note-se: esta ficha de auto-avaliação não exige que se diga o porquê
a I. insiste. ao longo do ano tem vindo a demorar-se mais nas escolhas, a reflectir mais neste momento. e agora não dispensa estes comentários, a justificar-se
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a I. insiste. ao longo do ano tem vindo a demorar-se mais nas escolhas, a reflectir mais neste momento. e agora não dispensa estes comentários, a justificar-se
Finalmente a Primavera chegou e até nos contemplou com um dia de sol. Ok, um dia e meio, para ser mais precisa. E com os dias mais compridos sabe bem passear no jardim. O meu jardim preferido, aqui na aldeia, é mesmo o jardim de Epicuro que, na verdade, é uma horta. Deve ser por isso que gosto tanto deste jardim: nele posso observar o ciclo da vida e ainda oiço e participo nas conversas entre Epicuro e os seus alunos da escola, conhecidos como os filósofos do jardim.
E é nessa altura que coloco em prática uma espécie de terapia, da qual falava há dias com uma amiga ao telefone. Ela dizia-me «é importante rodeares-te de pessoas boas e positivas, porque hoje em dia é muito fácil deixar-se contagiar pelo negativo e pelo medo». Tens razão, Sofia. Tens toda a razão, respondi-lhe. Por isso, aproveitei o sol para visitar o jardim e para colocar em prática a logoterapia, ou terapia pelo discurso.
Deus não é um papão, nada há a temer, dizia Epicuro, enquanto apanhava folhas de couve que serviriam para a sopa, ao jantar. E também não há nada a temer contra a morte, porque é algo natural, acrescentou.
Epicuro e as suas palavras fazem-me lembrar as abelhas e a forma como encaram a vida: trabalham muito, de forma até bastante rigorosa, mas conseguem extrair o melhor da vida (e o mais doce, o mel). O filósofo de Samos surge num contexto muito difícil, de crise, de instabilidade [tão actual, não acham?] e tem o desplante de defender o prazer como finalidade da vida. Dirigi-me a ele, contei-lhe da minha conversa com a Sofia. Epicuro, não é nada fácil pensar em prazer numa conjuntura destas. E sabes bem como os profetas do terror andam aí a contagiar tudo e todos, disse-lhe.
Joana, eu não tenho uma visão política do mundo, respondeu Epicuro, com um molho de nabos na mão [deliciosa esta associação entre política e nabos]. O importante é cuidares da cidade interior, da tua alma e procurar ser feliz. Usufrui da vida, daquilo que ela te dá, desta horta e do sol. Não cedas perante desejos vãos [eish, Epicuro, queres com isto dizer que não posso comprar aquela mala tãaaaao gira? Ok, pronto] e procura a justa medida. E pelo caminho, espreita aí no Borda d’Água se já é tempo de plantar os morangueiros.
Peguei no Borda d’Água e confirmei: é tempo de plantar morangueiros, espargos. Na verdade, Epicuro, há muito por onde escolher: abóboras, batatas, beterraba, melancia e tomate. Abril é um excelente mês para estas coisas hortícolas do semear, do plantar, para mais tarde colher. E usufruir, saborear aquilo que a terra nos dá; aproveitar os raios de sol para ganhar cor e energia para o dia a dia. Por falar em cor e energia, reparei que é altura para semear girassóis. Epicuro, descansa, tenho lá em casa muitas sementes. Joana, és uma boa amiga, disse-me o filósofo, venham daí essas sementes!
No final do dia, liguei à Sofia e contei-lhe da minha visita à horta epicurista. Falámos dos filhos, do pó, do monte de roupa para engomar. Falámos das dificuldades do dia a dia e da vontade em que as coisas fossem diferentes. De como queremos ver as pessoas de quem gostamos com um sorriso no rosto. Como sempre, despedi-me com um até já, Sofia.
Tenho aprendido muito com as minhas visitas ao jardim de Epicuro; aprendi, sobretudo, que a amizade nos permite gozar a nossa própria existência. Permite-nos ser felizes. E sorrir. Obrigada, Epicuro, visitar-te é sempre um prazer!
crónica originalmente publicada na revista online Papel
"O Dia Internacional do Brincar celebra o artigo 31º da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, reforçando que Brincar é um direito. Relembra que o Brincar é uma fonte inesgotável de alegria, uma atividade fundamental para o desenvolvimento do ser humano, essencial para a saúde física e mental."
“O que eu prevejo não é um evento ou série de eventos, nem nada que envolva preparativos dispendiosos (ou presentes caros). A essência do Brincar é infantil. É o que todas as crianças fazem naturalmente. O “Dia Internacional do Brincar” deve ser um dia de atenção total ao outro, entre gerações. Um dia no qual as crianças e os adultos fazem o que querem. Um dia relaxante, que enfatiza as relações interpessoais. Não é preciso parar o mundo por um dia. Nós brincamos e jogamos na nossa casa, escola ou local de trabalho. Talvez esteja a descrever uma atitude e não uma atividade. Um dia divertido, que estimula a interação entre adultos e crianças, promovendo o crescimento saudável de ambos. Se todos conseguirmos fazer isto, todos os anos no mesmo dia, em diferentes partes do mundo, teremos o Dia Internacional do Brincar”.
