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05 de Junho, 2020

Santo Agostinho e a pedagogia da interioridade

#FilosofiaAoVivo

joana rita sousa / filocriatividade

 

"A filosofia agostiniana é uma luta da memória contra o esquecimento, através de uma renovada atenção ao presente, de uma vigília que nem começa muito antes da aurora nem vai pela noite dentro, porque rompe sempre de novo hic et nunc." (José Rosa, Em busca do centro, p. 21)

 

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para preparar este episódio da #FilosofiaAoVivo procurei os dossiers com os apontamentos de filosofia medieval. 

ao abrir a pasta rapidamente me reencontrei com o pensamento do autor d'A Cidade de Deus, uma das obras mais conhecidas de Agostinho de Hipona. além das Confissões, há outros textos que me abriram as portas para conhecer este filósofo, um platónico que, só não o é inteiramente, por integrar a revelação cristã no seu edifício de pensamento. 

 

De Magistro - O Mestre

O Mestre é um diálogo entre Agostinho e Adeodato. escolhi esta obra para este episódio, precisamente por ser um diálogo e por ter sido dos textos de Agostinho que mais gostei de descobrir. 

neste texto, escrito em 389, Agostinho diáloga com Adeodato sobre a função da linguagem e sobre Cristo, o verdadeiro Mestre. o texto é todo ele um exercício pedagógico e mental para formar o discípulo, num itinerário que lembra Platão e que coloca em prática a pedagogia da interioridade. 

o Mestre não é aquele que ensina aos humanos as ciências, mas sim Deus. 

o itinerário proposto por Agostinho, em termos de conhecimento, segue a caminhada platónica, do mundo inferior (sensível, temporal, da criatura) ao mundo superior (inteligível, eterno, do Criador). a Criatura realiza um caminho interior, num esforço de elevação à luz, de prática da  maiéutica socrática. a Criatura pergunta "quem sou?"

a filosofia é o único caminho para atingir a vida beata (feliz), pois a sabedoria é sinónimo de felicidade. esta é conquistada através da sabedoria e quem a ela quer ascender, deve percorrer um caminho longo e largo de exercícios para curar e fortalecer os olhos com a visão da luz inefável. 

"Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar (...) a ele mesmo, no seu lugar." (Platão, República, 516b)

os paralelos com a noção de Paideia grega são evidentes: se para os gregos, pretendia-se atingir a purificação intelectual e moral, para Agostinho o fim último é o das virtudes cristãs, o reencontro com Deus. 

neste diálogo, qual é o ponto de partida de Agostinho? a gramática, dado que o filósofo procura elaborar um discurso verdadeiro. neste texto encontramos, numa primeira parte a preparação de exercícios gramaticais e linguísticos, fazendo uso do método clássico de pergunta e resposta; numa segunda parte, encontramos a exposição da verdade fundamental: a existência do mestre interior.

 

como aprende o discípulo? 

Agostinho confessa: não pode ensinar nada, pois não tem acesso à verdade interior do discípulo. o caminho é individual e exige uma reflexão íntima no interior de nós mesmos.

o mestre é interior, o mestre é Cristo. Cristo é fonte de iluminação, é verdade (ilumina a razão, ampliando a esfera do conhecimento); é caminho (ensina as verdades da salvação que se abraçam com a fé); é vida (pois habita no nosso interior). é Cristo quem permite a comunicação entre os humanos. 

 

*

 

sugestões de leitura:

- entrada na Logos sobre Santo Agostinho

- livros de Santo Agostinho: Confissões, O Mestre, A Cidade de Deus

- Em busca do Centro, de José Maria Silva Rosa 

- episódio The School of Life sobre Agostinho 

 

o audio deste episódio está disponível no twitter, basta clicar AQUI. e não é preciso ter conta no twitter para ouvir!