essa pessoa - ou melhor, daquilo que lhe chega do seu pensamento, nos textos.
E como escolher o livro? Sugiro que comeces por um filósofo que te suscita alguma curiosidade. Experimente a leitura de um dos diálogos de Platão, por exemplo. A Apologia de Sócrates. Se preferir um olhar mais contemporâneo, avance para Mary Midgley e o livro “Para que serve a filosofia?”
A regra deste desafio é simples: se o livro se mostrar difícil, assume que o vais tentar ler, pelo menos durante um mês. Intercala uma leitura filosófica com uma leitura não filosófica, para que o teu pensamento ganhe distância face à filosofia e depois possa mergulhar nela com dedicação.
2 - Anunciar o que vamos dizer
Esta é uma regra de diálogo que aprendi com o professor Oscar Brenifier. Trata-se de uma regra simples e que pode ser levada para qualquer tipo de diálogo, não necessariamente filosófico. Pode ser útil, por exemplo, em reuniões de trabalho. Antes de falar, anuncie o que vai fazer: vou acrescentar uma ideia, vou contradizer, vou fazer uma pergunta, vou contar uma anedota, vou reforçar o que a pessoa X disse, entre outros.
Isto exige que pensemos no que vamos dizer e na sua relação com o diálogo em curso. Além disso, tem como efeito a clarificação do discurso. Permite aos outros que analisem as tuas palavras com base no teu anúncio prévio.
O exercício, que é bastante simples, abre espaço para que se identifiquem momentos de mudança de ideias; algo que praticamos amiúde, mas do qual nem sempre temos consciência de quando ou como aconteceu.
Sim, pensar exige tempo e este exercício combate a pressa que temos para dizer muitas coisas e ajuda-nos a ficar mais confortáveis com o silêncio.
3 - Fazer perguntas à pergunta
Compre um caderno com o qual possa andar, para todo o lado. O desafio passa por registar uma pergunta por dia. Pode fazer esse exercício a qualquer hora do dia: o importante é que registe uma pergunta, todos os dias, durante um mês. No mês seguinte, pegue na pergunta do dia 1 do mês passado e faça pelo menos três perguntas a essa pergunta: e por aí fora.
Desta maneira amplia o exercício do perguntar, a partir de uma interrogação. No final desse mês terá as 30 perguntas iniciais e ainda 90 que surgiram a partir dessas. No mês seguinte o desafio passa por responder a uma pergunta por dia.
“Mas respondo a qual delas, Joana?” Sugiro que abra o caderno de forma aleatória e comece a responder. Por escrito, sim. Tenho para mim que ler e escrever, usando o suporte papel e a caneta para o efeito, nos permite um diálogo mais próximo com o nosso pensamento. E isto é baseado numa história verídica - a minha.
Anualmente, na terceira quinta-feira do mês de Novembro comemora-se o Dia Mundial da Filosofia (iniciativa da UNESCO).