13 de Outubro, 2013
assim, mas sem ser assim | Afonso Cruz
joana rita sousa / filocriatividade
Afonso Cruz é um escritor que descobri quando "tropecei" no título Jesus Cristo bebia cerveja. Ou terá sido através de uma música dos The Soaked Lamb? confesso que não sei precisar o momento ou o motivo, mas sei que o encontro tem sido muito feliz. o Afonso fala-me ao coração quando dedica linhas aos meus amigos da "aldeia Filosofia", o Heraclito ou o Platão - isso é meio caminho andado para me "conquistar" sobretudo quando se faz de uma forma interrogativa. li no Jornal de Letras sobre o seu fascínio sobre o perguntar. delicio-me com as estórias que descubro na enciclopédia da história universal. amei O Livro do Ano.
há dias assisti ao lançamento do livro assim, mas sem ser assim. um livro para crianças (Será?). um livro onde a comunicação é a base para os (des)encontros de um menino com as pessoas que moram num dado prédio. a apresentação foi feita no Largo do Intendente e contou com a presença da Fernanda Freitas e do Pedro Barbeitos, que fez a leitura integral do livro. e mais uma vez rendi-me às suas palavras, pela sabedoria interrogativa que as percorre, pelo olhar simples e simultaneamente complexo com que o Afonso escreve e nos convoca para o que está à nossa volta.
às vezes acho que o Afonso me entra pelo pensamento adentro e me rouba fragmentos de coisas que penso e sinto. eu tenho um baú de aforismos guardado algures e o Afonso tem essa capacidade de os descobrir primeiro do que eu.
lembro-me de uma oficina de filosofia para crianças em que um menino acusou o professor de ser um "ladrão de pensamentos".
é isso que sinto em relação a ti, Afonso, sem que me sinta ofendida ou sequer incomodada por isso. é maravilhoso ver aquele pensamento que habita num baú a ganhar realidade numa folha, num livro, que se pode cheirar e tocar, sublinhar e abraçar.
«Há quem diga que, quando voltamos a ler um livro, anos depois, não é o mesmo livro. É um fenómeno caro a Heraclito. A teoria diz que nós mudamos, aprendemos mais e quando relemos, fazemo-lo com outros olhos, mais experientas, mais sábios. Mas há a possibilidade, é só uma teoria, de, quando se fecha um livro numa prateleira, ele, febrilmente, trocar as suas próprias letras, tal como nós renovamos o sangue e vamos crescendo.»
(O cavaleiro ainda persegue/a mesma donzela, Afonso Cruz)