desenhar "o batman, ele próprio"
"joana, hoje não desenhei o batman da #filosofia!"
então, qual é que desenhaste?
"desenhei o batman, ele próprio"
e o V. não fez só isso. a meio de uma ficha à qual o grupo estava a responder, o C. assinalou a estranheza do I. ter uma opinião diferente da dele. o V. nem hesitou:
- ó C., mas isso é normal. cada um tem a sua opinião, está sempre a acontecer.
e foi aí que a aula aconteceu, no verdadeiro sentido da palavra: o V. tornou claro um dos princípios básicos da filosofia para crianças: cada um tem o direito a ter uma opinião diferente, um olhar diferente sobre uma mesma coisa. acontece é que, nas aulas de filosofia, somos chamados a justificar, a dar razões para a nossa opinião, perante os amigos.
depois de 20 minutos a falar sobre a nova regra de "idas à casa-de-banho", de a testar e de avançarmos para a ficha de auto-avaliação, este momento fez com que a aula tivesse atingido um momento de, vamos chamar-lhe assim, sucesso: a comunidade de investigação, que está a construir-se, semana a semana, a auto-regular-se e a defender as atitudes filosóficas.
ah! e sobre a regra da casa-de-banho... não foi possível implementá-la.
sugeri que houvesse um sinal na porta, para que deixasse de haver dedos no ar para perguntar se podem ir à casa-de-banho. um sinal de LIVRE e de OCUPADO. é só olhar para a porta e verificar se podemos ir ou não. uma pessoa de cada vez e sem se atropelarem, disse eu. e se atrapalhar mais do que os dedos no ar, implementamos uma regra nova: não são permitidas as idas à casa-de-banho durante a aula. a excitação foi tal, que se geraram atropelos e ruído em demasia. o sinal foi arrumado na minha mochila e mais ninguém saiu da sala para ir à casa-de-banho.
para a semana volto a experimentar o uso do sinal, na porta. aprender a gerir a nossa liberdade e a responsabilidade nem sempre é fácil. é (também) para isso que existem as aulas de filosofia - as minhas, pelo menos. e isso implica dar dois passos em frente, por vezes recuar, andar um bocadinho para o lado até acertarmos o compasso da comunidade de investigação. e demora, sim, demora.
eu não tenho pressa: até lá, o V. surpreende-me com desenhos do "Batman, ele próprio" e o F. defende que "fazer muitas perguntas é bom porque quer dizer que estamos vivos" - e eu deliro, e muito com estas coisas.