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a filosofia para crianças está (ainda) longe de ser um assunto pacífico. a própria filosofia também está longe de ser um assunto pacífico - parece-me natural que o mesmo aconteça à filosofia para crianças.
as metodologias vão muitas vezes DE encontro àquilo que acontece em sala de aula e o choque acontece. os meninos são os primeiros a sentir quando lhes é pedido que descubram, inventem, procurem, investiguem respostas em vez de lhes mostrarmos qual é a resposta certa.
os pais. os pais também estranham: mas afinal do que é que se fala nas aulas? às vezes de coisas como "o que é uma pessoa", "os bonecos têm vida". joga-se aos "se". faz-se teatro a partir de perguntas. brinca-se com perguntas que aparecem em forma de cartas do baralho. temos um caderno onde podemos escrever aquilo que queremos. e os conteúdos? e a avaliação? e os critérios de avaliação? e o que significa aquele "não satisfaz"'? e o que é aquele "muito bom"? dizer que a criança revela pouco sentido crítico significa dizer que não tem sentido crítico? qual é o peso da avaliação na forma de entendimento da aec por parte das crianças?
os professores também estranham.
os outros colegas da filosofia também estranham.
faz parte do processo. enquanto a filosofia para crianças não se constituir como uma disciplina curricular, com um programa definido, com regulamentação a nível da formação - o caminho será sempre menos fácil para quem está no terreno.
ficam as palavras de quem saúda o facto de haver filosofia para crianças, nas escolas públicas - as vozes da discórdia terão sempre lugar e com essas temos que aprender a lidar, esclarecendo, exemplificando, abrindo as portas para que entrem, estranhem e entranhem.
há dias um pai queixava-se que o seu filho não gostava das aulas de filosofia. "é uma seca", diz ele. esta noção de que os meninos só podem fazer aquilo que gostam parece-me demasiado cor de rosa e não os prepara para uma realidade onde temos que fazer coisas de que gostamos e coisas das quais não gostamos. não posso prometer a este pai ou a outro qualquer que os seus filhos vão gostar, sempre, do princípio ao fim, das minhas aulas. posso comprometer-me com as metodologias e com a relação de confiança que cultivo nas aulas, e que lhes dá espaço para que eles possam dizer o que gostam, o que não gostam, o que aprendem e o que sentem - desde que saibam dizer "porquê".