a comunidade de investigação a acontecer
o conceito de comunidade de investigação é algo que Lipman desenhou, pensou e promoveu no seu programa de filosofia para crianças.
não é um conceito fácil e, de acordo com a minha prática, não acontece só quando juntamos um grupo de pessoas para dialogar filosoficamente. é mais do que isso: implica tempo, integração de regras, autonomia, liberdade e responsabilidade.
acontece devagar e manifesta-se assim: quando a F. sugere que o tema da aula seja o são martinho. disse que não havia qualquer problema, desde que ela conseguisse trabalhar o tema do são martinho de forma "filósofa" (é um termo que este grupo usa para designar coisas filosóficas). e assim foi:
o A. sugeriu uma pergunta "por que é que as castanhas são castanhas?" e sugeriu que a considerássemos como pergunta filosófica (= pergunta que tem que ter mais do que uma resposta e que não conseguimos responder logo). pedi ao A. que desse mais do que uma resposta para defender a sua ideia (aquela pergunta é "filósofa"). e assim foi. surgiram 3 perguntas e uma delas causou alguma estranheza no grupo. a C. disse, até, que "não faz sentido". fomos investigar. e isso implicou analisar cascas de castanhas, procurar um livro na biblioteca da escola sobre ouriços e perceber de onde vêm as castanhas.
a dada altura, a F. assume o meu lugar e começa a perguntar:
"quem concorda com... põe o dedo no ar?"
"quem não concorda com... põe o dedo no ar?"
"ó R. mas por que é que não concordas?"
e eis que senti, pela primeira vez neste grupo, a comunidade de investigação a nascer... e que bom que é!