Os dias quentes chegaram à aldeia. Finalmente, diga-se de passagem. Já tínhamos saudades do calor e, sobretudo, das noites quentes. Como dizia um amigo, o Pedro, o bom dos dias de muito calor traduz-se mesmo nas noites quentes, que permitem estar na rua até às tantas a filosofar com os amigos e um copo de vinho.
Numa dessas noites tive a visita do Diógenes de Sínope. Uma figura controversa na aldeia (e fora dela, diga-se de passagem). É conhecido por andar pelas ruas da aldeia, em pleno dia, com uma lanterna acesa, à procura da humanidade. É ireverente e conhecido por viver numa ânfora de barro e de ter consigo um ou dois pertences. Há quem diga que ele, simplesmente, não tem vergonha na cara. Para mim, é um verdadeiro provocador. As suas provocações têm como fim último levar-nos a colocar em causa aquilo que tomamos como dado adquirido.
Boa noite, Diógenes, senta-te e toma um refresco, disse-lhe quando o vi aproximar-se da minha rua. Vinha acompanhado de Crates, o seu discípulo a quem chamávamos de Abre-Portas; tal “alcunha” devia-se ao facto de ter o hábito de entrar pelas casas adentro, sem tocar à campaínha, para partilhar as suas frases. Quando vejo o Crates nas redondezas, deixo logo a porta encostada, para lhe poupar trabalho.
Diógenes, o que achas disto? Imagina que o mundo é dividido em dois grandes grupos: o grupo dos paralisados e o grupo dos precipitados. Os primeiros são aqueles que simplesmente não manifestam qualquer tipo de pensamento, que se fecham em conchas e erguem muros à sua volta. «Não incomodar», é a inscrição que eles têm à porta.
[Diógenes olhava para mim com um ar curioso, enquanto Crates se deliciava com uma bebida fresca]
Já os precipitados têm sempre qualquer coisa a dizer sobre o que quer que seja. Parecem aqueles meninos e meninas na sala de aula que, ainda nós estamos a começar a pergunta, já têm o braço no ar para responder. Queria tentar perceber se era possível encontrar pessoas que fossem uma espécie de caminho do meio entre os paralisados e os precipitados.
Não sou a pessoa indicada para te ajudar, Joana, bem sabes como ando por aí fora em busca de homens e só encontro desperdícios, desabafou Diógenes. Não me contento com respostas do tipo talvez, depende, assim assim ou mais ou menos. Acho mesmo que a vida fica muito complicada quando há hesitações e cinzentos entre o preto e branco. Dificulta-nos a vida e faz-nos pensar em demasia.
A conversa continuou, assumindo um registo de humor tão característico de Diógenes. Quando se acabou o refresco, acabou-se a conversa. Não quero ficar com sede, por isso volto amanhã para conversar, disse-me Diógenes. Encolhi os ombros e disse até amanhã. Ele e Crates seguiram, em silêncio, pela rua fora. Arrumei a mesa que tinha no quintal e troquei a conversa por um livro.
Há uma história curiosa sobre Diógenes: uma vez, ele ia a entrar no teatro, já a peça estava no final. Cruzou-se, assim, com as pessoas que iam a sair. Alguém lhe perguntou Diógenes, porque entras em contracorrente?. E Diógenes respondeu de forma simples, Ora, para que todos possam compreender o que fiz durante toda a minha vida.
crónica originalmente publicada na revista online Papel
a K. pediu para falar comigo a sós. procurámos um sítio na escola para conversar.
K: Joana, a filosofia serve para resolver problemas, não é?
eu: sim, também.
K: é assim, eu tenho um problema e acho que a conversar contigo posso resolver.
e estivemos as duas à conversa. acho que a K. vai conseguir resolver o problema dela - hoje, não, mas nos próximos dias.
é que esta coisa do sentido da vida não é uma coisa que se resolva assim, de um momento para o outro
...a amadurecer, a olhos vistos
(e só temos mais uma aula até ao final do ano lectivo. e há tantas coisas que queremos fazer: continuar o Hospital das Bonecas, o jogo das mentiras, o jogo dos contras, o jogo do galo filosófico... e apenas UMA HORA!)
no dia 30 de maio voltamos ao espaço atmosfera M, em Lisboa (rua castilho), para filosofar com pais e filhos
- oficina aberta a pais* e filhos (crianças entre os 4 e os 10 anos de idades)
15h-15h50 - crianças dos 4 aos 6 anos
16h-16h50 - crianças dos 7 aos 10 anos
mais informações: atmosferam.lisboa@montepio
grátis para associados Montepio
2,5 € para não associados
*ou avô, tio, padrinho, irmão mais velho :)
perguntava-me uma das técnicas da AEC de filosofia que estou a coordenar e a supervisionar.
gostava sim - e não perco uma oportunidade para fazer isso.
aquele momento em que desenhas os símbolos do homem e da mulher (marte e vénus) e o teu aluno do 4º ano olha e diz:
- esse aí (aponta para vénus) é o símbolo do mulherismo, não é?
e a próxima oficina acontece já no próximo sábado, no espaço atmosfera M, em Lisboa (rua castilho,5)
inscrições e informações: atmosferam.lisboa@montepio.pt