"Podemos dizer que é na pergunta que melhor conseguimos reconhecer o elemento da força criativa, porque, ao ser formulada e aceite como foco de diálogo, ela reforça três aspetos fundamentais do processo de inovação pedagógica.
Em primeiro lugar, a pergunta funciona como modo de abrir e dar ímpeto ao movimento de transformação. Quando se faz uma pergunta e a comunidade aceita procurar resposta para ela, estabelece- -se um compromisso com a ação, que fomenta o sentimento de esperança (Cooke, 2005). A força deste momento de partilha pode ser recuperada sempre que o processo de transformação encontra situações difíceis de ultrapassar e também quando o sucesso da transformação vem confirmar a esperança anunciada. Tanto os alunos como os professores retornavam com frequência à primeira sessão de pensamento do projeto e voltavam ao seu questionamento, mantendo a força das questões levantadas do princípio fim, como ilustra a intervenção de uma aluna que, numa sessão de avaliação, levantou a pergunta: «E agora, vai voltar tudo a ser como era?»
Em segundo lugar, a pergunta aparece como modo de promover o pensar em conjunto e a constatação de que se pensa melhor, ou de que se pode ir mais além na compreensão das coisas quando se pensa em voz alta em situação de partilha. Não há qualquer dúvida de que os professores reconheceram sem hesitação a importância de criar espaços de reflexão e questionamento na escola. Foi notória a transferência de algumas das estratégias utilizadas na dinamização das sessões de pensamento para o contexto das suas disciplinas. Foi revelador, por exemplo, o uso recorrente e sem medo da palavra «porquê?», como forma de reconhecer a individualidade de cada um na explicitação das razões subjacentes às suas diferentes opiniões.
Em terceiro lugar, e não menos importante, a pergunta possibilita o sur-gimento de opiniões contrárias que, quando exploradas em grupo, não só funcionam como fator de união – na procura e no encontro de espaços de coerência –, como convidam ao reconhecimento das contradições da vida, convocando mecanismos do foro emocional e da dinâmica das relações humanas, e promovendo uma reflexão mais profunda sobre os assuntos em questão. Por exemplo, os alunos puderam expressar as suas insatisfações relativamente ao processo pedagógico sem que isso significasse desrespeito ou desconsideração relativamente à sua relevância.
O que o projeto 10×10 evidenciou – e que se assume como um ganho incontestável para a filosofia – é que a pergunta, quando está ao serviço do processo criativo, é um lugar fundamental do pensamento."
Dina Mendonça
10x10