a origem / de onde vêm as coisas ?
a propósito das leituras do Hospital das Bonecas e pelo facto de terem surgido perguntas em torno da origem das bonecas (de onde vêm?), resolvi fazer um jogo com cartas. cada uma delas tinha coisas tão diferentes como
o tempo
a Terra
uma borboleta
um carrinho de brincar
quatro alunos escolheram cartas, aleatoriamente e foi a partir daí que desenhamos esta investigação. alguns meninos pensaram em casa, outros na aula. uns traziam respostas, outros não. "não há problema, estamos aqui para dialogar e investigar em conjunto".
tive a sorte de ter calhado uma escolha aleatória que ilustra bem aquilo que se pretende numa aula de filosofia para crianças. as questões "carrinhos de brincar" e "borboleta" foram as que ofereceram menos aprofundamento no diálogo, pelo facto dos alunos não consideraram muitas hipóteses. já o tempo e a Terra (escrevi em maiúsculas propositadamente para que fosse claro que era o planeta) foram alvo de longos diálogos. a dada altura, o diálogo acontecia de forma autónoma, sem a minha intervenção (apenas uma ou outra chamada de atenção para pedir silêncio ao resto do grupo).
no caso do tempo e da Terra, o A. acabou por repetir várias vezes "isto é só uma ideia que eu tenho, pois eu acho que os cientistas também não têm grandes certezas. há várias respostas".
inevitavelmente, surgiu a questão de deus. deus terá criado a Terra? "então é possível que tenha sido deus a criar o big bang", dizia o A. em resposta ao G., que introduziu o tema do Big Bang como a origem da Terra e do mundo!
o A. disse, em voz baixa, para a M. "eu acho que deus criou a terra e como não quis que ela ficasse sozinha, mandou o Adão"
no final, questionei os alunos sobre qual dos temas tinha sido mais fácil e mais difícil de trabalhar.
é importante que as crianças experimentem estas diferenças, no seio do diálogo, para que possam saborear as "perguntas que fazem falar" - para usar uma expressão da Dina Mendonça.
cabe ao facilitador atender às questões e problemas "que fazem falar" de forma a que o aprofundamento filosófico aconteça e não fiquemos pela simples "conversa de café", em que os temas são abordados de forma superficial. acreditem que as crianças tiram mais partido do diálogo, do aprofundamento e acabam por abandonar as outras perguntas ou problemas "mais fáceis", consideraram-mas "menos interessantes".
(exercício realizado com turma do 3º ano, 1º ciclo,
baseado no manual de apoio do Hospital das Bonecas, de Ann Sharp)