Conheci a Sandra e a Elsa através da Pós-Graduação da Universidade dos Açores. Trabalham na Escola Portugueesa de Macau (EPM), onde dinamizam oficinas de filosofia junto das crianças e adolescentes.
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Para acompanhar o seu trabalho, podem visitar a página de facebook do Clube de Filosofia da EPM.
Lembram-se da primeira vez que ouviste falar de filosofia para crianças?
Sandra: Sim, lembro-me como se fosse hoje. Ouvi falar pela primeira vez de Fpc em 2007, quando terminei o curso de Filosofia. Na época a área ainda era pouco conhecida e poucas escolas sabiam da sua existência. Fiquei muito curiosa, tentei saber mais sobre os seus percursores e fundamentos e achei que seria um desafio para o futuro.
Elsa: A primeira vez que ouvi falar de FpC foi através da Sandra, que já dinamizava um Clube de Filosofia juntamente com um dos nossos colegas. Interessei-me pelo projeto, pois as ferramentas de pensamento que desenvolviam eram precisamente aquelas que faltavam na generalidade dos alunos. A partir daí foi um caminho em conjunto: fizemos a Pós-Graduação em 2014/15 e, nesse mesmo ano, iniciámos a prática regular e alargada de FpC na Escola Portuguesa...até hoje!
Como é que começaram a trabalhar nesta área?
O Projeto de Fpc foi está implementado na Escola Portuguesa de Macau desde o início do ano letivo de 2013/2014. O Projeto foi muito bem recebido no seio da comunidade escolar, quer pelos professores, encarregados de educação, quer pelos alunos. A adesão tem sido muito significativa, temos crescido e trabalhamos com turmas do 1º ao 9º ano. Já se realizaram várias atividades bastante enriquecedoras, que revelam que os objetivos traçados para o Projeto estão a ser cumpridos.
Consideram que a fpc é necessária para as crianças? Porquê?
Sim, defendemos a ideia de que a Fpc é muito necessária e deve ser iniciada o mais cedo possível. A atividade do filosofar ajuda a manter vivas nas crianças e jovens a curiosidade, a disposição para investigação em conjunto e permite o desenvolvimento competências de raciocínio, comunicação, socialização e desenvolvimento do espírito crítico. Através do diálogo entre alunos, da realização de debates e de trabalhos em conjunto, a Fpc procura fomentar nos alunos a sua curiosidade natural, a capacidade de verbalizar aquilo que pensam, a sua cooperação na resolução de problemas, a respeitar a diferença sob a égide de valores morais e éticos humanos fundamentais para a felicidade, responsabilidade e liberdade individual e coletiva.
O acompanhamento deste projeto tem permitido observar que o contexto multicultural da Escola Portuguesa de Macau tem atuado como um estímulo ao desenvolvimento da linguagem, pois os participantes necessitam de enunciar, exemplificar, clarificar, definir, justificar aquilo que consideram significativo. Numa escola com estas características, a procura de significado em comunidade de investigação filosófica estimula, também, a construção do pensamento criativo através de analogias e o desenvolvimento da (contra)exemplificação. A prática do diálogo, da descoberta de conexões entre conceitos e da sua verificação através de critérios lógicos tem encorajado o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo.
Hoje em dia as crianças, em Portugal, têm muitas actividades na escola e depois da escola. Por que havemos de levar a filosofia para as escolas?
Pelas razões mencionadas acima.
A Fpc é um espaço que permite às crianças e jovens o confronto com a diferença, a descoberta da riqueza da pluralidade, a aprendizagem de como lidar com a conflitualidade e de como fazer escolhas responsáveis e consequentes no exercício da liberdade individual.
O que faz com que uma pergunta seja uma questão filosófica – do ponto de vista da fpc?
Uma pergunta que nasça do espanto, aberta à reflexão, que permita o diálogo, a investigação e a descoberta em conjunto.
Quais são os maiores desafios que a Fpc enfrenta, nos nossos dias?
Estimular a curiosidade, o diálogo dentro e fora das salas de aula e combater a conformidade, o desinteresse e a ideia de que a Filosofia não tem utilidade.
Podem dar alguns conselhos aos professores e aos pais para os ajudar a lidar com as perguntas das crianças?
Os conselhos que damos são nunca ignorar uma pergunta de uma criança, saber ouvi-la com muita atenção, dar espaço ao diálogo, quer em casa quer fora de casa e fomentar o espanto, a curiosidade e o diálogo na criança.
Alguma vez foram surpreendidas com uma pergunta de uma criança? Podem partilhar connosco que pergunta foi essa?
Sempre que participamos em sessões de filosofia para crianças surgem perguntas que nos surpreendem, seja pela profundidade que revelam, seja por quem as coloca, seja ainda pela forma como estimulam o diálogo. Estes são alguns exemplos:
- O que é que as pessoas pensam do mundo?
- Será que sonhar é pensar?
- Há regras para pensar?
- Justiça quer dizer igualdade?
- O que significa admiração?
- Qual a relação entre a raça humana e o egoísmo?
- A minha sabedoria é o teu orgulho?
- Porque temos medo de coisas de que os outros não têm?
Mas também há analogias admiráveis:
- Se eu fosse um livro, seria sempre um livro incompleto, porque começamos sempre com ideias diferentes daquelas com que terminamos.
- Se não houvesse liberdade, eras como um puzzle diferente dos outros: faltava-te a peça mais importante.
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